Alan Turing (Londres, 23 de junho de 1912 – Wilmslow, Cheshire, 7 de junho de 1954), cientista da computação britânico, foi pioneiro na teoria dos computadores e podemos considerá-lo o pai do computador contemporâneo. Se isso não bastasse, Alan Turing foi ainda o homem que decifrou o código Enigma, usado pelos alemães na Segunda Guerra Mundial, contribuindo para a virada e a vitória dos aliados. Seu brilhante trabalho teórico com os primeiros computadores britânicos só foi reconhecido após a publicação de sua biografia por Andrew Hodges nos anos 80.
A partir dela foi possível saber por que Turing, um sujeito excêntrico e um gênio da matemática, tornou-se a principal figura na história do computador. Apesar de sua fundamental contribuição, ele foi totalmente esquecido após sua morte prematura, talvez pelo preconceito em relação a sua homossexualidade. Turing chegou, em alguns momentos de sua vida, a ver a si mesmo como uma espécie de computador. Graças ao seu trabalho, antes mesmo do primeiro computador ser desenvolvido já era possível saber quais os limites dessa que é uma das maiores realizações tecnológicas da humanidade. Turing mostrou o que um computador seria capaz de computar e que eles poderiam desenvolver sua própria inteligência artificial.
Alan Turing e a matemática
Alan Turing nasceu em Londres em 23 de junho de 1912 numa família de classe média alta. Ainda bebê foi abandonado pelos pais, deixado aos cuidados de um coronel reformado e sua esposa e depois educado em um internato. O pai de Alan estava no Serviço Civil indiano e junto com a mãe voltou para a Índia, na época colônia britânica, no ano seguinte ao nascimento do futuro matemático. Esse distanciamento precoce, que muitos pais ingleses viam como normal, trouxe sequelas para Alan, como uma gagueira acentuada e uma autossuficiência que caracterizava-se pela excentricidade.
Quando os pais dele definitivamente retornaram da Índia, optaram por morar na Bretanha (França). Alan aprendeu o francês rapidamente e ingressou numa prestigiosa escola pública em Dorset. Lá descobriu seu profundo interesse pela matemática. E também mostrou seu talento para corridas de longa distância. Por conta própria, estudava assuntos como relatividade e criptografia. Nessa época, conheceu Christopher Morton, estudante que era visto como o melhor matemático do colégio. Os interesses comuns pela matemática criaram uma forte amizade entre eles. Para Turing, no entanto, aquilo era mais do que uma amizade. Ele estava apaixonado por Christopher. Mas Turing não era capaz de admitir e quando Morton, alguns anos depois, morreu em função de uma tuberculose bovina, Turing ficou arrasado.
Contemplado com uma bolsa para o Kings College, em Cambridge, Turing enquanto estudava matemática tentava em silêncio compreender sua sexualidade. No Kings, ele voltou suas atenções para a lógica matemática. Algumas décadas antes, dois professores de Cambridge, Bertrand Russell e Alfred Whitehead, haviam publicado Principia Mathematica, uma obra que tentava fornecer um fundamento filosófico para a matemática. Desde então, ela tinha se desenvolvido a ponto do enfant terrible da lógica, o austríaco Kurt Gödel ter concluído que a matemática e a própria lógica eram ilógicas!
Turing começou então a se dedicar a descobrir quais eram os procedimentos mecânicos que poderiam ser usados para se determinar se uma proposição matemática era ou não suscetível de prova. Ele sugeriu o conceito de uma máquina capaz de identificar proposições arbitrárias num sistema matemático. Nesse conceito o cálculo era definido em termos matemáticos precisos. Turing estabeleceu o projeto teórico de uma máquina que poderia desempenhar essa tarefa. Com isso, ele definira os limites de tudo o que o computador poderia fazer no futuro.
Alan Turing: do Enigma ao computador
As conclusões que Alan Turing chegou a respeito das noções matemáticas centrais da computabilidade e dos números computáveis foram publicadas no artigo On computable numbers, with an application to the Entscheidungsproblem. Lançado em 1937, o artigo de Turing era revolucionário, mas poucos conseguiram perceber isso. Atualmente, a máquina proposta por Turing é reconhecida como o protótipo do computador digital eletrônico.
Na época da publicação do artigo, o pai do computador estava fazendo doutorado em Princeton, nos EUA. Ali ele circulava entre os deuses da ciência, como Albert Einstein, Kurt Gödel, Johnny von Neumann, entre outros. O matemático austro-húngaro von Neumann foi quem viu no trabalho de Turing uma façanha que tinha criado um ramo de conhecimento inteiramente novo. Para Neumann, o passo seguinte era construir a máquina de Turing.
Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, Turing foi encarregado de comandar uma equipe de decifração de códigos, dentro de um projeto ultrassecreto. Refratário à disciplina militar, com uma conduta social desconcertante e parecendo não levar a sério o que estava fazendo, Turing teria um papel crucial na revelação do Enigma, o indecifrável código de comunicação entre as tropas alemãs. A tarefa dele era gigantesca.
Para decifrar as mensagens, Turing e sua equipe construíram uma máquina eletromagnética que percorria em alta velocidade as imagens com o código Enigma em busca de quaisquer regularidades, traços recorrentes ou combinações que pudessem ser decifradas. Essa máquina foi chamada de Colossus e começou a operar em dezembro de 1943. Ela foi considerada a percussora do computador digital eletromagnético. Seus cinco processadores tinham capacidade para escanear 25 mil caracteres por segundo. Graças a essa máquina conseguiu-se decodificar todas as comunicações alemãs.
O trabalho bem-sucedido de Turing com a Colossus o fez aprofundar seus conhecimentos sobre mecanismos eletrônicos e refletir sobre como deveria fazer para as máquinas imitarem a mente humana. Após a guerra, Turing começou a trabalhar no National Physical Laboratory, próximo a Londres. Lá encabeçou o projeto de construção de uma máquina automática de computação. Após, voltou para Cambridge onde desenvolveu sua ideia de que as máquinas podiam aprender. Um ano após chegar a Cambridge, mudou-se para a Universidade de Manchester para assumir o cargo de vice-diretor do laboratório de computação, onde estava sendo construída a Manchester Automatic Digital Machine (MADAM), o primeiro computador eletrônico com programas armazenados. O trabalho com a MADAM levou Turing a expor suas ideias sobre a inteligência artificial em artigos como Computing machinery and intelligence, publicado em 1950.
Enquanto desenvolvia seu trabalho teórico, agora estendendo-se também à morfogênese, Turing foi eleito para a Royal Society. Nessa época ele mantinha um comportamento de, após longas jornadas de trabalho, procurar jovens homossexuais para acompanhá-lo em suas solitárias noites. Numa dessas ocasiões um incidente fez sua homossexualidade vir a público através da imprensa. Em tempos em que ser homossexual era crime e doença na Inglaterra, para escapar da prisão ele concordou em submeter-se a um tratamento hormonal que iria curá-lo. O tratamento o deixou impotente e a excepcional forma física que tinha mantido como atleta corredor foi se embora. Com a identidade sexual comprometida e sem perspectivas mais atraentes em suas pesquisas, Alan Turing se suicidou em 7 de junho de 1954, ingerindo uma maçã com cianeto.
(Fonte: www.informatica.hsw.uol.com.br – por Editores do HowStuffWorks – Este artigo é um resumo do livro Turing e o Computador em 90 minutos, de Paul Strathern, da coleção Cientistas em 90 minutos da Jorge Zahar Editor, publicado em 2000)