Robbe-Grillet, pai do “nouveau roman”
Escritor francês era expoente da geração que rompeu com a narrativa tradicional
Autor do roteiro de “O Ano Passado em Marienbad” e de “A Retomada”
Foi um dos mais destacados praticantes do “Nouveau Roman”
Alain Robbe-Grillet (Brest, 18 de agosto de 1922 – Caen, 18 de fevereiro de 2008), escritor e cineasta, “enfant terrible” do establishment literário francês que ajudou a fundar a escola do novo romance, nos anos 1950.
O escritor Alain Robbe-Grillet, foi o grande nome do “nouveau roman”, movimento literário que marcou a França nos anos 50 e 60. Também ensaísta e cineasta, Robbe-Grillet é autor do roteiro de “O Ano Passado em Marienbad”, clássico de Alain Resnais que antecipou em 1961 a ousadia formal que Jean-Luc Godard e outros nomes da nouvelle vague seguiriam nos anos seguintes. Robbe-Grillet também se antecipou às experiências formais da escritora Marguerite Duras com o cinema.
Robbe-Grillet escreveu em 1963 “Pour un Nouveau Roman” (por um novo romance), defendendo as linhas gerais de um movimento que também era representado por Claude Simon, Nathalie Sarraute e Michel Butor.
A corrente representava uma ruptura com a estrutura romanesca predominante, recusava a linearidade narrativa e a ordem cronológica, fórmulas que os escritores consideravam visar o grande público. O movimento privilegiava a descrição e também ficou conhecido como a “escola do olhar”.
O escritor foi eleito em 2005 para a Academia Francesa de Literatura. Também era autor de “Os Últimos Dias de Corinto”, “A Retomada” e “Por que Amo Barthes” e deixa dezenas de obras.
“A Retomada”, lançado em 2001, marcou a volta do autor aos romances depois de longa ausência e é uma história de espionagem ambientada no pós-guerra em Berlim.
Robbe-Grillet tornou-se figura cult entre intelectuais franceses do pós-guerra, com um gênero de romance que rejeitava convenções como trama, caracterização e emoções.
O gênero lançou um tipo de ficção semifilosófica em que pouco acontece, mas muita coisa é observada, imaginada ou pensada.
Após a publicação de “Les Gommes” em 1953, Robbe-Grillet lançou mais de uma dúzia de romances ao longo de 20 anos, incluindo “Le Voyeur”, em 1955, e “La Jalousie” em 1957.
Mas o gênero frio que ele ajudou a fundar, frequentemente destituído de foco narrativo mas obcecado com a descrição de objetos inanimados, não agradou ao grande público e nunca chegou a ser largamente aceito.
No auge de sua fama, em 1961, ele foi convidado a escrever o roteiro do filme “O Ano Passado em Marienbad” — quase um reflexo do “novo romance” em forma cinematográfica, com a interação repetitiva e onírica entre três personagens sem nome.
A partir desse momento, Robbe-Grillet dedicou-se sobretudo ao cinema, não apenas escrevendo roteiros mas também dirigindo vários filmes, incluindo “La Belle Captive”, em 1983.
Ele não chegou a ser largamente conhecido na Europa exceto em seu país, mas ganhou alguma fama nos EUA e lecionou em Nova York e St. Louis por muitos anos, até 1990.
Em outubro de 2007 ele chocou o establishment francês ao lançar “Um Romance Sentimental”, que continha descrições de incesto e pedofilia. Fez pouco caso das críticas, dizendo que o livro não era parte de sua obra séria.
Em 2004 Robbe-Grillet foi eleito para a Academia Francesa, que atua como guardiã da língua francesa.
Entretanto, rebelde até o final, ele se negou a submeter-se às condições de ingresso na academia, que incluíam a compra de um traje cerimonial e prestar uma homenagem a seu predecessor. Por essa razão, não chegou a ser formalmente aceito na organização.
Polêmico
A influência recente de Robbe-Grillet no panorama literário francês era pequena. Mais influente no exterior do que na França, era considerado uma figura polêmica e controversa por defender suas posições com agressividade.
O “nouveau roman” tinha pouca ou nenhuma repercussão em nomes literários contemporâneos como Michel Houllebecq, por exemplo, que considerava o exercício estilístico do movimento um dos fatores que afastaram as novas gerações da literatura francesa, atualmente em crise.
Nascido em Brest, em 1922, o autor tinha formação de engenheiro agrônomo e tinha estudado letras clássicas. Seus primeiros livros foram recusados por grandes editoras nos anos 50. Georges Bataille, Maurice Blanchot e Roland Barthes foram apoios decisivos para sua carreira no período, que teve “O Ciúme” (ed. Nova Fronteira) como uma de suas principais obras iniciais.
Como outras obras que o marcaram, “O Ciúme” é enigmático, marcado por registros fotográficos, econômico em intrigas e em ação. Sua literatura era considerada ultra-sofisticada e fria, marcada por espaço e tempo desestruturados. Entre suas principais obras estão “Les Gommes” (1953) et “Le Voyeur” (1955).
O autor lecionou na Universidade de Nova York até 1997. Ele publicou mais recentemente na França “Préface à la vie d’écrivain” (prefácio à vida de um escritor, 2005), que reunia suas entrevistas.
Robbe-Grillet tinha presença confirmada em 2008 no seminário Fronteiras do Pensamento, que acontece em Porto Alegre (RS).
Robbe-Grillet morreu em 18 de fevereiro de 2008, aos 85 anos, no hospital na cidade de Caen, na Normandia.
(Fonte: http://br.reuters.com – Por Richard Balmforth – PARIS (Reuters) – 18 de fevereiro de 2008)
(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada – FOLHA DE S.PAULO – ILUSTRADA / Por MARCOS STRECKER DA REPORTAGEM LOCAL – São Paulo, 19 de fevereiro de 2008)
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