Adeildo Nepomuceno Marques, ex-deputado estadual, foi o único prefeito de Santana do Ipanema eleito por três vezes

0
Powered by Rock Convert

Cheiro de pólvora no ar

Adeildo Nepomuceno Marques , ex-deputado estadual, foi o único prefeito de Santana do Ipanema eleito por três vezes: de 1951 a 1955, de 1966 a 1969 e de 1973 a 1977

Adeildo era filho do primeiro prefeito eleito pelo voto direto Joel Marques, em 1936, e seu filho Adeildo Nepomuceno Marques foi o primeiro vereador a se eleger prefeito de Santana do Ipanema. As cidades de Major Izidoro, Olho d’Água das Flores, Olivença, Carneiros, Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Banco e Senador Rui Palmeira, já foram distritos de Santana do Ipanema.

Início violento – Três vezes prefeito de Santana do Ipanema – quinta cidade de Alagoas – ex-deputado estadual e apontado como chefe do Sindicato da Morte na região, Adeildo Marques Nepomuceno era o principal cacique político do sertão alagoano e futuro companheiro do governador Divaldo Suruagy (1937-2015) numa “dobradinha” para concorrer às eleições parlamentares de novembro de 1978 – ele para a Assembleia Legislativa e o governador para a Câmara Federal.

A vitoriosa trajetória de Nepomuceno começou no final da década de 50. Então, dois nomes disputavam o direito de se apresentarem como candidato a deputado estadual na região pela coligação PTB-PSP – o dele, pelo Partido Social Progressista, e o de José Amorim, pelo Partido Trabalhista Brasileiro.

O candidato foi Nepomuceno porque alguns dias antes da convenção dois pistoleiros mataram Amorim a tiros, quando saía de casa. Amigo dos mais famosos pistoleiros do Nordeste, como Doroteu da “Cintinha”, Valderedo Ferreira e Floro Novaes, seu nome passou a figurar entre os patrocinadores do Sindicato do Crime.

E mesmo acusado de ter sido o mandante da morte do ex-deputado e pistoleiro Robson Tavares Mendes, assassinado em 1966 pelos matadores de aluguel “Zé Crispin” e “Zé Gago”, ele se elegeria três vezes prefeito de Santana do Ipanema, conquistando novos e violentos inimigos à medida em que consolidava sua área de influência eleitoral.

Sete votos – Foi assim, por exemplo, no Poço das Trincheiras, nas eleições, em 1976. Aproveitando-se de uma divisão na família Medeiros, tradicionais chefes políticos da cidade e filiados ao MDB, ele fundou o diretório local da Arena e lançou a candidatura de seu amigo Florisval Wanderley de Alencar à prefeitura, contra o candidato José Gildo Rodrigues, da oposição e dos Medeiros, na mais acirrada campanha política já vista no município.

Na penúltima urna, Gildo Rodrigues vencia por uma diferença de sete votos, mas, na última, Wanderley de Alencar passou à frente, ganhando as eleições também por sete votos. O MDB protestou, alegando fraude e exigiu a recontagem, com o que Nepomuceno Marques não concordou – e a briga por estes votos continuaria por vários meses, chegando a agressões pessoais.

Ao interpretar o juiz Gabriel de Freitas Soares, que decidira recontar os votos, Nepomuceno Marques foi esbofeteado pelo magistrado em plena avenida Moreira Lima, na capital alagoana. O Tribunal Superior Eleitoral, por sua vez, anulou a recontagem, confirmando a prefeitura para Florisval Wanderley. Mas a disputa – que continuou, no Supremo Tribunal Federal – deixaria marcas profundas. Nepomuceno nunca perdoou nem o juiz Gabriel Soares, nem os Medeiros, que nunca ocultaram seu ódio por ele. E os dois lados jamais negaram seu desejo de ver os inimigos mortos.

 

 

Sete votos ou 20 000 podem ter sido os motivos que levaram os assassinos do ex-deputado Nepomuceno a cometer o primeiro crime político ocorrido no governo de Divaldo Suruagy, em Alagoas, interrompendo uma trégua surpreendente par um Estado conhecido pela violência com que são resolvidas muitas questões políticas locais.

Nepomuceno Marques chegou em casa, na cidade de Santana do Ipanema (40 000 habitantes, a 210 quilômetros de Maceió), dia 28 de janeiro, às 23h30, voltando de uma viagem à capital, onde fora se encontrar com o governador. Na cerca de arame farpado que protege sua propriedade, despediu-se do amigo e afilhado político Florisval Wanderley de Alencar, prefeito da vizinha cidade de Poço das Trincheiras e fechou a cancela. Foi então,que começaram os tiros.

Na escuridão da noite, o atirador errou três vezes e, mesmo atingido nas costas pelas duas balas restantes, Nepomuceno ainda encontrou forças para tentar fugir, enquanto pedia socorro a Maria Anete Oliveira, 24 anos, sua terceira mulher. Na penumbra, Anete pode ver apenas o vulto de um homem alto e magro que, com uma “peixeira”, perseguia o ex-deputado, terminando por feri-lo com sete facadas. Nepomuceno morreu antes de chegar ao hospital.

(Fonte: Veja, 8 de fevereiro de 1978 – Edição 492 – ALAGOAS – Pág: 26/27)

Powered by Rock Convert
Share.