O compositor foi parceiro de Milton Nascimento em mais de 200 músicas
Um dos fundadores do Clube da Esquina e parceiro de Milton Nascimento em clássicos como ‘Travessia’
Fernando Brant, compositor e parceiro de Milton Nascimento. (Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo (08.03.2006)
Fernando Brant (Caldas, 9 de outubro de 1946 – Belo Horizonte, 12 de junho de 2015), músico, jornalista e escritor.
O músico e compositor era um dos principais parceiros de Milton Nascimento, com quem compôs mais de 200 músicas, e foi um dos fundadores do movimento Clube da Esquina
Mineiro de Caldas, no Sul de Minas, Brant era filho do juiz Moacyr Brant e da dona de casa Yolanda Brant. A família mudou-se quando ele tinha 5 anos para Diamantina, cidade que inspirou alguns de seus clássicos como “Beco do Mota” e “Paisagem da janela”, além de temas do espetáculo de dança Maria, Maria. Aos 10, os Brant foram para a capital mineira.
Brant se formou em direito, pela Universidade Federal da Minas Gerais. Trabalhou como repórter da revista Cruzeiro. Mas foi como poeta e compositor (por insistência do amigo Milton Nascimento, para que escrevesse letras para suas melodias) que viveu.
No anos 1960, Brant participou da fundação do Clube de Esquina, movimento musical de jovens mineiros que mesclava as inovações da bossa nova a elementos do jazz e do rock’n’roll. Em 1972, Brant foi um dos músicos que participaram do clássico disco Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges.
Brant tornou-se conhecido na MPB por conta de sua parceria com Milton Nascimento, com quem compôs mais de duas centenas de músicas, entre elas “Travessia”.
A amizade foi um divisor de águas na vida dos dois. Um encontro mágico. Fernando Brant e Milton Nascimento se conheceram nos idos de 1960. Logo depois, Milton convenceu o parceiro a escrever a letra de sua primeira música: “Travessia” surgiu em 1967 e foi um estouro. No mesmo ano, ficou com o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio. A carreira do cantor mineiro decolou, e o parceiro de fé sempre esteve por perto.
Mas Fernando Brant era múltiplo. Seu envolvimento com música e literatura vinha desde o curso de direito. Em 1969, começou a trabalhar como jornalista na revista “O Cruzeiro”. Antes, ainda como universitário, foi escrivão no Juizado de Menores de Belo Horizonte.
Os anos 1960 foram pródigos e marcariam profundamente a história da música popular brasileira. Em Belo Horizonte, Brant e amigos lançaram um projeto que viria a ser a pedra fundamental do Clube da Esquina. Ao lado de Milton e Brant, estavam nomes como Lô Borges, Tavinho Moura, Beto Guedes, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso e Flávio Venturini, entre outros. A produção profícua de mais de 200 músicas que saiu dali é um passeio por clássicos como “Sentinela”, “Saudade dos aviões da Panair (conversando no bar)”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Para Lennon e McCartney”, “Canção da América” e “Nos bailes da vida”, só para citar alguns.
INFLUÊNCIA DO RÁDIO
O gênio que se tornaria o principal letrista de Milton Nascimento nasceu no interior de Minas Gerais, em Caldas, em 9 de outubro de 1946. Fernando Rocha Brant mudou-se, aos 5 anos, para Diamantina e, aos 10, para Belo Horizonte, onde passou o resto de sua infância e adolescência.
Numa entrevista ao site do projeto Museu Clube da Esquina, Brant falou da importância de suas raízes na sua trajetória musical. “O meu pai gostava de música. Ouvia muito rádio, que tocava música boa da pré-bossa nova. Tito Madi, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos. Então eu acompanhava essas coisas, lia jornais também. A primeira vitrola que chegou em casa foi o meu irmão mais velho que comprou, que também trouxe os discos de música americana e já também do começo da bossa nova. Quer dizer, foi aos pouquinhos. Primeiro através do rádio. Se bem que desde pequeno, lá em Diamantina, ouvia muito a Rádio Nacional, porque a Rádio Nacional era a TV Globo da época, então todo mundo ouvia”, contou ele em um dos trechos.
Em outro momento, o letrista discorreu sobre a dimensão humanística da música: “Eu acho difícil a música não entrar na vida da gente. A música, essa que a gente vai ouvindo, é trilha sonora da vida da gente. De Diamantina, eu lembro de uma música que era assim: ‘Era de madrugada, ia raiando o dia/ Quando em minha casa bateu Maria’. Era um samba que tocava na Rádio Nacional.”
Entre as mais de 200 parcerias de Brant com Milton Nascimento, estão:
“Travessia” (a primeira parceria)
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
“Maria Maria”
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
“Canção da América”
Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
“Nos bailes da vida”
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se for assim, assim será
Cantando me disfarço e não me canso
de viver nem de cantar
Fernando Brant morreu em 12 de junho de 2015, aos 68 anos, em Belo Horizonte, vítima de complicações decorrentes de um transplante de fígado.
Há três anos, Brant foi diagnosticado com câncer no fígado e se submeteu a uma cirurgia para retirada do tumor. Mas novos tumores foram descobertos este ano. De acordo com a irmã dele, Ana Brant, o letrista passou por uma cirurgia que precisou ser refeita cerca de 48 horas depois. Na terça-feira passada, foi submetido, no Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, ao primeiro transplante do órgão, mas houve rejeição. Uma das artérias do fígado entupiu, necrosando o órgão e liberando toxinas no organismo. Os médicos buscaram novo doador e, na madrugada de sexta-feira, Brant foi mais uma vez operado para um segundo transplante. Ao longo do dia, seu estado se agravou.
Pelas redes sociais, alguns artistas e amigos já se manifestavam sobre a morte do músico. Vermelho, tecladista do grupo 14 Bis, postou uma homenagem a Brant, citando os famosos versos do músico em “Canção da América” em sua página no Facebook: “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Fernando Brant, parceiro querido de tantas belas canções, partiu em sua travessia para outra vida. Um menino, um moleque morando sempre em nosso coração…” Pelo Twitter, Lô Borges, seu parceiro do Clube da Esquina, lamentou a morte: “Meus sentimentos à família desse grande e querido parceiro e amigo, Fernando Brant”. Já o senador Aécio Neves (PSDB) escreveu, em sua página no Facebook, que o compositor era um “grande poeta. Grande brasileiro”: “Com muita tristeza, faço silêncio neste momento, manifestando a minha homenagem e enviando, com emoção, o meu abraço à sua família”.
(Fonte: http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/06 – REDAÇÃO ÉPOCA – 13/06/2015)
(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/musica -16436555 – CULTURA – MÚSICA – POR O GLOBO – 12/06/2015)
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