ÍCONE DO BOM JORNALISMO
Ele fundou o Observatório da Imprensa. Um dos jornalistas mais importantes do país, reformulou o “Jornal do Brasil”.
Alberto Dines influenciou o jornalismo de diversas formas
Percursor da crítica na imprensa
Alberto Dines (Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 19 de fevereiro de 1932 – São Paulo, 22 de maio de 2018), jornalista, professor universitário, biógrafo e escritor, foi o fundador do Observatório da Imprensa. Criado na década de 1990, o Observatório é uma iniciativa que analisa a atuação da imprensa.
Dines ingressou em 1962 no JORNAL DO BRASIL, onde foi responsável por uma profunda reformulação que levou o jornal a se consolidar na vanguarda da imprensa nacional.
Alberto Dines nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 19 de fevereiro de 1932, filho de Israel Dines e de Raquel Dines, ambos de origem judaica. Fez os cursos primário e ginasial em colégios israelitas do Rio de Janeiro.
Em 1943 teve sua primeira experiência jornalística como um dos organizadores do boletim estudantil Horta da Vitória, do Ginásio Hebreu Brasileiro. Cursou o científico no Colégio Andrews.
Iniciou sua carreira em 1952 como crítico de cinema da revista A Cena Muda. No ano seguinte foi convidado por Nahum Sirotsky para trabalhar como repórter na recém-fundada revista Visão, cobrindo assuntos ligados à vida artística, ao teatro e ao cinema. Passou a fazer reportagens políticas, cobrindo as campanhas de Jânio Quadros para a prefeitura de São Paulo em 1953 e, um ano mais tarde, para o governo do Estado.
Permaneceu na Visão até 1957, quando foi levado por Nahum Sirotsky (1925-2015) para a revista Manchete. Tornou-se assistente de direção e secretário de redação. Após desentendimentos com Adolpho Bloch, demitiu-se da empresa e tentou criar, com recursos próprios, uma revista que não chegou a ser editada.
Em 1959 assumiu a direção do segundo caderno do jornal Última Hora, depois foi diretor da edição matutina e, mais tarde, das duas edições diárias (matutina e vespertina).
No ano seguinte foi nomeado editor-chefe da recém-criada revista Fatos e Fotos, tendo colaborado, nessa ocasião, no jornal Tribuna da Imprensa, então pertencente ao Jornal do Brasil. Em 1960, convidado por João Calmon, dirigiu o Diário da Noite, dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, convertendo-o em tabloide vespertino. Deixou o jornal, demitido por Chateaubriand, por não obedecer a ordem de ignorar o sequestro do navio Santa Maria, em Recife, feito em protesto contra a ditadura de Antônio Salazar em Portugal.
JORNAL DO BRASIL
Ingressou em janeiro de 1962 no JORNAL DO BRASIL como editor-chefe, aos 30 anos e dez de profissão. Segundo o diretor Manual Francisco do Nascimento Brito, com a entrada de Dines, a reformulação do jornal foi afinal consolidada, pois ele sistematizou as modificações que levaram o JB a ocupar outra posição na imprensa brasileira.
Em 1963 Dines criou e ocupou a cadeira de jornalismo comparado na Faculdade de Jornalismo da PUC. No período fundou, dirigiu e colaborou regularmente com os Cadernos de Jornalismo e Comunicação do JORNAL DO BRASIL. Em 1965, instituiu a cadeira de Teoria da Imprensa na PUC, onde lecionou até 1966.
“Tempo negro. Temperatura sufocante” e a capa de Allende
Quando da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, coordenou a edição da célebre primeira página que se valeu de recursos como a previsão do tempo – “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos…” – e de um anúncio no alto da página: “Ontem foi o dia dos cegos”, como parte de uma estratégia para denunciar a censura imposta à redação a partir de então, em consequência da nova ordem política autoritária instalada.
Convidado para ser paraninfo de uma turma da PUC logo após a edição do AI-5, fez um discurso criticando a censura e, em consequência, foi preso em dezembro de 1968 e em janeiro de 1969 e submetido a inquérito. Em 1971, recebeu o prêmio Maria Moors Cabot da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Foi demitido em 1973 do JB, depois de 12 anos como editor. No JB, criou o Departamento de Pesquisa, a Editoria de Fotografia, a Agência JB e os Cadernos de Jornalismo. Um dos episódios que marcaram sua passagem pelo jornal foi a cobertura da deposição por golpe militar do presidente chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. Como a censura havia proibido a publicação de qualquer manchete sobre o assunto, Dines coordenou com o diagramador Ezio Esperanza a edição de uma primeira página sem manchete.
Jornalista, professor, biógrafo e crítico
Em 1974 deixou, depois de 12 anos, a Fatos e Fotos, viajando para os Estados Unidos, onde foi professor visitante, durante um ano, na Universidade de Columbia. Retornou em julho de 1975 e assumiu a chefia da sucursal carioca da Folha de São Paulo, convidado por Cláudio Abramo, diretor de redação. Em 1980, Dines deixou a Folha de São Paulo, demitido por Boris Casoy, após escrever um artigo denunciando a repressão do governador Paulo Maluf à greve do ABC. Colaborou, durante todo esse ano, no semanário O Pasquim, onde reeditou a coluna Jornal dos jornais. Nesse período, escreveu a biografia do escritor Stefan Zweig.
Em seguida assumiu o cargo de secretário editorial da editora Abril, em São Paulo. Como diretor-editorial-adjunto, participou da criação de revistas com a Exame de Portugal e instituiu os cursos de extensão e aperfeiçoamento.
Em Lisboa, entre 1988 e 1995, como diretor do grupo Abril em Portugal e consultor editorial da Sojornal ¾ que edita o maior semanário português, o Expresso, e o único vespertino do país, A Capital. Foi também diretor da empresa Jornalistas Associados, que prestava serviços de consultoria no Brasil e em Portugal. Em 1994 criou em Portugal o Observatório da Imprensa. Concluiu e editou a biografia de Antônio José da Silva, o Judeu, e o primeiro volume do livro Vínculos de Fogo.
De volta ao Brasil, em 1994 foi o responsável pela criação do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. Passou também a escrever, entre agosto de 1994 e setembro de 1995, uma coluna de crítica ao jornalismo na revista Imprensa.
Em abril de 1996, lançou a versão eletrônica do Observatório da Imprensa, jornal de crítica e debate sobre o jornalismo contemporâneo, que passou a ter uma edição na TV Educativa do Rio de Janeiro em maio de 1998, e meses depois passou também a integrar ao vivo a programação da Rádio e Televisão Cultura de São Paulo.
Voltou ao JORNAL DO BRASIL em outubro de 1998, onde passou a manter coluna semanal de crítica jornalística. Foi ainda consultor da Grande Enciclopédia Larousse e colaborador de O Estado de São Paulo e do Observador Econômico, de São Paulo. Fez estágios em jornais estrangeiros, como o Daily News e o New York Times, em Nova Iorque; o Daily Mirror, em Londres; o Paris Match e o Paris Jour, na França. Recebeu o título de notório saber em História e Jornalismo da Universidade de São Paulo (USP).
Casou-se pela primeira vez com Ester Rosali Dines, sobrinha de Adolfo Bloch, com quem teve quatro filhos. E, pela segunda, com a jornalista Norma Couri.
Publicou Vinte histórias curtas (contos, em co-autoria, 1960), Os idos de março e a queda de abril (co-autoria e organização, 1964), O mundo depois de Kennedy (1965), Jornalismo sensacionalista (em co-autoria, 1969), Comunicação e jornalismo (1972), Posso? (contos, 1972), O papel do jornal (1974), E por que não eu? (sátira política, 1979), A imprensa em debate (em co-autoria, 1981), Morte no paraíso – A tragédia de Stefan Zweig (biografia, 1981), O baú de Abravanel: uma crônica de sete séculos até Silvio Santos (biografia, 1990), Vínculos de fogo: Antônio José da Silva, o Judeu, e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil(biografia, 1992, volume 1), 20 textos que fizeram história (1992), As transformações da revolução global e o Brasil (1995), Diários completos do capitão Dreyfuss (organizador, 1995).
Carreira
Alberto Dines iniciou sua carreira no jornalismo em 1952 na revista “A Cena Muda” e, no ano seguinte, mudou-se para a revista “Visão” para cobrir assuntos ligados à vida artística, como teatro e cinema. Logo depois, passou a fazer reportagens sobre política.
Em 1957, ele trabalhou para a revista “Manchete”, até se demitir da empresa. Em 1959, assumiu a direção do segundo caderno do jornal “Última Hora”, de Samuel Wainer. Já em 1960, colaborou para o jornal “Tribuna da Imprensa”.
Em 1960, convidado por João Calmon, dirigiu o jornal “Diário da Noite”, dos “Diários Associados”, de Assis Chateaubriand. Já em 1962 tornou-se editor-chefe do “Jornal do Brasil”, no qual ficou por 12 anos. No jornal, ele coordenou uma grande reforma gráfica e criou novas seções.
Segundo Manuel do Nascimento Brito, diretor do “Jornal do Brasil”, com “a entrada de Dines, a reformulação do jornal foi afinal consolidada, pois ele sistematizou as modificações que levaram o JB a ocupar outra posição na imprensa brasileira”.
Desde 1963, Dines também era professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ele criou as disciplinas de Jornalismo Comparado e de Teoria da Imprensa.
Na promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, durante a Ditadura Militar, coordenou a edição da primeira página que usou termos da previsão do tempo para narrar o momento político – “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos…” – como parte de uma estratégia para denunciar a censura imposta à redação a partir de então.
Outro episódio que marcou sua passagem pelo jornal foi a cobertura do golpe que depôs o presidente chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. A censura havia proibido a publicação de manchetes sobre o assunto, então Dines coordenou a edição de uma primeira página sem manchete. O jornalista foi demitido do JB naquele ano.
Ele também tem passagem pela “Folha de S.Paulo” e a Editora Abril.
Observatório da Imprensa
Como site, nasceu em 1996, por iniciativa do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo e projeto original do Labjor, da Unicamp.
Em maio de 1998, o Observatório da Imprensa ganhou uma versão televisiva, produzida pela TVE do Rio de Janeiro e TV Cultura de São Paulo, e transmitida semanalmente pela Rede Pública de Televisão.
Repercussão
No Twitter, o presidente Michel Temer lamentou a morte de Dines. “O jornalismo brasileiro perde um dos pilares da ética e do profissionalismo. Alberto Dines passou pelos mais importantes veículos do país e criou uma geração de jornalistas comprometidos com a correção da informação. Meus cumprimentos à família.”
O jornalismo brasileiro perde um dos pilares da ética e do profissionalismo. Alberto Dines passou pelos mais importantes veículos do país e criou uma geração de jornalistas comprometidos com a correção da informação. Meus cumprimentos à família.
(Fonte: http://www.jb.com.br/pais/noticias/2018/05/22 – Jornal do Brasil – PAÍS – BRASIL – NOTÍCIAS – 22/05/2018)
(Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia – NOTÍCIA – SÃO PAULO / Por G1 SP – 22/05/2018)