A primeira casa ecológica do Rio de Janeiro

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Ecoapartamento: A primeira casa ecológica do Rio de Janeiro, apê autossustentável

Ventilação cruzada e iluminação são trunfos no novo imóvel

Primeira arquiteta a transformar uma casa antiga, de 1930, em uma construção autossustentável no Rio, Alexandra Lichtenberg acaba de concluir a primeira parte de uma nova empreitada: um apartamento… sustentável. Cobertura de um prédio da década de 1950, o imóvel ficou apenas três meses em obra e, com uma série de medidas simples, ganhou características que, além de tornar o espaço mais confortável e agradável, vão ajudar a reduzir os gastos com energia.

— Não é uma obra difícil. Mas é preciso conhecer bem as características geográficas do local antes de se fazer um projeto — acentua Alexandra, que, como já morava na mesma rua da Urca há dez anos, conhecia bem o posicionamento do sol e a direção do vento.

Essas duas características, aliás, foram o ponto de partida para o projeto de reforma do apê, que ganhou ventilação cruzada e um verdadeiro banho de luz natural durante o dia, o que garante maior conforto térmico e reduz, sensivelmente, a conta de luz.

— As janelas foram essenciais na minha decisão de comprar este apartamento — confessa Alexandra. — Não apenas por essa vista incrível, mas principalmente porque são elas que permitem esse aproveitamento da luz natural.

Para aumentar o alcance dessa iluminação, Alexandra botou abaixo as paredes da cozinha, que ganhou uma ilha central com bancada e fogão de seis bocas encaixado, que ela já tinha antes de se mudar para o apê. Assim, estar, jantar e cozinha criam um ambiente único e tão bem iluminado que ela não precisa acender qualquer lâmpada até o sol se por. Apesar disso, se engana quem pensa que o imóvel fique quente demais, já que ele também é muito bem ventilado.

Retirada de lavabo melhorou iluminação e ventilação

É que à esquerda da cozinha fica a outra pequena grande modificação feita no imóvel. Ali, no espaço onde originalmente ficava o lavabo, há hoje uma área aberta que é a grande entrada de vento da cobertura. Plantas colocadas no espaço disfarçam a fachada do prédio. Uma porta de vidro de correr fecha o espaço quando necessário.

— Na Urca, o vento é predominantemente sudoeste que, no caso desse apartamento, era exatamente a posição do lavabo. Como havia outro banheiro logo ao lado, achei que podia simplesmente abrir esse espaço aproveitando melhor o vento que entra por ali e cruza toda sala, saindo pela cozinha para a área de serviço — diz a arquiteta, explicando como funciona a ventilação cruzada em seu apartamento.

É bem verdade que, há apenas dois meses no novo endereço, Alexandra ainda não passou os piores meses de verão ali. Mas, um recurso, que ainda será instalado, vai resolver esse problema também. Do lado de fora de seu janelão, ela vai colocar brises-soleil feitos de alumínio e com aletas articuladas, que, movidas manualmente, permitem barrar mais ou menos o sol, de acordo com o momento do dia e do ano.

— O brise é muito importante nesse projeto porque barra o calor sem criar ofuscamento. Todos os meus vizinhos têm toldo. Mas esse é um recurso muito ruim. Exatamente porque, junto com o calor, ele tira a luz natural.

Assim como a Ecohouse, nome da casa sustentável de Alexandra, em que ela morava até aqui, o ecoapartamento — que chama de Ecohouse 2 — também precisava de reforma completa, já que tinha fiação elétrica original e canos de ferro tão enferrujados que sobrava um espaço mínimo para passagem da água. Com isso, os gastos com a reforma foram os mesmos de uma obra comum: 15% do valor do imóvel. A parte elétrica foi resolvida com a instalação de um grande quadro de luz com 25 disjuntores: um para cada aparelho e ambiente.

Em comparação com a Ecohouse, apenas dois recursos, embargados pelo condomínio, não puderam ser instalados: as placas solares para aquecimento da água do chuveiro e as cisternas, para captação da água da chuva.

— Em todo o caso, deixei minhas instalações prontas — resigna-se ela, contando que a ideia é localizar os dois sistemas em áreas do telhado não visíveis da rua. — E, no caso das placas solares, os outros imóveis poderiam se beneficiar se quisessem. Bastaria fazer uma obra de cerca de R$ 5 mil em cada unidade. Mas ainda espero chegar lá.

Materiais usados ajudam a economizar

Por conta da falta dos dois sistemas, a economia no imóvel ficará aquém do inicialmente planejado pela arquiteta Alexandra Lichtenberg. Mas outras iniciativas ajudam a minimizar esse efeito negativo. Um deles é o uso de torneiras inteligentes.

Nos banheiros, a opção foi por modelos fotoelétricos da Fabrimar. Aqueles em que o fluxo da água é acionado automaticamente com a proximidade das mãos e interrompido com o distanciamento. Para a cozinha, como esse modelo não funcionaria, já que a distância da mão para o sensor seria muito grande, ela optou por um modelo com arejador, que dá a sensação de um volume muito maior do que há na realidade.

Outro recurso foi a instalação de monocomando na entrada de água da máquina de lavar. Com isso, a água é aquecida pelo gás e já entra quente na máquina evitando o uso da resistência elétrica. A instalação de disjuntores diferentes para cada aparelho elétrico usado na casa também ajuda na eficiência energética, além de aumentar a segurança.

— São medidas simples para as quais as pessoas não costumam dar importância. Eu dimensionei toda a carga elétrica e a fiação do apartamento e isso minimiza desperdícios.

Já no piso da sala, que precisava ser trocado, a opção foi por um revestimento feito com a mistura de argila e restos de vidros de lâmpadas florescentes. Material considerado fresco.

Imposto zero para energia alternativa

Além disso, Alexandra diminuiu os resíduos da obra aproveitando mesmo o que aparentemente já deveria estar no lixo. Foi o caso das janelas dos quartos. Em madeira, com venezianas, parte delas havia sido destruída pelos cupins. Alexandra conseguiu recuperá-las e gastou muito menos do que se tivesse trocado as janelas.

No quesito lixo, aliás, o imóvel também leva em consideração a sustentabilidade. No apartamento, duas lixeiras embutidas nos armários da cozinha separam lixo orgânico de reciclável. E Alexandra estuda também a instalação de uma composteira elétrica, no próprio apartamento, ou talvez maior, com capacidade para 30 quilos diários, no condomínio:

— Fazer a compostagem em casa é uma maneira de fechar um ciclo, já que não haverá a produção de lixo orgânico.

Iniciativas ainda consideradas exceções no mercado de reforma. Para Alexandra, faltam incentivos à população. Em especial, os fiscais.

— Se houvesse imposto zero para energia alternativa, mais gente investiria nessas práticas.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/imoveis/ecoapartamento- ECONOMIA/ Por Karine Tavares – 7/07/13)

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