A primeira UTI brasileira
A dama do Sírio-Libanês Violeta Jafet, completou 100 anos, transformou o hospital da colônia árabe de São Paulo em referência internacional.
Na última eleição interna, em 2006, Violeta se afastou da presidência executiva da Sociedade. A gestão foi profissionalizada, mas ela continua a par de tudo e marca presença nas reuniões.
A missão de Violeta é manter vivo o espírito filantrópico que fez nascer o projeto do hospital em 1921, quando ela tinha 13 anos e sua mãe, a libanesa Adma Jafet, recolheu os primeiros contos de réis com a ajuda de amigas da colônia árabe. Enquanto o pai de Violeta, o industrial Basílio Jafet, ficava conhecido por urbanizar o bairro Ipiranga e vender produtos têxteis na Rua 25 de Março, a mãe buscava doações e aliados. Violeta lembra-se de Adma como uma mulher culta, que se casou no Líbano aos 15 anos com Basílio, duas décadas mais velho, e chegou ao Brasil já tendo traduzido um livro do russo para o árabe. Ela e a irmã, Angela (1912-2000), aprenderam piano e idiomas em casa, com professores particulares.
A história do Sírio-Libanês está toda registrada em suas paredes, num memorial que não deixa esquecer os nomes por trás de cada tijolo. Quando o primeiro edifício ficou pronto, 20 anos depois da primeira arrecadação de fundos, o governo paulista se apropriou do imóvel e ali instalou uma escola de cadetes. Adma batalhou por anos para recuperá-lo. Sem êxito, morreu do coração em 1956. Violeta achou injusto. Tomou o braço do genro Lourenço Chohfi, seu parceiro na causa, e percorreu quartéis para tentar amolecer políticos e obter o prédio de volta. Aproveitou a visão do então governador Jânio Quadros e a influência de outro Jafet, Ricardo, então presidente do Banco do Brasil, para finalmente conseguir resgatar a propriedade, em 1959. Mas o edifício já estava desgastado e impróprio para o atendimento médico necessário numa São Paulo bem maior e mais moderna que a de 1921. O novo prédio do hospital foi inaugurado em 1965.
Cumpridos os papéis de esposa, mãe e dona de casa, já viúva (o marido, Chedid, um industrial do ramo têxtil, morrera do coração em 1957) e com quatro filhos adultos Basílio, Beatriz, Denise e Irene-, Violeta começava uma nova jornada para transformar o Sírio-Libanês num hospital de vanguarda. Foi ali que se fez a primeira UTI brasileira, entre diversas outras inovações, muitas devidas ao trabalho do diretor-clínico Daher Cutait (1913-2001).
É ela quem envolve as pessoas para o trabalho. É indiscutivelmente um ícone, um mito, uma personalidade.
Nunca sonhei que chegaria aos 100 anos. Só posso recomendar sobriedade. Não comer demais, nem se divertir demais. E, é claro, trabalhar. Quando a gente ama um trabalho e se dedica a ele, e não a qualquer trabalho, esquece o tempo que passou.
(Fonte: Época N° 508 11 de fevereiro 2008 Editora Globo – Sociedade Perfil Francine Lima Pág; 80/81)