Em 1946, militares e cientistas americanos acoplaram uma câmera a um foguete V-2 e fizeram a primeira imagem da Terra a partir do espaço
A centenas de quilômetros de altitude, em 1961, o astronauta russo Yuri Gagarin se tornou o homem que, até então, mais longe havia chegado. Quando vislumbrou de cima o nosso planeta, porém, só pensou na beleza do que observava. “A Terra é azul” foi a frase que mais marcou a aventura.
Apesar do pioneirismo, a imagem que o astronauta viu não foi uma surpresa completa, já que a primeira fotografia feita no espaço foi tirada bem antes, em 24 de outubro de 1946. Dela, não se podia, no entanto, elogiar as cores, já que era em tons de cinza, granulada e pouco nítida.
O registro fotográfico ocorreu quando um grupo de militares e cientistas da base de White Sands, no Novo México, lançou uma câmera de filmagem de 35 mm, acoplada a um míssil alemão V-2 – capturado na Segunda Guerra Mundial -, a de pouco mais de 100 km de altitude – o que já é considerado espaço. A câmera tirou dezenas de fotos e se espatifou ao voltar à superfície. O filme foi preservado, pois estava protegido em uma caixa de aço. A foto não exibia a coloração azulada do globo, mas foi o ponto de partida para o desenvolvimento de tecnologias que nos proporcionam até hoje extraordinárias imagens da Terra e de outros planetas e astros.
Fotos de astronautas
“The Blue Marble”, ou “O Mármore Azul”, é o nome da talvez mais notória fotografia do Planeta Terra. A imagem foi fotografada em dezembro de 1972, a 45 mil km de distância, pela tripulação da Apollo 17, a última missão tripulada da Nasa à Lua. The Blue Marble foi a primeira foto clara que mostrava toda a face iluminada da Terra.
As fotografias tiradas pelos astronautas do Programa Apollo notabilizaram a marca sueca Hasselblad, que produziu modelos modificados de suas câmeras especialmente para as fotografias do espaço. Desde então, nenhum homem esteve tão longe a ponto de tirar uma foto do globo inteiro, mas alguns astronautas aproveitam até hoje para registrar lindas imagens de paisagens terrestres a uma altitude elevada. “São imagens muito boas do ponto de vista estético e de resolução, úteis para visualizações de grandes áreas”, conta o professor do curso de Astronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Jorge Ducati. Apesar disso, Ducati explica que tais fotografias não têm um grande valor cartográfico. “Isto deve-se ao fato de que tais imagens não portam grande resolução espectral e geralmente sem dados no infravermelho, que são importantes para estudos de vegetação e geológicos. Creio que estas imagens têm essencialmente um valor estético, para divulgação geral e para o grande público.”
Fotos para pesquisa
Já para a pesquisa dos astrônomos, o material fotográfico utilizado é proveniente de outras fontes. “As imagens astronômicas são obtidas por instrumentação de solo, acopladas aos telescópios maiores, modernos e potentes disponíveis; espacial, acoplada em telescópios espaciais como o Kepler e o Hubble; sondas orbitais, como a Cassini e a Mars Express; ou sondas de prospecção, como a Opportunity e Curiosity”, cita o professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP) Enos Picazzio. O professor chama a atenção para a avançada tecnologia dos equipamentos usados em cada um desses exemplos. “Essas imagens são de altíssima qualidade, pois as câmeras estão no estado-da-arte. É o que existe de melhor no campo do imageamento. Utilizam sensores de qualidade e sensibilidade muito superiores àquelas encontrados em câmeras comerciais. Além disso, as câmeras registram em diferentes regiões espectrais, como ultravioleta, visível, infravermelho, etc.”
Telescópio e satélite
Em 1990, foi lançado a bordo do ônibus espacial Discovery o Telescópio Espacial Hubble, satélite artificial que tornou possível observar além da nossa própria galáxia, levando a astronomia a um novo patamar. “Nos telescópios de solo, é possível acoplar instrumentação diversificada e pesada, algo mais difícil de se fazer em telescópios espaciais. Por outro lado, estes estão fora da atmosfera terrestre e eliminam toda a interferência, como absorção de luz em determinados comprimentos de onda e cintilação”, explica o professor Picazzio. O professor Ducanti destaca a possibilidade de um trabalho de mapeamento a partir dos satélites, mesmo estes estando em órbita. “A altitude do satélite, ou seja, sua posição, nos três eixos ortogonais, com relação à superfície do planeta, é bem conhecida e controlável. Isso torna possível um trabalho de mapeamento do planeta, a partir da sucessão de órbitas e da gradual varredura, por sobrevôo, da superfície planetária”, explica. Ele acrescenta que o propósito dos satélites não é apenas obter as fotografias. “O telescópio Hubble, por exemplo, porta instrumentos que registram não só imagens diretas, mas também espectros e outros dados físicos não imagéticos.”
O sucessor do notório Hubble está em construção, com estimativa de lançamento para 2018. Trata-se do Telescópio Espacial James Webb. “Com este telescópio, poderemos investigar vários tópicos de fronteiras em astronomia”, garante Wagner Marcolino, professor adjunto do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que lembra questões como a formação de sistemas planetários capazes de suportar vida como na Terra e a formação das primeiras galáxias.
Um exemplo muito popular de imagens obtidas via satélite é o Google Maps, que, além de funcionar como mapa para localização nas cidades, disponibiliza fotografias aproximadas do mundo inteiro. Na tecnologia espacial brasileira, por meio do CBERS (sigla inglesa para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), há o foco no sensoriamento remoto, que gera informações muito precisas sobre alvos da superfície terrestre. A parceria com a China diz que cada país distribui as imagens como quiser. De acordo com Petrônio Noronha, diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial Brasileira, o Brasil tem destaque internacional nesse sentido. “O Brasil, através do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, segue desde 2004 a política de distribuição gratuita de imagens, considerada hoje a mais avançada do mundo. Não há país que tenha distribuído mais imagens do que o Brasil”, afirma.
Sondas
Diferente dos telescópios, as sondas são equipamentos que proporcionam uma aproximação ainda maior com o objeto estudado. A sonda Curiosity, da Nasa, que no momento explora a superfície marciana, envia imagens da geografia de Marte tiradas no próprio solo do planeta. “As sondas são utilizadas para observação mais aproximada dos alvos. Por isso, são enviadas aos planetas, cometas e asteroides. As imagens por elas produzidas são insubstituíveis. Mesmo os telescópios mais potentes não são capazes de produzir imagens tão detalhadas, pois estão longe dos objetos”, conta o professor Enos Picazzio, destacando que a Curiosity é equipada com um complexo sistema imageador. O professor Ducanti destaca o alto valor científico das sondas e lembra que elas já são usadas há décadas. “É, por exemplo, o caso das naves Voyager, que, em 20 anos de viagem, já estão na região da heliopausa, coletando dados sobre as condições ambientais.”
Nos próximos anos, serão as câmeras dessas sondas que nos ajudarão a compreender melhor os mistérios do universo e descortinarão outros traços ainda indefinidos do que nos espera muito além do Sistema Solar.
(Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias – CIÊNCIA – ESPAÇO – Feita de míssil nazista, 1ª foto no espaço completa 66 anos – 24 de outubro de 2012)