A coluna Tudo sobre sexo, uma das primeiras a abordar educação sexual em jornais brasileiros

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Jean Mellé (Itic Mellé), jornalista romeno naturalizado brasileiro que fundou e manteve até a Segunda Guerra Mundial, em Bucareste, o jornal “O Momento”, foi prisioneiro dos russos na Sibéria durante dez anos e veio para São Paulo em 1959, onde recomeçou a vida de jornalista trabalhando nos jornais “O Estado de S. Paulo” e “Última Hora”, até fundar em 1963 o jornal “Notícias Populares”. O jornalista romeno Jean Mellé passou 10 anos preso na Sibéria por ordens de Joseph Stalin, fazendo trabalhos forçados nas minas de carvão.

Tudo porque, em 1947, soltou em seu jornal Momentul, de Bucareste, uma manchete contrária aos comunistas: “Russos estão roubando o pão do povo”.

O jornal “Notícias Populares”, o NP, surgiu em São Paulo, em 15 de outubro de 1963, com uma proposta política definida: bater de frente com a “Última Hora”, que nascera nos anos 50 a pedido do governo Vargas, e sob a inspiração de Samuel Wainer.

Nos turbulentos anos pré-ditadura militar, “Última Hora” era a publicação de esquerda, voltada para o grande público, que mais se identificava com o governo Jango Goulart, herdeiro do trabalhismo de Vargas.

A iniciativa de criar o NP foi de grupos de direita, que imaginavam um “Última Hora” com sinal político invertido. Estavam por trás daquela primeira edição do NP, empresários como José Ermírio de Moraes Filho, Luiz Pinto Thomaz, João Arruda e – o principal deles – o então presidente da UDN, Herbert Levy.

O diretor-geral de “Notícias Populares” era um romeno, que tivera em seu país um jornal popular, expropriado pela revolução socialista. Chamava-se Jean Mellé, havia sido preso pelos comunistas e libertado depois da Segunda Guerra Mundial.

Chegou ao Brasil como outros refugiados de guerra, com o sonho de reconstruir sua vida.
O encontro de Mellé com Levy foi providencial. Enquanto Levy precisava de alguém com experiência profissional e que tivesse horror da ameaça comunista, Mellé tinha sido vítima dos comunistas em seu país, era um talentoso colunista de Última Hora e ambicionava ter seu próprio jornal.

A primeira tiragem do Notícias Populares saiu com 8 mil exemplares. Desde o início, Mellé optou por um modelo, que imitava as publicações sensacionalistas norte-americanas, rastreadas pelo tripé sexo, crime e escândalo. Esse gênero de sensacionalismo utiliza o fait divers, como seu principal nutriente. Fait divers é uma palavra francesa.

Refere-se àquela notícia que provoca empatia no leitor (a criança salva depois de ficar quatro dias soterrada; o casal que se mata por amor; a chuva torrencial; o incêndio no edifício; entre outras situações).
Jean Mellé faleceu dia 4 de março de 1971, aos 60 anos, de câncer, em São Paulo.
(Fonte: Veja, 10 de março de 1971 – Edição n° 131 – DATAS – Pág; 64)
(Fonte: www.sensacionalismo.sites.uol.com.br – Por Danilo Angrimani)

Jean Mellé, jornalista romeno fundador do Notícias Populares

O jornalista romeno Jean Mellé passou 10 anos preso na Sibéria por ordens de Joseph Stalin, fazendo trabalhos forçados nas minas de carvão. Tudo porque, em 1947, soltou em seu jornal Momentul, de Bucareste, uma manchete contrária aos comunistas: “Russos estão roubando o pão do povo”.

Após ser liberado da Sibéria, Mellé desembarcou no Brasil em 1959 sem falar praticamente nenhuma palavra de português. Mesmo assim, por intermédio de um amigo romeno que estava no Brasil, conseguiu um emprego no Última Hora de Samuel Wainer. Menos de quatro anos depois, em associação com Herbert Levy (presidente da UDN e dono da Gazeta Mercantil), lança o Notícias Populares com uma finalidade marcadamente política: o Notícias Populares seria um vespertino anticomunista. Essa postura duraria até 1965, quando Levy vende o jornal para Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, da empresa Folha da Manhã, que edita a Folha de S.Paulo. Mellé permanece como editor do NP.

Em 1968, Mellé fez “desaparecer” o astro Roberto Carlos, que estava em Nova York. O diretor da TV Record informou a um repórter que não estava conseguindo contatar o Rei nos Estados Unidos; quando o jornalista levou a história à Mellé, este soltou a manchete: “Desapareceu Roberto Carlos”. No dia seguinte, centenas de tietes cercaram a redação em busca de notícias sobre o ídolo. Revoltado, o diretor da Record exigia um desmentido, mas Mellé, no dia seguinte, apenas manchetou: “Acharam Roberto Carlos”. Nos dois dias, o jornal vendeu 20.000 exemplares a mais.

Em maio de 1975, o Notícias Populares publica a história do bebê-diabo, que se tornaria um marco no jornalismo brasileiro. Era uma “cascata” sobre o nascimento de um menino com chifres e rabo em São Bernardo do Campo; entretanto, o povo acreditou na história e o NP começou a inventar uma saga para o bebê-diabo. O caso permaneceu na primeira página do jornal por 27 dias, nos quais pessoas ligavam para a redação jurando que viam o bebê-diabo e informando seu paradeiro. Após quase um mês de sucesso comercial e fracasso moral, a redação decidiu assassinar o assunto.

Também importante para o Notícias Populares foi o título paulista de 1977 do Corinthians, que tirou o clube do jejum de 23 anos sem conquistas. Os torcedores disputavam a autoria da promessa mais absurda, que seria publicada pelo NP. A manchete de 23 de outubro de 1977 anunciava o vencedor: “Vou comer 23 sapos se o Corinthians ganhar”. Era um fanático que prometia devorar os batráquios cozidos com alho e limão.

O Notícias Populares foi pioneiro na publicação de colunas destinadas a minorias. O jornal foi um dos primeiros a ter uma seção GLS chamada “Espaço Gay”, que estreou em novembro de 1983. Para marcar terreno, os jornalistas fizeram questão de criar também a “Coluna do Machão”. Na mesma página ficava a coluna “Tudo sobre sexo”, uma das primeiras a abordar educação sexual em jornais brasileiros.

A cobertura de Carnaval do NP sempre foi um caso à parte: até os leitores de outras publicações não resistiam às toneladas de fotos picantes tiradas pelos salões de São Paulo, com suas hilárias legendas. Exemplos: “San Chupança”, “Dona Celu Lite”, “Olívia Nílton João”, “alisando o pandeiro”, “de lanterna na mão”, “limpando língua com Bombril”. As edições de Carnaval chegaram a vender mais de 200 mil exemplares na década de 80.

Na época em que o Brasil acompanhava o calvário de Tancredo Neves, em 1984, o NP torcia junto para que o presidente escapasse da morte. Para azar da redação, Tancredo morreu após o fechamento da edição. Pior que não poder noticiar a morte do presidente eleito foi o jornal chegar às bancas com uma manchete que mais parecia uma piada de mau gosto. Com Tancredo já no IML, o NP anunciava na primeira página: “Médico americano quer Tancredo mais gelado”. Era a tentativa de controlar a hipotermia do paciente – quando este ainda estava vivo, obviamente.

Em 1990, o Notícias Populares recebe uma injeção de sexo e sensacionalismo. Algumas manchetes publicadas nessa época: “Bicha põe rosquinha no seguro”, “Aumento de merda na poupança”, “Broxa torra o pênis na tomada”, “A morte não usa calcinha”. É dessa época também a manchete mais hardcore da história do NP: “Churrasco de vagina no rodízio do sexo”.

Em 1994, o Notícias Populares enviou Zé do Caixão para fazer a cobertura do GP Brasil de Fórmula 1. O Senhor das Trevas chamou tanto a atenção no primeiro dia dos treinos que a Associação dos Construtores cassou sua credencial. O NP não se conformou com a decisão. Na reclamação, acabou sobrando para Michael Schumacher: “Até o Schumacher, que costuma ser muito fresco, adorou o nosso convidado especial”.

Com o lançamento do jornal Agora, em 1999, pela mesma empresa que o editava, o NP foi desprestigiado. Sem dinheiro para melhorar sua estrutura ou grandes campanhas, a redação começou a fazer milagre com a minguada verba que era reservada ao jornal. Destaque para algumas chamadas para promoções de loterias (“Compre um presentão para a mulher da sua vida. Mas não esqueça a lembrancinha de sua esposa”) e para o concurso que sortearia uma van de cachorro-quente (“O NP arranja a perua e você entra com a salsicha”).

O livro Nada mais que a verdade revela a verdadeira identidade de Voltaire de Souza, cronista que começou a escrever para o NP em 1990 e foi “promovido” na empresa Folha da Manhã, passando a assinar uma coluna no caderno “Ilustrada” da Folha de S.Paulo.

(Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br – 4 de Junho de 2012 – ISSN 1519-7670 – Ano 16 – nº 696)

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