Montanha-russa, o legado radical deixado pela imperatriz Catarina, a Grande
A vertiginosa atração nasceu no século 18 e tem também em história muitas emoções, curvas e trajetórias surpreendentes.
Antes de chegar à montanha-russa, há um capítulo importante: o surgimento de São Petersburgo, fundada em 1703. A cidade floresceu sob o reinado do czar Pedro, o Grande, que tinha um plano ambicioso para a Rússia.
Para isso, por exemplo, ele viajava secretamente para a Holanda e Inglaterra buscando saberes e estratégias que pudessem ser importados. Nesse plano, a cidade de São Petersburgo era a cereja do bolo, que começou a ser construída nos pântanos do Golfo da Finlândia.
“Quando, no início de nosso século, o czar Pedro lançou as bases de Petersburgo – ou melhor, de seu império -, ninguém previu o sucesso”, observou há séculos o filósofo iluminista francês Voltaire, um grande admirador da Rússia.
Ninguém, escreveu ele, poderia imaginar que as artes e as letras seriam impulsionadas como foram e nem que o Império Russo, “quase desconhecido para nós até então, seria civilizado em 50 anos”.
Foi nessa Rússia e na jovem São Petersburgo do século 18 que começou a emocionante história da montanha-russa.
Rampas de gelo
Durante os festivais de inverno, os moradores da cidade construíam rampas de madeira gigantes em praças públicas e mansões. Estas estruturas eram cobertas de neve, sobre as quais se borrifava água, para formar uma espessa camada de gelo escorregadio. E, então, as pessoas se jogavam, sem hesitação.
Entre os entusiastas dessa atração estava ninguém menos que a imperatriz Catarina, a Grande. Ela subia as dezenas de degraus que levavam ao topo, embarcava em um trenó esculpido em gelo e descia a ladeira íngreme amparada apenas por um pedaço de corda.
“Quando você olha essas estruturas (antigas), é absolutamente incrível imaginar que as pessoas podiam pensar: ‘Vamos nos jogar nessa rampa em velocidades vertiginosas, sem nenhum mecanismo de segurança que nos mantenha no trenó”, diz Margee Kerr, socióloga que estuda o medo.
Bem, considerando que Catarina organizou um golpe de Estado contra o próprio marido, talvez não seja surpreendente que ela gostasse tanto de uma forte emoção.
Na verdade, ela encomendou uma rampa dessas para chamar de sua e pediu para que fossem acopladas rodas, dessa vez não de gelo, para desfrutar do brinquedo o ano todo. E, assim, nasceu a primeira montanha-russa moderna, parte de um magnífico pavilhão de diversões chamado Katalnaya Gorka.
‘Montanha-americana’
Mas foi nos Estados Unidos que o brinquedo se tornou tão popular. “Ele começou a se popularizar com a invenção do carrinho elétrico projetado para transportar carvão e material industrial de um lugar para outro, viajando sobre trilhos”, conta Kerr.
E o resto, como dizem, é história. Uma trajetória que, na atualidade, chega a quedas repentinas de mais de 120 metros, velocidades de 240 km/h e até 14 loopings (voltas). E além da história, há também muita física por trás desse brinquedo.
Diversão explicada pela Lei de Newton
A primeira subida é feita graças a um elevador ou cabo que puxa o trem. Isso acumula um suprimento de energia potencial que será usado na queda, à medida que o trem é arrastado pela gravidade.
Toda a energia armazenada nessa descida é liberada como energia cinética, o que permite que o trem suba a próxima rampa. Então, à medida que percorre as subidas e descidas, há uma alternância constante entre energia potencial e cinética.
Não se deve esquecer que, de acordo com a Primeira Lei de Newton, um objeto em movimento tende a permanecer em movimento, a menos que outra força aja contra ele.
O vento e o atrito das rodas ao longo da pista retardam o trem. Portanto, no final da viagem, as subidas tendem a ser menos acentuadas, porque há menos energia para superá-las.
Quando você entra no trem, sente-se pressionado contra a parte externa do carrinho. Trata-se da força centrípeta, que nos ajuda a ficar sentados no brinquedo.
No desenho conhecido como loop-to-loop, é a inércia que mantém você sentado. Embora a gravidade o puxe para a Terra, a força de aceleração é mais forte e aumenta, opondo-se à gravidade.
No entanto, o loop deve ser elíptico, em vez de um círculo perfeito, caso contrário, a força centrípeta seria muito forte para garantir a segurança e conforto das pessoas.