Anaïs Nin, escritora francesa com vasta obra, um legado precioso.

Anaïs: artista e mágica

Anaïs Nin (Neuilly, perto de Paris, 21 de fevereiro de 1903 – Los Angeles, 14 de janeiro de 1977), escritora francesa com vasta obra, um legado precioso. Nascida em Paris, em fevereiro de 1903, viveu a maior parte de sua vida nos Estados Unidos, onde morreu em janeiro de 1977, aos 74 anos.

Discípula do psicanalista Otto Rank (1884-1939), amiga íntima de figuras como Antonin Artaud (1896-1948) e Henry Miller (1891-1980), viajante infatigável, psicóloga e astróloga, ela escreveu cinco romances e 200 volumes de um diário, provavelmente um dos mais impressionantes documentos literários e humanos do século 20.

Quase idolatrada na Europa e nos Estados Unidos, autora de textos menos siginificativos: os contos eróticos de “Delta de Vênus” e “Pequenos Pássaros”, escritos sob encomenda e, “Em Busca de um Homem Sensível”. Trata-se de uma coletânea um tanto disparatada reunindo de pequenos ensaios a entrevistas, relatos de viagem, resenhas de livros, trechos de diários ou críticas de cinema.

Mas tão grande é o talento de Anaïs que seu texto cristalino e profundo supera a inabilidade. Artista e mágica, atrás de cada frase vislumbra-se um universo tão despido de preconceitos que a faz afirmar coisas como: “No dia em que a mulher admitir suas pretensas qualidades masculinas e o homem as chamadas qualidades femininas, reconheceremos enfim nossa constituição andrógina, nossas diferentes personalidades, e que é preciso realizar todos esses nossos aspectos.”

De sua vasta obra, deslumbrante, revelador da possibilidade, de uma vida infinitamente mais plena que nossos cotidianos simulacros. Lição de intensidade, integridade e sensibilidade. Afinal, como ela dizia, o mundo inventado por um ficcionista “foi criado para os outros, como um legado, como um dom destinado a eles”. Em seu caso específico, um legado precioso.

(Fonte: Veja, 3 de dezembro de 1980 – Edição nº 639 – LIVROS/ Por Caio Fernando Abreu – Pág; 113)