Alexander Dubcek, ex-guerrilheiro e ex-ativista clandestino do PC eslovaco durante II Guerra Mundial

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Alexander Dubcek (Uhrovec, Checoslováquia, atualmente Eslováquia, 27 de novembro de 1921 – Praga, 7 de novembro de 1992), ex-serralheiro, ex-ferreiro da fábrica Skoda, ex-guerrilheiro e ex-ativista clandestino do PC eslovaco durante a Segunda Guerra Mundial, ex-Secretário do PC na pequena cidade de Trenchin, ex-Primeiro-Secretário do PC da Eslováquia, acabou de se tornar, apenas, ex-Primeiro-Secretário do PC da Checoslováquia e ex-“Militante Comunsta Perfeito” – um título que ele recebeu em 1955 dos mesmos soviéticos que provocaram sua morte política.

Serralheiro – Dubcek ainda não havia nascido e na distante América do Norte, seu pai, migrante que trabalhava em Illinois como carpinteiro, resolve voltar a seu país de origem, atraído pelas ideias de união checoslovaca, pregadas pelo filósofo e professor Tomás Masaryk. Vai para o povoado de Uhrovec e alguns meses depois, a 27 de novembro de 1921, nasce seu filho Alexander – por coincidência na mesma casa onde nasceu o maior herói da Eslováquia: o escritor e líder nacionalista Ljudovit Stur. Foi por questão de meses que o futuro liberal deixou de ser cidadão americano.

As condições ainda difíceis da Eslováquia levam Stefan Dubcek a tornar-se membro pioneiro do recém-formado PC checo. Em 1925 segue com a família para a URSS, onde ajuda a construir o primeiro Estado socialista, fundando uma cooperativa na Ásia soviética. Alexander cresce perto da fronteira da China e faz seus primeiros estudos na escola de Frunze. Aos dezessete anos, acompanha a família expulsa da União Soviética pelo expurgo stalinista, voltando à Eslováquia. Alista-se no PC, que fora declarado fora da lei, e começa a trabalhar como serralheiro na fábrica Skoda. Lá está ainda quando a democracia parlamentar chega ao fim por culpa do Pacto de Munique de 1938, que permitiu a Hitler a tranquila ocupação da Checoslováquia.

Promovido – A resistência no país foi pequena, exceto pelo levante de 1944, durante o qual Alexander Dubcek e seu irmão Julius lutaram nas montanhas. Julius foi morto e Alexander ferido. Em Trencin, anos depois, Dubcek trabalha numa fábrica de cerveja e consegue seu primeiro posto no comitê local do Partido. Joseph Smirkovsky (1911-1974), seu futuro aliado na batalha da liberalização, já é membro do Politburo nacional. Os comunistas, em 1948, conseguem o controle virtual do Governo e logo depois são realizadas eleições com uma lista única de candidatos.

O primeiro-ministro Klement Gottwald (1896-1953) inicia violenta política stalinista, que em 1953, após sua morte, atinge o auge. Começa o expurgo no Partido: o próprio secretário do PC, Rudolf Slansky (1901-1952), é julgado e executado; Smirkovsky é expulso do Partido e condenado à morte (sentença comutada posteriormente em cinco anos de prisão). O pacato Dubcek aceita ser promovido ao Comitê Central. E de 1958 a 1963 cursa a Escola de Ciências Políticas em Moscou – um de seus colegas de classe era Leonid Brejnev (1906-1982). Em 1963, já é secretário do PC na Eslováquia e membro do Presidium, enquanto Antonin Novotny (1904-1975) ocupa a suprema chefia do Partido. Alexander Dubcek torna-se, então, um burocrata de tempo integral.

Conspirador – Este tímido comunista eslovaco chegou à posição de chefe político nacional e de destaque mundial, que, em sua personalidade denunciava o futuro líder popular. Se alguém tivesse chegado a se interessar por ele não teria visto senão um militante sempre fiel à linha do Kremlin. Nos arquivos do Partido, as condições de sua subida ao poder são conservadas secretas. Restam as conjeturas, e elas revelam dois tipos de homem em completa oposição: o Dubcek conspirador, arquiteto da queda de Antonin Novotny e o Dubcek anti-herói, usado principalmente por ser elemento inexpressivo e dócil.

O conspirador começa a agir logo que atinge uma posição de poder real, como primeiro-secretário do Comitê Central checo (que abrange as províncias da Boêmia e Morávia). Passa a se distanciar cada vez mais da linha stalinista de Novotny, da qual emerge como o mais forte opositor. Com o tempo, ele articula um movimento unindo os líderes eslovacos dissidentes, os funcionários universitários, os intelectuais, os economistas e outros liberais. Quando Novotny viaja para Moscou, nas comemorações do 50º aniversário da Revolução Soviética, exclui propositadamente Dubcek da sua comitiva. A sós com os dissidentes, Dubcek unifica toda a oposição e quando Novotny regressa, encontra a resistência organizada que o derruba.

Sem inimigos – O outro Dubcek, o anti-herói, começa no clima tempestuoso que prenuncia as mudanças políticas de 1967. Ele é considerado um bom tipo, um “aparatchik”, que sobe sem dificuldade os degraus da hierarquia partidária porque é desconhecido, dócil e evita qualquer tipo de complicação. Apagado e leal funcionário do Partido, não é atingido jamais por expurgos ou perseguições. É o puro produto do PC e do stalinismo. Novotny está no fim mas com seus poucos adeptos luta ainda pela recuperação. Quando sente a inutilidade da luta, desiste e aceita a retirada de seu nome como primeiro-secretário do Partido, na reunião de janeiro de 1968.

Participa com o Comitê Central de intermináveis discussões para a escolha de um nome que o substitua no posto. Finalmente, em desespero, após uma noite de agitada vigília no Castelo Hradcany, sugere: “por que não ele?” E aponta Dubcek, que em silêncio, depois de horas, assistia afundado numa cadeira à tumultuada sessão. “O camarada Dubcek não tem inimigos, tem excelentes antecedentes no Partido, e acredito que seja a melhor solução conciliatória.” Após um momento de silencioso espanto, as cabeças se inclinam em sinal de aprovação. E Dubcek, sem saber muito bem como nem por que, herda o mais alto posto do Partido na Checoslováquia.

 

 

O atribulado líder do governo checo Alexander Dubcek, sofreu uma queda, na reunião plenária do Comitê Central do Partido Comunista checo, dia 17 de abril de 1969.

Dessa forma, por detrás de uma espessa cortina de silêncio que protegia o desenrolar do encontro do Partido, foi consumado um fato que já era uma realidade prática: diante dos 190 membros do Comitê Central reunidos no salão espanhol do Castelo de Praga, Dubcek, cuja orientação política reformista trouxe os tanques russos a Praga, foi afastado da chefia do Partido Comunista. Gustav Husak, severo líder “realista” do comunismo eslovaco, foi apontado como seu sucessor.

Fim de uma era – Na mesma noite, o povo checo ouviu a voz cansada do Presidente Ludvik Svoboda (1895-1979) anunciar pelo rádio as decisões tomadas pelo Partido. O fim de uma era tinha chegado, a longa marcha de um herói estava brutalmente encerrada.

Embora Dubcek, à medida que multiplicou suas concessões aos soviéticos, tenha perdido muito do respeito que inspirava à nação, seu penoso afastamento do Partido teve o efeito imediato de ressuscitar as simpatias perdidas.

Entretanto, os russos tiveram o cuidado de evitar uma solução limite para uma situação que se apresentava irreconciliável (eliminar totalmente Dubcek e erradicar seus vestígios, ou tolerar a continuidade do reformismo) e conseguiram ampliar seu raio de ação oficial sobre o poder checo: Dubcek foi afastado da chefia do Partido mas permaneceu entre os onze membros do novo e reduzido Presidium.

Desde as violentas manifestações anti-soviéticas de 28 e 29 de março de 1969, que levaram o país a uma nova crise com Moscou e aprofundaram as dissensões entre reformistas e comunistas ortodoxos, falava-se com insistência de um iminente golpe branco contra Alexander Dubcek.

Em 1968, quando uma prolongada crise de liderança no país o projetou inesperadamente no centro do poder, ninguém conhecia Alexander Dubcek.

Povo e liderança – Durante todo o reinado de Antonin Novotny (1904-1975), Alexander Dubcek foi um “aparatchik” dos mais eficientes: moderado, silencioso e discreto. Na famosa sessão plenária do Comitê Central, em janeiro de 1968, quando ele venceu o velho rei na eleição para Primeiro-Secretário do Partido Comunista, suas palavras foram a surpresa maior.

Talvez pressionado por alguns amigos mais radicais, Dubcek se revelou, de modo inesperado, o mais liberal de todos eles: “O povo está desgostoso com a liderança do Partido. E, como não podemos mudar o povo, mudemos a liderança.” Dos aplausos que recebeu no Comitê Central às flores que o povo lhe atirou nas ruas, uma corrente de emoções se libertou sobre o novo líder – e ele parecia verdadeiramente embaraçado com isso.

Sua missão era mais importante. E o seu desafio – imprensa livre, um parlamento responsável, eleições livres com candidatos de todas as áreas, direito de expressão legítima para a oposição, reformas econômicas – fez tremer as fundações da Europa comunista.

Do Palácio Hradcany, em Praga, Dubcek e seus companheiros de Governo tentaram, de várias maneiras, convencer os russos da sua fidelidade ao espírito e à forma do Pacto de Varsóvia. Mas a engrenagem política que os reformistas tinham despertado em janeiro de 1969 soou mais forte do que a sua sinceridade. “Nós só nos preocupamos com nossos interesses nacionais”, diria Dubcek, pouco antes de agosto. Para os russos, esses interesses nacionais queriam dizer “neutralidade”. O Pacto de Varsóvia estava virtualmente denunciado por aquela declaração.

Para o pequeno funcionário que aos 46 anos tinha chegado a ser o mais jovem líder comunista do mundo inteiro (depois de Fidel Castro), o fim veio melancólico e triste. Ninguém pode negar suas boas intenções.

(Fonte: Veja, 23 de abril de 1969 – Edição 33 – INTERNACIONAL – Pág: 22/24)

(Fonte: Veja, 8 de outubro de 1969 – Edição 57 – INTERNACIONAL – Pág: 48/49)

 

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