Almada Negreiros (Trindade, São Tomé e Príncipe, 7 de abril de 1893 – Lisboa, 15 de junho de 1970), foi uma figura ímpar no panorama artístico português do século 20. Essencialmente autodidata (não frequentou qualquer escola de ensino artístico), a sua precocidade levou-o a dedicar-se desde muito jovem ao desenho de humor.
Mas a notoriedade que adquiriu no início de carreira prende-se acima de tudo com a escrita, interventiva ou literária. Almada teve um papel particularmente ativo na primeira vanguarda modernista, com importante contribuição para a dinâmica do grupo ligado à Revista Orpheu, sendo a sua ação determinante para que essa publicação não se restringisse à área das letras.
Aguerrido, polêmico, assumiu um papel central na dinâmica do futurismo em Portugal: “Se à introversão de Fernando Pessoa se deve o heroísmo da realização solitária da grande obra que hoje se reconhece, ao ativismo de Almada deve-se a vibração espetacular do «futurismo» português e doutras oportunas intervenções públicas, em que era preciso dar a cara”.
Escritor e artista plástico, José Sobral de Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe a 7 de Abril de 1893. Foi um dos fundadores da revista Orpheu(1915), veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa. Além da literatura e da pintura a óleo, Almada desenvolveu ainda composições coreográficas para ballet. Trabalhou em tapeçaria, gravura, pintura mural, caricatura, mosaico, azulejo e vitral. Faleceu a 15 de Junho de 1970 no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, no mesmo quarto onde morrera seu amigo Fernando Pessoa.
As duas orientações de busca e criação de Almada Negreiros foram a beleza e a sabedoria. Para ele “a beleza não podia ser ignorante e idiota tal como a sabedoria não podia ser feia e triste” (Freitas, 1985). Almada Negreiros foi um pintor-pensador. Foi praticante de uma arte elaborada que pressupõe uma aprendizagem que não se esgota nas escolas de arte; bem pelo contrário, uma aprendizagem que implica um percurso introspectivo e universal.
O tema principal de Almada foi o número, a geometria (sagrada) e os seus significados, declarando que a sabedoria poética e a sabedoria reflectida têm entre elas a fronteira irredutível do número. Almada revela-se assim um neopitagórico sendo este seu lado a fonte mais profunda da sua inspiração e da sua criatividade e, segundo Lima de Freitas, a sua loucura central.
Vulto cimeiro da vida cultural portuguesa durante quase meio século, contribuiu mais que ninguém para a criação, prestígio e triunfo do modernismo artístico em Portugal. Na sua evolução como pintor, Almada passou do figurativismo e da representação convencional dos primeiros tempos, para a abstracção geométrica, matemática e numérica que caracteriza as suas últimas obras.
A sua preocupação central foi a determinação do enigmático Ponto de Bauhütte. Essa procura ficou registada por vários textos, por numerosos traçados geométricos e por algumas pinturas a preto e branco que Almada foi acumulando, mas sem tornar público o fundo do seu pensamento. Antes de romper o quase segredo da sua busca, Almada realiza, para o Tribunal de Contas de Lisboa, um dos cartões para tapeçaria intitulado “O Número”.
(Fonte: Veja, 24 de junho de 1970 – Edição 94 – ARTE – Pág: 36)
(Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm2000/icm33/almada)