Abbas Kiarostami, ícone do cinema iraniano, foi premiado em Cannes e Veneza
Abbas Kiarostami (Teerã, em 22 de junho de 1940 – Paris, 4 de julho de 2016), diretor iraniano, ganhador de prêmios como a Palma de Ouro em Cannes com “O Gosto da Cereja” (1997) e o Prêmio Especial do Júri em Veneza com “O Vento nos Levará” (1999)
Conhecido por juntar documentário e ficção, Abbas Kiarostami era considerado um dos mais influentes diretores de seu país.
Além da Palma de Ouro em 1997, ele foi indicado outras quatro vezes ao prêmio, por “Através das Oliveiras” (1994), “Dez” (2002) “Cópia fiel” (2010) e “Um alguém apaixonado” (2012). Kiarostami ganhou o prêmio especial do júri no Festival de Veneza por “O vento nos levará” (1999).
Kiarostami trabalhou no cinema como roteirista, editor, diretor de arte e produtor e era também era um poeta, fotógrafo, pintor, ilustrador e designer gráfico. Ele fez parte de uma nova onda de cineastas no Irã, que começou no final de 1960 e incluiu diretores pioneiros como Masoud Kimiai, Sohrab Shahid Saless, Dariush Mehrjui, Bahram Beyzai, Nasser Taghvai e Parviz Kimiavi. Esses cineastas tinham muitas técnicas comuns, incluindo o uso de diálogo poético e narrativa alegórica para lidar com questões políticas e filosóficas.
Kiarostami nasceu em 22 de junho de 1940, em Teerã, e estudou pintura antes de começar a trabalhar como designer gráfico e passar a filmar comerciais para a TV iraniana. Fez faculdade de belas-artes em uma universidade da capital do país e, no início da carreira, trabalhou fazendo anúncios publicitários, ilustrações e roteiros.
Em 1969, ele se juntou ao Kanun (Centro para o Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos), e passou a fazer seus próprios filmes. Em 2005 Kiarostami disse ao jornal inglês “The Guardian”: “Nós deveríamos fazer filmes que lidavam com problemas de infância. No início era apenas um trabalho, mas ali que me tornei um artista.”
Nesse período no Kanoon, no qual ficou até 1992, o cineasta lançou longas que, apesar de pouco conhecidos entre o público, o colocaram entre principais diretores de seus país. É o caso de “O recreio” (1972), “O viajante” (1974) e “Lição de casa” (1989). Também lançou na época “Close-up” (1990), com o qual conquistou a fama internacional.
Kiarostami teve de deixar o Irã para produzir alguns de seus filmes – por questões econômicas e também ideológicas. Alguns dos trabalhos sequer chegaram a ser conhecidos pelo público no país de origem do autor.
Em 2012, o diretor esteve no Brasil, para 36ª Mostra de São Paulo. E comentou os filmes que fez fora do Irã (suas produções estavam banidas das telas do país há 15 anos), com atores estrangeiros, após a posse do presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad: “Cópia fiel” (2010), laureado em Cannes com o prêmio de melhor atriz (Juliette Binoche), na Itália; e “Um alguém apaixonado” (2012), atração da Mostra, no Japão.
— A restrição a meus filmes no Irã não é de ordem política, é uma questão de manter a minha independência artística. Conseguiria permissão para fazer um filme quando bem entendesse, mas as autoridades sempre acabam interferindo nos meus projetos, porque acham que não são trágicos o suficiente. Prefiro fazer o filme que imaginei, e encontro essa liberdade fora do país. Mesmo que custando o banimento deles no Irã — explicou, em entrevista a O GLOBO. — No mundo de hoje, como é possível falar sobre pessoas e não ser político? Não há um bom filme que não seja político.
Nos últimos anos, o cineasta continuou a viver no Irã, apesar de ter produzido seus últimos filmes fora do país. Ele fez os longas “Cópia fiel”, de 2010, na Itália, e “Um alguém apaixonado”, de 2012, no Japão.
‘Cinema inacabado’
Em texto apresentado em março de 1995, em um colóquio sobre cinema em Paris, ele disse: “Uma centena de espectadores fabrica seu próprio filme ao mesmo tempo; ele lhes pertence e corresponde ao universo de cada um deles. Creio num cinema que dá mais possibilidades e mais tempo a seu espectador. Um cinema semifabricado, um cinema inacabado que se completa pelo espírito criativo do público; e, então, teremos uma centena de filmes.”
“Enquanto cineasta, eu conto com essa intervenção criativa, caso contrário, filme e espectador desaparecerão juntos. No próximo século de cinema, o respeito ao espectador enquanto elemento inteligente e construtivo é inevitável. Para alcançá-lo, é preciso talvez
se distanciar da ideia segundo a qual o cineasta é o mestre absoluto. É preciso que o cineasta também seja espectador de seu filme”, afirmou Kiarostami.
Abbas Kiarostami morreu em Paris, aos 76 anos, em 4 de julho de 2016. Em março, ele tinha sido diagnosticado com um câncer gastrointestinal e passou por uma série de operações.
Em entrevista ao “Guardian”, de Teerã, o cineasta iraniano Asghar Farhadi – que ia visitar o amigo em Paris – disse que estava “muito triste, em choque total”. Para ele, o sucesso internacional de Kiarostami beneficiou muitas gerações de cineastas iranianos: “Ele definitivamente pavimentada caminhos para os outros e influenciou uma grande quantidade de pessoas. Não é apenas o mundo do cinema que perdeu um grande homem; o mundo inteiro perdeu alguém realmente grande.”
(Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2016/07 – CINEMA – Do G1, em Sâo Paulo – 04/07/2016)
(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA/ POR / O GLOBO – 04/07/2016)
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