Desenvolveu os primeiros cartões de crédito

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Desenvolveu os primeiros cartões de crédito

Projetou a primeira impressora a laser

Robert Metcalfe, engenheiro elétrico, é um daqueles sujeitos do Vale do Silício cujo nome se confunde com a revolução da internet. Tem um currículo espantoso. Formou-se – quase simultaneamente – em administração e engenharia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Em Harvard, fez mestrado em matemática aplicada e doutorado em ciência da computação. Não ficou na teoria. Em 22 de maio de 1973, criou oficialmente a Ethernet, o método de conexão mais usado para a formação de redes locais de computadores.
Metcalfe, que fez fortuna ao fundar a empresa 3Com, é autor de uma lei da informática segundo a qual o valor de uma rede (como a internet) cresce na proporção do quadrado do número de seus usuários. A fórmula é contestada, mas ele a defende: “A questão não é a matemática, e sim a idéia de quer o valor de uma rede seguirá crescendo muito rápido e para sempre”.
Metcalfe é sócio da empresa de capital de risco Polaris, que investe bilhões de dólares em mais de noventa companhias que investem em setores como a biotecnologia e a indústria farmacêutica.
A idéia de criar a Ethernet surgiu após ter acabado de chegar da Califórnia, depois de estar na casa de um amigo, em Washington. Ao pegar na prateleira um livro sobre a conferência da American Federation of Information Processing Societies (Afips), realizada em 1970. Leu o artigo de Norman Abramson sobre a Aloha Network, um sistema de rede. Resolveu adaptar aquele modelo, que pareceu muito simples. Foi assim que começou a nascer a Ethernet. Surgiu da adversidade de Harvard. Coincidentemente, naquele tempo trabalhava na Xerox, no laboratório de Palo Alto. Ali, teve a tarefa de criar uma solução que permitisse aos computadores se conectar entre si e compartilhar as impressoras a laser, que, então eram uma novidade.
Não se sentia muito confortável na Xerox. Eles não gostavam da minha ambição de inventar algo que vendesse 1 milhão de unidades. Mas teve sorte. Chegou lá para assumir a missão de Charles Simonyi (um dos pais do Microsoft Office) de colocar os computadores em rede. O projeto dele, o SIGnet, era muito complicado e foi abandonado.
Ficou oito anos na Xerox, onde juntamente com o engenheiro Ron Rider trabalharam no projeto da primeira impressora a laser, em 1974, no lendário laboratório da Xerox, em Palo Alto, saiu porque havia chegado sua vez de abrir uma companhia. Era assim que funcionava no Vale do Silício. Fez um intervalo no meio de sete meses, em que trabalhou no Citibank, onde desenvolveu os primeiros cartões de crédito. Não ficou rico por ter criado a Ethernet, mas por vendê-la. A Ethernet tinha vantagens em relação as concorrentes, mas isso não teria feito a mínima diferença se não tivesse se tornado um ótimo vendedor. No MIT, aprendeu a ser empreendedor e num curso da Xerox conheceu as técnicas de venda.
A Ethernet não teria sido um sucesso se não tivesse se tornado um padrão aberto. Em fevereiro de 1979, Gordon Bell, então vice-presidente de engenharia da Digital Equipment Corporation (DEC), a segunda maior empresa de computadores do mundo na época (a primeira era a IBM), lhe pediu para desenvolver um modelo de Ethernet ainda não patenteado pela Xerox. A Intel buscava uma nova tecnologia para um chip. Sugeriu que as três empresas (DEC, Xerox e Intel) criassem um consórcio.
Em razão das leis antitruste, isso só poderia ser feito caso o objetivo da união fosse criar um padrão aberto de tecnologia.
Em maio de 1979, ficou claro que o consórcio criaria o padrão. Em 4 de junho, fundou a empresa 3Com, para atender o consórcio. Naquela semana, um cara de quem nunca havia ouvido falar, chamado Steve Jobs,ligou-lhe para oferecer a oportunidade de desenvolver a Ethernet para a Apple – empresa que também não conhecia.
Preferiu desenvolver pela sua própria empresa e sugeriu que ele comprasse o sistema dela, o que de fato, aconteceu. Ficou na 3Com por onze anos. Resolveu sair quando foi preterido por duas vezes consecutivas para ocupar o posto de CEO. Em seguida, recebeu proposta, para ser Publisher da InfoWorld, uma revista que, de 50 milhões de dólares, passou a valer 100 milhões em dois anos. Ganhou uma coluna semanal, que manteve por oito anos.
Acabou ganhando 1 milhão de leitores todas as semanas e 1 milhão de dólares por ano. Não só pelas colunas, mas pelas palestras que apresentou em decorrência delas. Ganhou o prêmio de jornalismo do museu The Exploratorium, em São Francisco, por ajudar o público a compreender a ciência.
Numa de suas colunas, previu que a internet entraria em colapso em 1996, pelo excesso de tráfego de dados. Tecnicamente, não estava totalmente errado, pois tinha previsto um colapso no qual, se multiplicassem o número de usuários por horas, haveria uma perda de 1 bilhão de horas de uso da rede. O problema aconteceu, mas o impacto foi menor do que o estimado por Metcalfe. Esse erro se tornou um dos seus maiores sucessos, numa fantástica proeza publicitária. Ficou mais conhecido por ter feito uma previsão errada do que por ter criado a Ethernet.
Em 2005, foi a Casa Branca receber a Medalha Nacional de Tecnologia. Onde assegura que foi o seu grande momento de sua vida, seu maior momento de sucesso.

(Fonte: Veja Especial Tecnologia, setembro, 2008 – Ano 41 – Edição 2078 – Editora Abril – Entrevista – Lia Luz, de Boston – Pág; 48 a 51)

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