Ieng Thirith, a ‘ex-primeira-dama’ do regime cambojano do Khmer Vermelho
A ex-primeira-dama do regime cambojano do Khmer Vermelho influenciou a ‘Kampuchea democrática’, que provocou dois milhões de mortes, institucionalizou os casamentos forçados, separou as famílias e aboliu a educação. Foi julgada por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade.
Ieng Thirith, filha de um juiz e integrante da alta sociedade cambojana, estudou Literatura na Universidade Sorbonne de Paris, teve uma influência notável na direção da “Kampuchea democrática”, que provocou dois milhões de mortes, institucionalizou os casamentos forçados, separou as famílias e aboliu a educação.
Em sua época de estudante em Paris ela conheceu o seu futuro marido, Ieng Sary, que frequentava os círculos marxistas do movimento anticolonialista.
O processo contra ela foi suspenso em 2012, depois que o tribunal considerou que ela não estava apta para ser julgada por sofrer de demência.
“Ieng Thirith permaneceu sob controle judicial até sua morte”, afirmou o tribunal em um comunicado.
Seu marido, Ieng Sary, falecido em 2013 aos 87 anos, foi ministro das Relações Exteriores do regime. A própria Ieng Thirith foi ministra de Assuntos Sociais.
Sua irmã, Kieu Ponnary, foi casada com Pol Pot, líder do regime. Por este motivo, ela deveria ter atuado como “primeira-dama”, mas como sofreu desde cedo com distúrbios mentais, correspondeu a Ieng Thirith a duvidosa honra de ser considerada a “primeira-dama” do regime do Khmer Vermelho.
No poder entre 1975 e 1979, o Khmer Vermelho matou, em nome de uma utopia marxista, dois milhões de cambojanos, o que representava 25% da população do país. A maioria morreu por cansaço, fome doença, torturas e execuções.
Poder a nível nacional
“Ieng Thirith não era uma mulher passiva que se vinculou ao Khmer Vermelho apenas por seu status de esposa de Ieng Sary e cunhada de Pol Pot”, afirmou Youk Chhang, diretor do Centro de Documentação do Camboja.
“Era um membro importante do partido que exercia um poder a nível nacional” completou.
Até o fim, e inclusive muito tempo depois da queda do Khmer Vermelho, ela defendeu o balanço do regime, rejeitando qualquer responsabilidade nos crimes atribuídos e recusando qualquer tipo de colaboração com a justiça.
Em 2007, após a criação do tribunal internacional, foi detida com o marido em sua residência luxuosa de Phnom Penh. Em 2009, apesar de muito debilitada, teve força suficiente para proferir uma diatribe contra os juízes, aos quais ameaçou com “os sete círculos do inferno” se fosse acusada de ser uma assassina.
De acordo com documentos do tribunal, Ieng Thirith participava nos conselhos de ministros do regime e supervisionava o rígido controle da distribuição de medicamentos.
Também ordenou as punições aos supostos traidores e estava a par das execuções daqueles considerados inimigos do regime, segundo os documentos. Ieng Thirith também teria participado na regulamentação dos matrimônios, muitos deles forçados.