Antônio Bandeira: 53 anos de vida militar.
Desembarque de tropas para combater a guerrilha do Araguaia: segundo os papéis do general, 3.202 soldados foram enviados à região e só dois morreram
Antônio Bandeira (Guarabira, Paraíba, 3 de novembro de 1916 – Recife, 16 de maio de 2005), general que comandou o III Exército e foi um dos militares mais ativos durante a repressão.
O general paraibano foi um militar linha-dura que reprimiu a revolta comunista de 1935 no Rio de Janeiro, preparou os soldados brasileiros para a II Grande Guerra, foi um dos líderes do golpe militar de 1964 e depois chefiou as duas primeiras operações militares de combate à guerrilha do Araguaia, em 1972.
Sobre o regime militar dizia, “Eu recuperei muita gente”, referindo-se aos estudantes que prendeu e mandou estudar no exterior quando comandava o IV Exército, em Pernambuco. Acusado de ter torturado presos políticos quando servia na II Brigada de Infantaria em Brasília, Bandeira negava.
O regime dos generais no Brasil durou mais de duas décadas, de 1964 a 1985, naquele tempo que ficou conhecido como “os anos de chumbo”.
Bandeira, um paraibano que comandou as duas primeiras campanhas do Exército contra a guerrilha do PC do B no sul do Pará, na região do Araguaia, manteve durante duas décadas um baú em sua Fazenda Bonança, em Guarabira, interior da Paraíba, contendo documentos, cartas, discursos, livros e fotografias. Seus papéis não trazem novidades capazes de reescrever a história, mas desfazem uma parte das sombras que cercam esse período da História do Brasil.
No baú do general, há uma cartilha do DOI-Codi que descreve a prisão de alguns militantes de esquerda e confirma a versão de que Carlos Nicolau Danielli, do PC do B, e Joaquim Câmara Ferreira, conhecido como “Toledo”, da Ação Libertadora Nacional, ALN, não morreram em combate, mas depois de presos dado de que já se suspeitava, tanto que suas famílias até receberam indenização do Estado. Ali se descobre que, antes da guerrilha no Araguaia, o Exército lançou a Operação Mesopotâmia, para combater focos de luta armada no Maranhão e em Goiás, de 1970 a 1971.
Os documentos do general ajuda a entender um pouco melhor as tentativas do Exército para combater guerrilheiros no Araguaia. Mas, como o general participou apenas da primeira e da segunda campanha do Exército na região do Araguaia, que foram ambas malsucedidas, o arquivo não tem muito a dizer. Foi só na terceira campanha, que terminou em 1975, mas já sob o comando do general Hugo de Abreu, que a guerrilha foi inteiramente derrotada. Os documentos de Bandeira ainda contam sobre o suicídio de um militante do PC do B, em 1972, e revelam uma carta de Maurício Grabois, dirigente da guerrilha do Araguaia.
O nome de Bandeira, no entanto, está nos arquivos do Projeto Brasil: Nunca Mais. Ali, ele é acusado de chefiar sessões de tortura em 1972, na época em que era comandante da II Brigada de Infantaria, em Brasília.
Enquanto não se tiver um amplo e detalhado painel do que aconteceu de 1964 a 1985, o país estará sujeito a viver ondas de descobertas de tempos a tempos.
Não se sabe do paradeiro do corpo de Rubens Paiva, deputado cassado em 1964 e sumido desde 20 de janeiro de 1971. Em depoimentos, agentes da repressão chegaram a informar que Paiva morreu na tristemente célebre “Casa da Morte”, central de tortura localizada em Petrópolis, na serra do Rio de Janeiro. Também nunca se soube o destino de Maurício Grabois, o líder da guerrilha do PC do B que morreu no Araguaia. O general Hugo de Abreu, falecido em 1979, chegou a dizer que Grabois foi enterrado na Serra das Andorinhas, no Araguaia, mas o corpo nunca foi achado.
Quando deixou o comando da tropa que combateu guerrilheiros no Araguaia, em 1972, o general se tornou diretor-geral da Polícia Federal. De lá, comandou a Censura. Entre maio de 1973 e março de 1974, os brasileiros só viam na TV, cinema ou teatro ou liam nos jornais e revistas o que ele permitia.
Antonio Bandeira morreu na cidade de Recife em 2005, aos 88 anos de idade.
(Fonte: Veja, 15 de abril de 1998 Ano 31 N° 15 – Edição 1542 BRASIL/ Por Juliana De Mari, do Recife, e Vladimir Netto, de Brasília – Pág; 30/31 e 32)
(Fonte: Revista Veja, 15 de dezembro de 1999 – ANO 32 – Nº 50 – Edição 1628 – BRASIL / MILITARES / Por Leonel Rocha – Pág: 50/57)