Agathe Uwilingiyimana (Nyaruhengeri, 23 de maio de 1953 – Kigali, 7 de abril de 1994), foi primeira-ministra de Ruanda de 18 de julho de 1993 até seu assassinato em 7 de abril de 1994, durante o estágio inicial do Genocídio em Ruanda.
Uwilingiyimana foi a primeira mulher a atuar como chefe de governo de Ruanda.
Tragédia africana
Juvenal Habyarimana (8 de março de 1937 – Kigali, 6 de abril de 1994), chefe de Estado, foi o terceiro presidente da República de Ruanda, cargo que ocupou mais tempo do que qualquer outro presidente até o momento, de 1973 até 1994.
Durante seu reinado de 20 anos, favoreceu o seu próprio grupo étnico, os hutus, e apoiou a maioria hutu no vizinho Burundi contra o governo tutsi.
Na noite de 6 de abril de 1994, o avião que levava os presidentes Juvenal Habyarimana, de Ruanda e Cyprien Ntaryamira, do Burundi, foi derrubado, por foguetes, quando aterrissava em Kigali, capital de Ruanda. Os dois voltavam de uma conferência de paz na Tanzânia, onde haviam discutido soluções para o conflito étnico que há séculos dizima as populações dos dois países.
Tanto em Ruanda como no Burundi, vizinhos de fronteiras indistintas no coração da África, as etnias tutsi e hutu engalfinham-se numa luta pelo poder que repete, em escala assustadora, os descaminhos de tantas nações africanas – guerra tribal, anarquia, miséria e morte.
Os dois presidentes mortos pertenciam à etnia hutu, majoritária nos dois países, ambos igualmente paupérrimos. Em Ruanda, nem bem recuperada de uma guerra civil que durou três anos, a morte do ditador que ocupava o poder há mais de duas décadas detonou um novo banho de sangue.
Soldados da guarda presidencial, leais ao líder assassinado, vingaram-se matando a primeira-ministra, Agathe Uwilingiyimana, que era da etnia tutsi.
Em Burundi, havia paz relativa, porque as marcas do último conflito armado ainda estava fresca na memória. Os hutus, 85% da população local, passaram séculos oprimidos pela minoria tutsi, um povo de distante origem etíope, que manda no Exército.
Em junho de 1993 o país realizou suas primeiras eleições democráticas. Ganhou um hutu, Melchior Ndadaye, que logo tratou de podar os privilégios de seus rivais tutsis. Foi deposto e morto por um golpe em outubro de 1993. Desde então, calcula-se que 100 000 pessoas, em um daqueles estarrecedores espasmos de violência aos quais só se atem quando a tragédia já está consumida, tenham morrido na luta tribal que varreu o país. O golpe não obteve êxito e, semanas depois, o presidente Ntaryamira, morto em 6 de abril, foi empossado.
Depois da queda do avião, e a morte de Ntaryamira, Ruanda se cobria de sangue, começava na África do Sul um encontro destinado a aparar as arestas entre os zulus de Mangosuthu Buthelezi e o Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela. Buthelezi reivindicava soberania para sua província, KwaZulu, e se recusava a participar das eleições marcadas para 26 de abril, primeiras em que cada negro sul-africano teve direito a um voto.
Do resultado deste encontro dependerá o futuro da África do Sul, castigada pelos violentos conflitos entre zulus e partidários de Mandela. Se houver acordo, a África do Sul pode-se transformar na esperança do continente – um país com o governo negro no qual várias etnias convivem civilizadamente e deslancham uma economia já incomparavelmente evoluída. A alternativa é Ruanda.
As mortes desencadearam o genocídio de Ruanda.
(Fonte: Veja, 13 de abril de 1994 – ANO 27 – N° 15 – Edição 1335 – INTERNACIONAL – RUANDA – Pág: 43)