Antônio Barros de Castro (Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2011), economista e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Antônio Barros de Castro, ex-presidente do BNDES e um dos mais importantes economistas do país
professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ e consultor do Conselho Empresarial Brasil-China – que desde a década de 1960 se dividia entre a vida acadêmica no Brasil e no exterior e a uma vasta experiência profissional
Economista daria palestra sobre China na quinta-feira
O economista, que aos 73 anos mantinha uma vida intelectual intensa, daria uma palestra, nesta quinta-feira, no anfiteatro da UFRJ, na Praia Vermelha, sobre a China – um dos temas que mais vinha estudando nos últimos tempos, desde que passou a ser consultor do Conselho Empresarial Brasil-China.
Desenvolvimentista convicto, Barros de Castro presidiu o BNDES de outubro de 1992 a março de 1993, durante o governo de Itamar Franco. Voltou ao banco como diretor e assessor da presidência entre os anos de 2004 e 2010, nas gestões de Carlos Lessa, Demian Fiocca, Guido Mantega (atual ministro da Fazenda) e Luciano Coutinho. Sua morte causou perplexidade:
– O professor Barros de Castro foi capaz de conciliar uma brilhante carreira acadêmica, tornando-se uma referência no pensamento econômico brasileiro, com o enfrentamento de grandes desafios como homem público. Ele deixa para todos nós um legado de compromisso com o desenvolvimento do Brasil e, sem dúvida, fará muita falta ao nosso país – afirmou Coutinho, atual presidente do BNDES.
Seu colega desde os tempos de faculdade, o economista Carlos Lessa se disse chocado com a morte de Barros de Castro. Sem saber detalhes sobre o acidente, Lessa afirmou que esse não foi o primeiro do tipo na região:
– A geotécnica deveria despertar para a Rua Icatu, que já sofreu outras situações difíceis. Mas o órgão do Rio se move sempre a posteriori. A prefeitura aprova o projeto, concede o habite-se, mas não se responsabiliza pelo que licencia.
Abaladíssima com a notícia da morte do amigo, Maria da Conceição Tavares, comentou de forma emocionada a perda:
– Foi uma morte inesperada e inusitada.
Com Maria da Conceição e Lessa, Barros de Castro formava o trio do pensamento cepalino no Brasil. Entre 1963 e 1973, ele trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), no Chile, onde funcionava a sede da instituição, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).
Como professor, era brilhante, diz diretor da UFRJ
O primeiro livro de Barros Castro, “Introdução à Economia: Uma abordagem estruturalista” (1967), escrito em parceria com Lessa, é considerado uma referência na academia. O livro chegou a ser reeditado mais de 40 vezes e a vender cerca de 500 milhões de exemplares. A obra foi encomendada pela Cepal e deveria apresentar, de forma enxuta, o sistema econômico da América Latina.
– Barros de Castro, como professor, era brilhante – elogia Carlos Frederico Rocha, recém-empossado diretor do Instituto de Economia da UFRJ, lembrando outros livros escritos por Barros de Castro, como “Sete Ensaios sobre a Economia Brasileira” e “A Economia Brasileira em Marcha Forçada”, em parceria com Francisco Eduardo Pires de Souza.
O economista entrou em 1956 na então Faculdade Nacional de Economia, hoje UFRJ. Em 1977, conquistou o título de doutor em Economia pela Unicamp. Na década de 1980, tornou-se professor do Instituto de Economia, onde se graduara em 1959.
Sua vida acadêmica não se restringiu apenas à UFRJ. Em diferentes períodos desde a década de 1970, Barros de Castro foi professor visitante na Universidade do Chile (1972-1973), em Berkeley (1999 e 2003), nos Estados Unidos, e nas prestigiadas britânicas Cambridge (1973-1974) e Oxford (2004). Ele era também membro do Institute for Advanced Study, da universidade americana de Princeton.
Tinha como áreas de interesse acadêmico História Econômica Comparada, Política Econômica e Política Industrial. Por isso, seus trabalhos no Brasil e no exterior foram desenvolvidos majoritariamente dento das linhas de pesquisa de Teorias do Crescimento Econômico, História Econômica do Brasil, Desenvolvimento Econômico, Estratégias Empresariais e Políticas Industriais e Tecnológicas.
Ex-presidente do BNDES e um dos mais importantes economistas do país, Antônio Barros de Castro morreu no dia 21 de agosto de 2011 após o desabamento de parte da laje da bilbioteca da casa onde morava com a mulher Ana Célia, na Rua Icatu, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro.
(Fonte: www.oglobo.globo.com Economia 22/08//11)
O professor Barros de Castro foi capaz de conciliar uma brilhante carreira acadêmica, tornando-se uma referência no pensamento econômico brasileiro, com o enfrentamento de grandes desafios como homem público.
CARREIRA
Doutor em economia pela Unicamp, Castro foi presidente do BNDES entre outubro de 1992 e março de 1993, no governo Itamar Franco (1992-1994). Mais recentemente, foi diretor de Planejamento do banco entre 2005 e 2007.
O economista era professor emérito da UFRJ e consultor do Conselho Empresarial Brasil-China. Ele considerava que o desenvolvimento do país asiático alterou radicalmente a economia mundial e que o Brasil tinha que se reinventar para se manter competitivo.
“Se o câmbio e o custo Brasil forem neutros, boa parte da indústria brasileira não é competitiva porque o sistema industrial chinês é mais eficiente”, disse ele em entrevista à Folha em abril de 2011.
(Fonte: www1.folha.uol.com.br Mercado/ Por LUIZA SOUTO – 22/08/11)
O professor Antonio Barros de Castro defendeu, no primeiro encontro nacional de professores de desenvolvimento econômico, que os cursos de ciências Econômicas deveriam ter uma disciplina de Desenvolvimento Comparado. O objetivo seria apresentar sínteses do processo de desenvolvimento de alguns países tidos como líderes ou casos exemplares. Comparar experiências históricas, disse o professor, é um caminho infindável para o avanço do conhecimento: compara-se para entender e entende-se para comparar.
Citou como exemplo os modelos de desenvolvimento japonês e chinês. O Japão teve uma postura de desenvolvimento autonomista, buscando soluções próprias mediante a formação de poderosos grupos econômicos nacionais. A China, por contraste, recorreu às empresas multinacionais, dando-lhes ampla liberdade gerencial, mas exigindo a formação de parcerias locais e facilitando com isto a transferência de tecnologia. Os cursos, ao apresentar e contrastar experiências históricas deveriam caracterizar a especificidade dos diferentes casos, as opções maiores que ali foram feitas e suas conseqüências maiores.
O professor comentou três momentos da evolução do pensamento econômico que contribuíram para a marginalização ou virtual desaparecimento da reflexão histórico-comparativa, fundamental em se tratando do tema desenvolvimento econômico. Um primeiro momento foi a guerra metodológica entre os historicistas alemães e representantes da chamada escola austríaca, tendo como resultado uma fragorosa derrota dos primeiros. Um segundo momento foi o do confronto surdo ou tácito entre Paul Samuelson e Schumpeter em Harvard, no final dos anos 1940 vencido pelo economista norte-americano e sua proposta de formalização integral do conhecimento econômico. Finalmente, a terceira derrota teve com pivô o colapso da Bolsa de Nova York em 1987, episodio que, por um momento, pareceu replicar aspectos da grande crise de 1929. A forte reação do Banco Central norte-americano, a imediata recuperação da bolsa e a subseqüente longa fase de crescimento da economia norte-americana transformaram o então presidente do FED, Alan Grennspan, num semi-Deus e contribuíram para a conclusão de que as crises, no capitalismo, eram coisa do passado. Estes três momentos, segundo Castro, teriam tido conseqüências devastadoras para o uso pelos economistas de conceitos tais como contexto, especificidade histórica, estrutura e tendências – sem os quais, insistiu, pouco se pode avançar no estudo do desenvolvimento econômico.
O exame da economia mundial exige hoje que se coloque em primeiro plano, certas características e implicações da ascensão chinesa. Ou se estuda este excepcional caso histórico, ou não se deve abrir a boca acerca do fenômeno e seus impactos. A experiência chinesa é tão peculiar que se torna grotesco, por exemplo, colocar o país numa amostra de, digamos, 87 casos, e tentar avaliar o desempenho da China mediante desvios para com os valores médios das variáveis aferidas pela amostra. Conhecer, subtraídos os detalhes, a carga histórica que uma economia de grande porte é importante, não apenas para entender a sua trajetória, como para delinear as novas tendências por ela introduzidas na evolução da economia mundial. A propósito, concluindo este comentário, Castro citou uma frase contida numa entrevista dada por Samuelson – o mesmo brilhante economista que promoveu o salto na formalização da economia pouco antes da sua morte: … se começasse novamente, eu começaria pela historia.
Passando à América Latina, o professor evocou a análise feita por Prebisch sobre o chamado ciclo da economia Argentina. A grande dificuldade da economia argentina dos anos 1930 é que ela estava estruturada como se ainda fosse uma importante peça de uma engrenagem que, no entanto, deixara de existir! Refiro-me, no caso, à clássica Divisão Internacional do Trabalho centrada na Inglaterra. E a solução, conclui Prebisch, seria a industrialização proposta que seria estendida a outros países da America Latina.
Castro utilizou o exemplo acima para ilustrar a idéia de que o Brasil precisa se transformar estrutural e historicamente, pois estamos ingressando em um mundo sino-cêntrico, de onde derivam demandas – e também ofertas – radicalmente diferentes daquilo com o que o pais se defrontava até muito recentemente. Concretamente, os mercados de metais, energia e alimentos estarão em grande fase nos próximos, suponhamos, quinze a vinte anos. Isto dará um longo empurrão nas economias ricas em recursos naturais, pois existem na China cerca de quatrocentos milhões de pessoas que estarão, neste período, deixando o campo rumo às cidades. Algo não muito diferente ocorrerá com a Índia. Segundo Castro, isto irá representar uma firme e duradoura expansão de demanda à qual o mundo dificilmente conseguirá responder, dado que as suas terras já se encontram amplamente ocupadas e exploradas, não existem as tecnologias necessárias à convivência com semelhante escassez de recursos naturais e, por último, mas não menos importante, a natureza não mais será usada e abusada por
decisões estritamente de mercado, vale dizer, sem preocupações com a sustentabilidade dos recursos. Além disso, diversas commodities, durante um extenso período, se comportarão como produtos raros – o que se choca com a sua natureza, mas reflete tendências inerentes ao contexto histórico em que recentemente mergulhamos.
O Brasil surge, no novo contexto, como uma das economias que têm pela frente maiores oportunidades e também, paradoxalmente, como uma das que enfrentam sérios desafios. Isto porque, se por um lado nossos recursos naturais tornaram-se preciosos, grande parte de nossa diversificada industria do ponto de vista do resto do mundo tornou-se descartável. A evolução recente do comércio brasileiro de manufaturas mostra isto, de forma contundente.
Estamos, enfim, sendo colocados diante de questões de natureza histórico-estrutural. E não serão os economistas treinados para o ajuste e o fine tuning que terão muito a dizer a esse respeito. E entre os que têm algo a dizer deveriam destacar-se aqueles que têm ou deveriam ter – as grandes transformações como seu objeto primordial.
(Fonte: www.ppge.ufrgs.br)
Doutor em economia pela Unicamp, com a tese Engenhos de Açúcar no Brasil Colonial, defendida em 1977, Barros de Castro também foi professor e pesquisador da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), das Nações Unidas, entre 1962 e 1973. Presidente do BNDES durante a gestão de Itamar Franco na presidência da República, em 2007 foi convidado pelo atual presidente do banco para assumir o cargo de assessor-sênior do BNDES para formulação de estratégias para o banco, e para o governo brasileiro. Mas este ano já não ocupava mais esta função.
Em suas linhas de pesquisa, Castro tinha especial interesse no estudo das oportunidades produtivas do País. No caso do pré-sal, defendeu que o País poderia aproveitar a descoberta para impulsionar outras áreas promissoras, como aços especiais, automação, software e projetos de engenharia.
(Fonte: www.estadao.com.br)