“Para mim a poesia e o pensamento são um sistema de vasos comunicantes. A fonte de ambos é minha vida: escrevo sobre o que vivi e vivo”.
Poeta civilizador
Paz: “Amor e política são dois pólos unidos por um arco: a pessoa”
Octavio Paz (Cidade do México, 1914 – Cidade do México, 20 de abril de 1998), poeta e ensaísta mexicano, o latino-americano que ousou pensar por si mesmo.
No final do século XVIII, o filósofo alemão Emmanuel Kant propôs que o lema da modernidade fosse: “Ouse pensar por si mesmo”. O escritor mexicano Octavio Paz foi um dos que ousaram e só por isso mereceria ser lembrado. Poeta e ensaísta, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1990, homem de ação na cultura e na política, chegou ao final da vida como uma das personalidades latino-americanas mais respeitadas de seu tempo.
Nascido em 1914 na Cidade do México, Paz estreou na poesia aos 16 anos e também foi precoce como militante político. Sua primeira simpatia foi pela esquerda. Um ano depois de a Guerra Civil Espanhola estourar, em 1936, ele viajou para a Europa e empunhou armas contra o fascismo. Aos poucos, no entanto, distanciou-se do socialismo. Criticou a filosofia marxista e, mais ainda, os intelectuais latino-americanos que gostariam de aplicá-la ao continente. Sua conversão ao liberalismo – ainda que nunca tão espalhafatosa quanto a do romancista peruano Mario Vargas Llosa – rendeu-lhe inimizades em seu país.
Seu rico ensaísmo político, construído sobre firmes bases de reflexão histórica e antropológica, tem ponto alto em O Labirinto da Solidão. Redigido entre o final dos anos 40 e o início da década de 50, o livro ganhou status de clássico e tornou-se indispensável nas discussões sobre o México e a América Latina. Mas seu pensamento jamais se restringiu ao próprio continente. Paz foi um difusor cultural, um “civilizador”. Traduziu obras de poetas da China e da Índia, países onde serviu como diplomata, refletiu sobre as “conjunções e disjunções” – como gostava de dizer – que uniam ou separavam Ocidente e Oriente, Hemisfério Norte e Hemisfério Sul.
“Amor e política são dois pólos unidos por um arco, a pessoa”, escreveu Paz em 1993. Foi o ano em que lançou um de seus últimos livros, A Dupla Chama, dedicado ao tema do erotismo, faceta do escritor pouco estudada pelos críticos. Paz foi um dos maiores poetas eróticos do século XX, um dos poucos a preocupar-se em renovar a desgastada linguagem do amor. Dos primeiros poetas maduros, escritos ainda na década de 30 e reunidos em Libertad Bajo Palabra, até as obras-primas tardias como Blanco (traduzido pelo também poeta Haroldo de Campos em Transblanco, o amor foi para ele um assunto e uma metáfora do trabalho artístico.
Paz é um poeta a ser contado entre os rebeldes. Começou sob influência do surrealismo, mas jamais se acomodou a uma única escola. Era um poeta-crítico, em dois sentidos: porque teorizou sobre a literatura em livros como O Arco e a Lira e Os Filhos do Barro e porque desmontou e remontou incessantemente as engrenagens da língua em sua poesia. Muito mais do que o chileno Pablo Neruda, que se tornou autocomplacente depois dos primeiros êxitos e não faz jus à mística criada pelos críticos esquerdistas em torno dele, Paz deverá ser lembrado como o poeta-símbolo da América hispânica no século XX. Entrou de vez para a história da literatura, cumprindo o Destino de Poeta que traçou num texto de 1944: Palavras? Sim, de ar/ e no ar perdidas./ Deixa que eu me perca entre palavras./ deixa-me ser o ar entre esses lábios./ um sopro vagabundo sem contornos./ que no ar se desvanece./ Também a luz em si mesma se perde. Paz morreu no dia 20 de abril de 1998, aos 84 anos, em decorrência de câncer ósseo, na Cidade do México.
(Fonte: http://www.correiodopovo.com.br Cronologia ANO 116 – Nº 202 20 de abril de 2011)
(Fonte: Veja, 29 de abril de 1998 ANO 31 N° 17 – Edição 1544 MEMÓRIA/ Por Carlos Graieb – Pág; 120)