Alberto da Costa e Silva, escritor da ABL e vencedor do Prêmio Camões
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O poeta Alberto da Costa e Silva — Foto: Guilherme Gonçalves/ABL
Alberto da Costa e Silva (nasceu em São Paulo, em 12 de maio de 1931 – faleceu em 26 de novembro de 2023, no Rio de Janeiro), professor, poeta, ensaísta, memorialista e historiador.
O diplomata, poeta e ensaísta Alberto, era membro e ocupava a cadeira n° 9 da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2000 e foi presidente da entidade entre 2002 e 2003.
O escritor venceu o Prêmio Camões em 2014 e é um dos principais especializados em África e suas relações com o Brasil. Alberto escreveu mais de 26 livros e recebeu três vezes o Prêmio Jabuti. Em 1997 por Ao Lado de Vera, em 2000 por Poemas Reunidos e em 2003 por A Manilha e o Libambo: a África e a Escravidão, de 1500 a 1700.
Alberto Vasconcellos da Costa e Silva nasceu em São Paulo, em 12 de maio de 1931. Filho do poeta Antônio Francisco da Costa e Silva, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1943. Aos 26 anos, tornou-se diplomata. Foi embaixador na Nigéria (1979-83), em Portugal (1986-90), na Colômbia (1990-93) e no Paraguai (1993-95).
O escritor foi Doutor Honoris Causa em Letras pela Universidade ObafemiAwolowo (ex-Universidade de Ifé), da Nigéria, em 1986, e em História pela Universidade Federal Fluminense, em 2009, e pela Universidade Federal da Bahia, em 2012.
Especialista na cultura africana
Além de diplomata, Alberto da Costa e Silva atuou como poeta, ensaísta, memorialista e historiador. O trabalho dele foi importante para o desenvolvimento de estudos sobre o continente africano. Ao todo, ele foi autor de mais de 40 livros, entre poesia, ensaio, história, infanto-juvenil, memória, antologia, versão e adaptação.
Muito ligado à cultura e à história africana, Alberto Costa e Silva teve seu primeiro contato acadêmico com a África através do livro ‘Os Africanos no Brasil’, de Nina Rodrigues, e ‘Casa Grande e Senzala’, de Gilberto Freyre.
Sua primeira viagem à África ocorreu no início de sua carreira, quando integrou a comitiva do ministro das Relações Exteriores Negrão de Lima, representante do Brasil nas cerimônias de independência da Nigéria, em 1960.
Alberto também se formou Doutor Honoris Causa em Letras pela Universidade Obafemi Awolowo (ex-Universidade de Ifé), da Nigéria, em 1986.
Por conta de sua carreira acadêmica e seus trabalhos sobre a história africana, em 2014, o diplomata recebeu o Prêmio Camões. E em 2003, o Prêmio Juca Pato.
Além de embaixador na Nigéria e no Benin, Alberto também foi embaixador em Portugal, entre 1986 e 1990, na Colômbia, entre 1990 e 1993, e no Paraguai, entre 1993 e 1995. Já entre os anos de 1995 e 1998, o ex-presidente da ABL foi Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores.
Ex-presidente da ABL
Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000, Alberto foi o quarto ocupante da cadeira nº 9, na sucessão de Carlos Chagas Filho.
O diplomata presidiu a ABL nos anos 2002 e 2003. Na academia, ele também ocupou os cargos de secretário-geral, primeiro-secretário e diretor das bibliotecas. Era também Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História.
Nascido em São Paulo, no dia 12 de maio de 1931, Alberto morou em Fortaleza, onde fez o ensino primário e secundário. Em 1943, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde se formou pelo Instituto Rio Branco em 1957.
Alberto da Costa e Silva faleceu na madrugada do domingo, 26, aos 92 anos, no Rio de Janeiro. Segundo a Academia Brasileira de Letras, o acadêmico morreu de causas naturais.
Alberto Silva deixou três filhos – Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel – sete netos e uma bisneta.
Merval Pereira, presidente da ABL:
“A morte do Alberto da Costa e Silva tem efeitos múltiplos, todos negativos para a cultura brasileira, que perde um dos seus maiores intelectuais de todos os tempos. Para o estudo da África, o Alberto é um dos maiores, senão, o maior africanólogo brasileiro e tinha uma dimensão histórica, política sobre nossas relações com a África e dava a importância que ela sempre teve mas nunca foi, devidamente, enaltecida como ele fez nos seus livros. Ganhou o Prêmio Camões, que é o maior prêmio da Língua Portuguesa, exatamente por essa especificação da importância da África no desenvolvimento brasileiro. Alberto era um grande poeta, um grande intelectual, um grande diplomata e, internamente, nós da ABL perdemos uma das nossas bússolas. Alberto dava a direção correta, Alberto dava a solução correta quando tínhamos dúvida, Alberto nos orientava na direção certa. Acho que é uma perda que tem consequências graves para a ABL, para a cultura brasileira e para o Brasil como um todo”.
Marco Lucchesi, acadêmico da ABL:
“Alberto da Costa e Silva não devia morrer, não podia morrer. Um homem profundamente apaixonado pela vida, pela cultura e pela liberdade. Alberto é uma espécie de grande maestro que regia instrumentos de uma orquestra que ele guardava dentro de si. A poesia, a memória, a literatura, a história. Era um grande maestro que tinha a poesia como centro e como base. Também olhava para o Brasil e África e acreditava que a África seria capaz de aprofundar e ilustrar o conhecimento do próprio país. Não era o Atlântico que nos separava enquanto oceano, mas era simplesmente um rio chamado Atlântico. Ele buscou nas duas margens compreender esse Brasil profundo. Alberto da Costa e Silva um dia estava ouvindo Bach, a “Paixão Segundo São Mateus “, e ele que não acreditava em Deus disse que, talvez naquele momento, havia uma hipótese que ele recusava de imediato de acreditar em Deus. Se ainda houver em algum ponto do universo Deus e a música de Bahr, Alberto vai se apresentar diante dos dois e dizer que a sua vida não foi inútil. O compromisso com o país foi profundo e que sua vida deixa um legado luminoso para todos nós”.
Muniz Sodré, jornalista e sociólogo:
“A passagem de Alberto da Costa e Silva é uma perda para o conhecimento latino-americano da África. Mas Alberto da Costa e Silva não é apenas, nem foi apenas, um dos mais importantes historiógrafos, cronistas ou historiadores desse continente. Alberto da Costa e Silva foi um intelectual que revisitou a África como um teatro de sombras do pensamento ocidental. Alguém que escrevendo resistiu às tentativas de objetificação do homem africano porque via ali uma outra humanidade. Uma humanidade potencial com repercussões sobre o resto do mundo. Especialmente, sobre a formação do povo, sobre a formação da nação brasileira. E isso com uma prosa exemplar, com uma poética invejável que tinha Alberto da Costa e Silva. Eu acho que é como esse ancestral da escrita sobre a África que ele vai permanecer em nossa memória”.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República:
“Muito triste com falecimento do grande embaixador, grande escritor, grande pensador, Alberto da Costa e Silva. Convivi com ele em vários momentos da minha carreira. Ele foi um excelente promotor de atividades culturais em Roma, quando eu era chefe da divisão cultural, inclusive, com uma tradução do Monteiro Lobato. Depois ele foi embaixador da Nigéria, quando se tornou um grande especialista em África, certamente já era. Era um poeta também. Convivi com ele quando fui ministro do presidente Itamar e ele era embaixador na Colômbia quando nos ajudou a criar a comissão de vigilância entre o Brasil e a Colômbia. Sempre me pareceu uma pessoa extremamente hábil, firme e hábil ao mesmo tempo. Por isso, o enviei para um país em que as relações são sempre complexas que é o Paraguai. Lamento até não ter convivido mais com ele, depois se tornou um acadêmico. Continuei mantendo boas relações. E ele é uma fonte de inspiração para todos aqueles que amam a África, que querem uma política externa do Brasil condizente com as nossas origens africanas, inclusive, o livro muito famoso “Um Rio chamado Atlântico” e a “Enxada e a Lança”.
Lilia Schwarcz, historiadora e antropóloga:
“Alberto da Costa e Silva foi um brasileiro fundamental para o Brasil. Ele foi poeta, foi acadêmico, foi embaixador, foi um historiador. Um historiador do continente africano. No momento em que o ocidente abandonou a África, Alberto adotou a África para si e para nós todos e todas. Ele tem uma obra fundamental mostrando o quanto devemos para a África, mostrando que entre a África e o Brasil há apenas um rio, um rio chamado Atlântico. Ele vai deixar muita saudade neste momento que nós vivemos, tão cheios de guerra, tão cheios de ódio. Ele que à sua maneira, sua maneira tão divertida até, erudita sempre, era um grande esperançoso. Vai fazer uma falta imensa, essa falta que o tempo não apaga mas que a memória e a obra lembram sempre”
Graça Lima, embaixador:
“Eu conheci o embaixador Alberto da Costa e Silva, em 1969, acabando de me formar fui lotado na assessoria de imprensa e o embaixador era o assessor político do embaixador Gibson Barbosa que acabava de ser designado ministro das Relações Exteriores. A perda do embaixador Costa e Silva é imensa, incomensurável. No sentido que ele é, não apenas, prestou um serviço primoroso para a diplomacia brasileira como se distinguiu como poeta, historiador, especialista em cultura africana. Escreveu diversos livros sobre África, tendo servido como embaixador na Nigéria, embaixador em Lagos. Teve uma carreira brilhante. Como eu disse como diplomata e também já mais para frente depois de aposentado como membro da Academia Brasileira de Letras. Aqueles que o conheceram sabem perfeitamente que o Alberto é digno de todo o carinho, todas admiração que por ele nós sentimos”.
Jorge Caldeira, escritor:
“Alberto Costa e Silva foi um diplomata apaixonado por aproximar o Brasil dos povos com que ele tinha contato, quando servia como embaixador. No meio desse trabalho, servindo na África, ele descobriu relações entre o Brasil e a África que tinham sido completamente esquecidas da história e ele foi atras de uma maneira muito apaixonada. Ele recriou certas relações com a África, que nós brasileiros nem conhecíamos”
“O livro que eu acho mais excepcional, que é um resumo de toda a obra dele, é a biografia que ele fez do Francisco Felix de Souza, o Chachá, que nasceu em Pernambuco e morreu como rei do Benin. Até hoje a família reinante do Benin é do Chachá. É um livro excepcional porque ele foi escrito fragmento por fragmento. Não tinha biografia, ninguém sabia, nenhum estudioso falava disso. E o Alberto, com muita paciência e um trabalho apaixonado e competente, reconstruiu essa vida e fez uma biografia que parece fácil de ler, mas que é um monumento de pesquisa historiográfica. Eu tive a honra de durante 30 anos dividir projetos, aprender e trabalhar com ele. Foi um mestre na minha formação”
(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Estadão Conteúdo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ por História por Redação – 26 de novembro de 2023)
(Créditos autorais: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/11/26 – RIO DE JANEIRO/ NOTÍCIA/ Por Roberta Pennafort, g1 Rio e TV Globo – 26/11/2023)