Airton Pavilhão levou um único drible: da morte
Airton Ferreira da Silva (Bairro Santa Cecília, 31 de outubro de 1934 – Porto Alegre, 3 de abril de 2012), o Pavilhão, ex-zagueiro, um dos maiores jogadores da história do Grêmio.
UM CRAQUE COMO MUITO POUCOS
Quando Airton Ferreira da Silva, o Pavilhão, nasceu, no 31 de outubro de 1934, no Bairro Santa Cecília (antigo Caminho do Meio), próximo ao Estádio Timbaúva, do Grêmio Esportivo Força e Luz, seu pai, o sapateiro Argemiro, jamais poderia imaginar que a família abrigaria um dos maiores zagueiros do Brasil em todos os tempos.
Mas foi isso o que aconteceu com o guri que catava vidro e papel para ajudar a família. Depois de ter participado, aos 12 anos, da escolinha comandada por Vicente Rao, no Inter, Airton foi treinar no Força Luz e trabalhar numa fábrica de móveis.
Em 1950 voltou às divisões de base coloradas, onde teve como técnico o jornalista Jorge Mendes. Depois de ver o Força e Luz ser goleado pelo Inter por 10 a 1, a irritação levou-o para o Grêmio, após ter tornado-se profissional no time do seu bairro.
Ao vestir pela primeira vez a camisa azul, branca e preta, em 1º de setembro de 1954, num Gre-Cruz, Airton transformou-se no maior ídolo do Estádio Olímpico, onde reinou por vários anos na grande área.
Foi um craque na acepção mais completa da palavra. Elegância, sobretudo, era a principal característica de seu futebol. Dava gosto vê-lo em campo tratando a bola com os mimos devidos a uma filha querida.
Na crônica do melhor futebol do Brasil sempre constará o nome de Airton Pavilhão. E no meu coração fica o sentimento de saudade pelo amigo sempre alegre e bem-humorado, ontem falecido.
Faça-se, hoje à noite (4 de abril de 2012), antes de iniciar Ipatinga x Grêmio e Inter x Santos, um minuto de silêncio a um zagueiro eternizado com o brilho do seu talento.
PAVILHÃO: A ORIGEM DO APELIDO
Foi o então presidente Saturnino Vanzelotti, do Grêmio, quem mandou chamar o guri grandalhão do Força e Luz. Era 19 de julho de 1954.
Airton, que até então era só Ferreira da Silva, atendeu à convocação do dirigente e foi ao Edifício Brasília, no Centro de Porto Alegre. Assinou um dos contratos mais malucos da história do futebol. O Grêmio pagou 50 “abobrinhas”, as notas alaranjadas de mil cruzeiros.
De gorjeta, cedeu seu pavilhão da antiga Baixada, o histórico estádio que se localizava na altura do Parcão, no Bairro Moinhos de Vento e, àquela altura, estava sendo desativado. Em setembro daquele ano, o Grêmio passaria a usar o Olímpico.
Pois o pavilhão foi remontado no campo da Timbaúva, na Rua Alcides Cruz, hoje Bairro Santa Cecília, e Airton continuou no Grêmio. Em seguida, a imprensa adotou então o apelido que vinha das ruas: Airton Pavilhão.
Já o pavilhão permaneceu na Timbaúva até os anos 90, quando o Grêmio recomprou a estrutura, já deteriorada. A intenção era reconstruir no centro de treinamentos do Cristal a arquibancada de madeiras grossas e fazer dela um monumento histórico, algo que lembrasse o suntuoso abrigo da velha Baixada.
O problema é que o madeirame, que havia anos sofria o ataque de cupins, foi esquecido ao relento a um canto do campo no Cristal. Logo a direção se viu obrigada a se desfazer das vigas e tábuas por impossibilidade de uso.
Curiosidades
– Aírton fazia truques: um deles era jogar a bola para cima e, antes que voltasse ao solo, dar outro balão, fazendo-a subir e a torcida no Olímpico urrar. Na descida, Aírton aparava-a na ponta da chuteira.
– Em outro, arrastava a bola até a bandeirinha de escanteio e, de lá, mandava-a “de letra” sobre as cabeças dos atacantes, nas mãos do goleiro do Grêmio.
– Aírton não fazia faltas. Na única vez em que cometeu esta infração, sobre o centroavante colorado Larry, saiu de campo lesionado.
– Em um Gre-Nal, virou lenda a história de ter tirado de cabeça 40 bolas da área gremista.
– Consta que o primeiro drible que levou de um centroavante foi no fim de sua carreira, quando estava prestes a se aposentar.
– Na Seleção Brasileira, Aírton dividiu o campo com outros gênios, como Garrincha, Pelé, Zagallo e Zito.
– Segundo o colega de Grêmio Alcindo, Pelé teria dito, sobre Airton: “Aquele cara me marcou sem fazer falta! Sem nem me tocar. E me marcou, realmente me marcou.”
– Clubes que defendeu – Força e Luz (1949 a 1954), Grêmio (1954 e 1961), Santos (1960), Grêmio (1961 a 1967), Cruzeiro (1968) e Cruz Alta (1969 a 1971).
– No Grêmio, de 1956 a 1960 e de 1962 a 1967, conquistou 11 títulos gaúchos.
Airton Pavilhão, 77 anos, morreu dia 3 de abril de 2012, de infecção generalizada. O ex-zagueiro estava internado no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre. O velório transcorreu no salão nobre do conselho deliberativo do Grêmio, no Estádio Olímpico. O clube decretou luto oficial de três dias. O corpo foi enterrado no Cemitério João XXIII, em Porto Alegre.
(Fonte: www.clicrbs.com.br/especial/rs/diario-gaucho – Kenny Braga: Colunista do Diário Gaúcho – Esportes – 04/04/2012)