Alexander Neill, um dos mais importantes educadores contemporâneos, e dos grandes mestres renovadores

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A. S. Neill: acima de tudo, a liberdade individual

Foi pioneiro na aplicação teórica da gestão democrática nas escolas

Alexander Sutherland Neill (Forfar, Angus, 17 de outubro de 1883 – Aldeburgh, Suffolk, 23 de setembro de 1973), educador e escritor britânico.

Uma sociedade totalmente oposta à que Aldous Huxley imaginou em seu “Admirável Mundo Novo”: sem condicionamentos, espontânea e baseada exclusivamente na liberdade individual. Foi na tentativa de forjar esses futuros privilegiados que Alexander Sutherland Neill fundou, em 1921, sua pequena escola – Summerhill – na aldeia de Leiston, a 150 quilômetros de Londres.

Ao fazê-lo, Neill não pretendia mais do que “educar crianças para a felicidade”. Entretanto os métodos empregados para isso operaram uma revolução nos conceitos pedagógicos então vigentes e, até hoje, soam excessivamente avançados aos ouvidos de muitos educadores.

Filho de um obscuro mestre-escola escocês, ele tentou ingressar num curso superior. Neill não nascera, aparentemente, para desempenhar esse histórico papel. “Coloco Neill ao lado de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Henry Caldwell Cook (1886–1939), como os grandes mestres renovadores que trazem luz e amor aos lugares onde antes só havia tirania e medo, tanto no lar quanto na escola”, afirmou, certa vez, o pedagogo inglês sir Herbert Read (1893-1968).

 

Sem sucesso: apesar de aplicado, não conseguia aprender. Para os pais, só poderia haver uma solução: torná-lo um modesto mestre-escola para crianças, num canto qualquer do interior onde se exigisse o mínimo de um professor.

Foi assim que Neill fez a escola normal e, anos depois, conseguiu diplomar-se em literatura inglesa. Aos 38 anos de idade, enfim, após a longa série de fracassos iniciais e de amargas decepções com os sistemas tradicionais de ensino, ele pôde criar Summerhill – a obscura escolinha rural que parecia ser a única solução para um mestre sem talento. Logo ficaria claro, entretanto, que Summerhill estava destinada a ser muito mais que isso.

Através dela, Neill desenvolveu sua carreira como um dos mais importantes educadores contemporâneos, a partir de uma arrojada decisão inicial: lá, nada seria pecado e aprender, uma opção do próprio aluno.

Na prática, por espantoso que pareça, a ideia vem dando certo há mais de meio século. As crianças de Summerhill, de idade variável entre cinco e dezessete anos, sempre votaram as próprias leis e especializaram-se na função que realmente os interessava: “Tive um aluno que saiu sem ler e escrever, mas é um excelente operário especializado. De que adiantaria obrigá-lo a estudar, para torná-lo um desgraçado, cheio de complexos?”

 

De tudo o que Neill declarou ou escreveu, nada terá causado tanto impacto quanto “Liberdade sem Medo”. E a polêmica suscitada pelo livro acabou obrigando-o a escrever “Liberdade sem Excessos”, uma espécie de explicação. O que se segue é um resumo das principais concepções de autor contidas nas duas obras.

 

LIBERDADE – Muitas vezes deixa-se de compreender que liberdade para crianças não significa liberdade de ser idiota. Protegemos as crianças contra os perigos da maquinaria, dos automóveis, dos vidros quebrados, das águas profundas. Mas é preciso recordar que metadde dos perigos que elas correm são devidos à má educação. A criança que corre perigo junto ao fogo é a que teve proibição de conhecer a verdade sobre o fogo.

Ninguém pode ter liberdade social, pois o direito dos outros deve ser respeitado. Mas todos podem ter liberdade individual. Em termos concretos: ninguém tem o direito de obrigar um menino a estudar latim, porque aprender é assunto de escolha individual. Mas, por outro lado, numa aula de latim, se o menino brinca o tempo todo, deve ser posto para fora, porque interfere na liberdade dos outros.

 

Respeito aos pais – O que significa a palavra “respeito”? Penso que seu principal ingrediente é o medo, como no caso das crianças que respeitam seus mestres severos. Os pais que exigem demasiado “respeito” evidentemente não conseguiram inspirar amor aos seus filhos.

 

Sexo – Não creio que se devam dar ao adolescente excessivas informações sobre as técnicas de copulação. Uma das delícias do sexo consiste na descoberta dessas técnicas. Todas as crianças praticam jogos genitais uma vez ou outra. Se fizessem cócegas no nariz, os pais sorririam. Que tem de mal as cócegas genitais? O sexo causa prazer, assim resolveu a natureza para assegurar a perpetuação da espécie humana. Os pais prudentes deixam seus filhos em paz e não prestam atenção ao jogo genital. Com essa atitude, o filho tem maiores possibilidades de se converter mais tarde num bom amante, um amante terno e ditoso.

 

Religião – Quem é Deus? Eu não sei. Deus, para mim, significa o bem de cada um de nós. Se tentarmos ensinar a uma criança coisas sobre um ser sobre o qual nós mesmos somos vagos nas expressões, faremos a essa criança mais mal do que bem.

 

Aprendizado – Eu não acredito em lições da escola, a não ser que elas sejam voluntariamente escolhidas. Quanto ao trabalho para casa, é um hábito vergonhoso. As crianças o detestam e isso é o bastante para condená-lo. Acho que eu conseguiria aprender o Corão de cor, se me chicoteassem para isso. Haveria um resultado, naturalmente: eu detestaria para sempre o Corão, o espancador e a mim mesmo.

Palmadas – Até certo ponto, é um caso de covardia, porque se escolhe alguém que não tem o físico igual ao nosso. Não creio que uma mulher bata no marido quando ele a aborrece.

Pró-vida e antivida – Pró-vida é igual a divertimento, jogos, amor, trabalho interessante, passatempos, risos, consideração pelos outros, fé nos homens. Antivida é igual a dever, obediência, proveitos, poder. Através da história, a antivida tem vencido e continuará a vencer enquanto a juventude for treinada para se ajustar à concepção adulta dos dias presentes.

 

Falecido em 23 de setembro de 1973, um mês antes de completar 90 anos, Neill não nascera, aparentemente, para desempenhar esse histórico papel.

 

Alexander Neill faleceu em 23 de setembro de 1973, aos 89 anos, em Aldeburgh, perto de Summerhill, Inglaterra.

 

(Fonte: Veja, 3 de outubro de 1973 – Edição 265 – DATAS – Pág: 19/65)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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