A primeira mulher do mundo a receber importante prêmio da matemática

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A primeira mulher do mundo a receber importante prêmio da matemática

 

Americana que descreveu bolhas de sabão é a 1ª a ganhar prêmio Abel de matemática

 

Karen Uhlenbeck, foi uma das pioneiras da análise geométrica, criou técnicas hoje comumente usadas por muitos pesquisadores. Pela primeira vez, um dos principais prêmios no campo da
matemática foi concedido a uma mulher.

 

 

Pela primeira vez, um dos principais prêmios da matemática do mundo foi dado a uma mulher. Na terça-feira, dia 19 de março de 2019, a Academia Norueguesa de Ciências e Letras anunciou que concedeu o Prêmio Abel deste ano — uma láurea que segue os moldes do Prêmios Nobel — à americana Karen Uhlenbeck, professora emérita da Universidade do Texas em Austin e visitante associada do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Princeton. O prêmio cita “o impacto fundamental de seu trabalho em análise, geometria e física matemática”.

 

 

Karen, de 76 anos, ajudou a fornecer uma base matemática rigorosa em técnicas amplamente utilizadas por físicos na teoria quântica, para descrever interações fundamentais entre partículas e forças. No processo, ela foi fundamental para a criação de um campo conhecido como análise geométrica, desenvolvendo técnicas agora comumente usadas pela maioria dos matemáticos.

 

 

 

— Ela fez coisas que ninguém pensou em fazer — diz Sun-Yung Alice Chang, matemática da Universidade Princeton, que foi um dos cinco membros do comitê de jurados do prêmio. — Ela estabeleceu as bases de um ramo da matemática.

 

 

Karen Uhlenbeck, que mora em Nova Jersey, nos EUA, soube que é a mais nova vencedora do prêmio no último domingo de manhã (17/03).

 

 

— Quando saí da igreja, notei que tinha uma mensagem de texto de Alice Chang que dizia: “Você poderia aceitar uma ligação da Noruega?” — lembra ela. — Quando cheguei em casa, liguei para a Noruega e eles me contaram.

 

 

Ela ainda não decidiu o que fazer com os US$ 700 mil — mais de R$ 2,6 milhões — que vêm junto com a homenagem.

Premiações dominadas por homens

 

 

Não existe um Prêmio Nobel da Matemática, e, durante décadas, a premiação de maior prestígio na área tem sido a Medalha Field, concedida em pequenos lotes a cada quatro anos aos matemáticos mais talentosos do mundo com idade até 40 anos.

 

 

Um brasileiro, Artur Avila, já recebeu a honraria, em 2014. Foi também este o ano em que a primeira e única mulher foi premiada com a Medalha Fields — Maryam Mirzakhani, uma iraniana-americana que ensina na Universidade Stanford.

 

 

O Prêmio Abel, batizado em homenagem ao matemático norueguês Niels Hendrik Abel, funciona de forma mais parecida com o Nobel. Desde 2003, ele é concedido anualmente a um matemático (ou um pequeno grupo) com um feito importante.

Os 19 laureados anteriores — em três anos, o prêmio foi dividido entre dois matemáticos — eram homens, incluindo John F. Nash Jr., cuja vida foi retratada no filme “Uma mente brilhante”; e Andrew J. Wiles, que provou o último teorema de Fermat.

 

‘Me senti mal na carreira por ser mulher’

 

 

Karen Uhlenbeck começou a publicar seus principais trabalhos aos 30 anos. Em princípio, isso seria cedo o suficiente para que ela pudesse ser reconhecida com uma Medalha Fields, mas suas ideias demoraram a se espalhar.

 

Em 1983, aos 41 anos, ela recebeu um reconhecimento mais amplo com a MacArthur Fellowship, que vem com ua quantia significativa de dinheiro — na época, US$ 204 mil.

 

Em 1990, ela se tornou a segunda mulher a dar uma das palestras plenárias no Congresso Internacional de Matemáticos, uma reunião quadrienal. Em cada congresso, há entre 10 e 20 palestras plenárias, mas há décadas todos os oradores são homens.

 

 

— Isso foi quase mais desconcertante (do que ser a primeira mulher a receber um Abel) — comenta ela.

 

 

Karen conta que, hoje, consegue se ver como um modelo para as mulheres que a seguem na matemática.

 

 

— Olhando para trás, agora percebo que tive muita sorte — diz ela. — Eu estava na vanguarda de uma geração de mulheres que poderiam conseguir empregos reais na academia.

 

 

Mas ela também observa que sempre esteve em desvantagem pelo simples fato de ser mulher:

 

 

 

— Eu certamente me senti mal, durante toda a minha carreira, por ser uma mulher. Isto é, eu nunca me senti como um dos “caras”.

 

 

Para encontrar uma mulher influente em quem se inspirar, ela precisou olhar para a televisão.

 

 

— Como muitas pessoas da minha geração, meu modelo era a Julia Child (autora de livros de culinária e apresentadora de televisão americana).

Ela criou ‘técnicas revolucionárias’

 

 

 

Dan Knopf, que trabalhou com Karen Uhlenbeck na Universidade do Texas, ressalta o aspecto revolucionário da obra da americana:

 

 

 

— Karen desenvolveu algumas técnicas revolucionárias. E, grosso modo, ela encontrou soluções para um problema aproximado e depois tentou limitar essas soluções aproximadas para obter soluções reais.

 

 

Um dos principais trabalhos dela envolve as chamadas teorias de calibre, usadas por físicos da teoria quântica para descrever as interações de partículas subatômicas. Elas dizem, basicamente, que o comportamento das partículas não deve mudar dependendo de como você as observa. Isto é, as leis da física não devem mudar caso a experiência seja movida para a esquerda ou girada. Mas as respostas às vezes pareciam explodir até o infinito. Karen, no entanto, foi capaz de reformular o problema de uma maneira que removeu os “infinitos”.

 

(Fonte: https://oglobo.globo.com/celina – CELINA / Por Kenneth Chang, do “New York Times” – NOVA YORK – 19/03/2019)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2019/03 – CIÊNCIA / Por Kenneth Chang – 20 março 2019)

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