Anton Bruckner (Ansfelden, Áustria, 4 de setembro de 1824 – Viena, Áustria, 11 de outubro de 1896), compositor austríaco, que é sem dúvida uma das figuras mais fascinantes e estranhas da história da música. De origem rural modesta, o jovem Anton aprendeu órgão com o pai, vindo mais tarde a ser o organista de St. Florian, em 1851.
Bruckner classifica-se como uma especie de Richard Wagner instrumental, de maneira que, Bruckner seria para a musica instrumental, o que Wagner foi para musica vocal.
Bruckner toda a vida foi um autodidacta, humilde e extremamente esforçado. É só em 1855 que tira, em Viena, um curso de contraponto (ele que vem a ser um dos maiores mestres de contraponto da história da música!).
Em 1863 dá-se a mudança decisiva na sua vida: conhece Wagner pessoalmente, ouve Tanhäuser e o Tristan. Começa a compor sinfonias com alguma inspiração wagneriana (geralmente sobrevalorizada pela crítica). Não são fáceis estes anos: as duas primeiras sinfonias não são aceites pela Filarmônica de Viena para execução pública. Mas Wagner elogia a Terceira e a Quarta, dita Romântica, é um sucesso estrondoso.
Bruckner sofreu críticas impiedosas da crítica, em particular do cruel Hanslick. Em plena guerra brahmsianos-wagnerianos, Bruckner, identificado com o grande Richard, foi vítima da maldade dos fazedores de opinião. [É irresistível deixar aqui um excerto de um filme de François Truffaut. Diz o pai ao filho: “Meu filho, tens que estudar bem as tuas lições de música, se queres ser um músico a sério”. “O que é que sucede se não as estudar bem?” “Vais ser crítico musical.”] Isto também conduziu a que críticos pós-wagnerianos associassem Brahms ao conservadorismo na música, outra forma de preconceito, de resto perfeitamente descabido pois o mestre de Hamburgo era em muitos aspectos inovador, algo que o próprio Schönberg nunca se cansou de salientar.
Bruckner, humilde e inseguro, reescreveu algumas das sinfonias (em particular extensão a Terceira e a Oitava), o que teve como consequência não ter podido terminar a Nona, uma verdadeira tragédia para a história da música, considerando o auge criativo dos três andamentos que compôs.
Com a Sétima sinfonia Bruckner recebe a aclamação geral. É uma sinfonia talvez mais clássica, bastante schubertiana. O Adagio é um dos momentos mais comoventes que é possível ouvir: sabendo da morte do seu adorado Richard Wagner, Bruckner compõe um Adagio (que, conforme as interpretações, pode chegar aos 25 minutos de execução) que é um longo lamento pelo passamento do genial compositor.
A Oitava sinfonia, reescrita como acima referimos (Hermann Levi, o maestro que estreara a Sétima, não compreendeu a obra, quase levando o deseperado compositor ao suicídio), acabou por ser também um sucesso (até o intratável Hanslick teve que admitir a grandeza da obra), mais que merecido pois é a meu ver a melhor de todas as que o austríaco compôs. O primeiro andamento é de um dramatismo insuperável, o peso da morte e o destino do homem estão expressos como nunca em música; a lenta conclusão é o espelho do nosso fim inelutável. O segundo andamento é mais nostálgico, com uma evocação dos ambientes rurais de origem do compositor.
No terceiro andamento chegamos ao reino do sublime: um início lento e quase etéreo dá-nos a medida da transcendência plasmada em música; lamenta-se que a quase meia hora que dura este andamento chegue ao fim. Mas segue-se-lhe um tema apoteótico, empolgante, com que enceta o quarto andamento; o finale é um dos momentos mais sublimes da história sinfónica, com o crescendo orquestral a dominar completamente o auditor. Para o grande maestro Sergiu Celibidache, que dirigiu esta obra em Lisboa em 1994, perante um extasiado Coliseu, «a Oitava sinfonia é o zénite da escrita sinfónica», enquanto que para o grande compositor Hugo Wolf, ela é «a criação de um gigante, ultrapassando em dimensão espiritual e magnitude de concepção todas as outras sinfonias do Mestre». Gustav Mahler foi também um grande defensor da obra bruckneriana, sofrendo de resto grande influência do mesmo.
Embora nem sempre Anton Bruckner tenha recebido a admiração que a sua obra merece, alguma justiça lhe foi feita ainda em vida. Para nós, pobres mortais, este acervo imortal, grandioso, genial, comovente, religioso, aí está para felicidade de quem ama a música.
(Fonte: http://www.alamedadigital.com.pt/n6/bruckner – por F Santos)