Abílio Pereira de Almeida, foi um dos fundadores da Companhia Cinematográfica Vera Cruz

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Nydia Licia e Abílio Pereira de Almeida em 'A Mulher do Próximo'

Nydia Licia e Abílio Pereira de Almeida em ‘A Mulher do Próximo’

 

 

O rebelde: “Não podemos voltar ao tempo da Morgadinha dos Canaviais”

Abílio Pereira de Almeida (São Paulo, 26 de fevereiro de 1906 – Alto de Pinheiros, São Paulo, 12 de maio de 1977), autor, produtor, ator e diretor teatral

Tanto no palco como diante das câmaras, Abílio discorreu com desenvoltura sobre o período do teatro e cinema brasileiros que conhecia melhor que ninguém: os anos 50, apogeu do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, dos quais foi um dos fundadores.

Comunista, reacionário – Nascido em fevereiro de 1906, em São Paulo, Abílio formou-se em Direiro em 1933. Mas já na época de colégio exercitava-se como intérprete no teatro amador.

“Pif-Paf”, encenada em 1946, a primeira de suas sátiras à alta burguesia paulistana, revelou um dramaturgo capaz de sintetizar em breves cenas os costumes da época.

Seu texto seguinte, “A Mulher do Próximo”, inaugurou a primeira temporada no Teatro Brasileiro de Comédia em 1948. Depois, embora o TBC tivesse apresentado apenas três das outras dezesseis peças encenadas de Abílio, autor e casa de espetáculos tornaram-se estreitamente identificados.

 

Se os dramas e as comédias de Abílio não primam pelo aprofundamento psicológico nem por grandes inquietações sociais, é inegável que em suas melhores produções ele acrescentou à capacidade de fotografar a realidade uma sólida construção dramática, enriquecida por diálogos de alto poder se comunicação. “Paiol Velho” (1951), ambientado em uma fazenda de café e levado à tela como “Terra É sempre Terra”, “Alô, 36-5499” (1958), sobre uma call-girl, “Em Moeda Corrente do País” (1960), são obras a indicar que possivelmente faltou um único elemento para fazer de Abílio Pereira de Almeida um grande teatrólogo: maior empenho pessoal.

Diversas vezes, Abílio queixou-se de que a alta sociedade o acusava de comunista enquanto a esquerda o rotulava de reacionário. Mas, antes de tudo, ele foi um espírito rebelde e mordaz, como ilustra o final do artigo que escreveu em 1968 para o programa de sua peça “O Clube da Fossa”, que havia sido proibida pela Censura: “O teatro dos tempos de hoje, em que os jovens recebem nos colégios tradicionais aulas de educação sexual, em que os adolescentes experimentam nos colégios a sensação da maconha e da bolinha; em que se debatem na TV problemas como o aborto e os anticoncepcionais – o teatro de hoje não pode retroceder ao tempo da Morgadinha dos Canaviais”.

Com amarga ironia, o teatrólogo Abílio gostava de repetir a amigos e jornalistas não haver “nada pior que a velhice”. Essa sensação de desagrado, Abílio devia sentir de maneira especialmente aguda por conservar um temperamento de jovem exuberante no enfraquecido corpo.

Abílio Pereira de Almeida faleceu em São Paulo, em 12 de maio de 1977, aos 71 anos, depois de avisar à família que iria para seu sítio próximo a Vinhedo (SP), ao desferir um tiro fatal no peito em uma rua do bairro paulistano do Alto de Pinheiros.

Mais que esse trágico desfecho, no entanto, a noite de 18 de abril é que deve ser lembrada como a despedida de Abílio: às 21 horas, diante da plateia que lotava o Teatro Aliança Francesa de São Paulo, composta na maioria por jovens. Abílio iniciava animada conferência. Duas horas e meia depois, a TV Bandeirantes paulista começava a exibir o vídeo-tape de uma entrevista concedida por Abílio ao programa “Informação”.

 

 

(Fonte: Veja, 18 de maio de 1977 – Edição 454 – TEATRO – Pág: 83)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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