Armand Hammer (Manhattan, Nova York, 21 de maio de 1898 – Los Angeles, Califórnia, 10 de dezembro de 1990), magnata americano, dono de um patrimônio de 7 bilhões de dólares, calcado sobre a Occidental Petroleum, um dos vinte maiores conglomerados industriais dos Estados Unidos. Com uma sensibilidade aguçada para obras de arte e o toque de Midas para os bons negócios, Hammer ficou famoso, mais do que por tudo isso, como o artífice de um dos casamentos mais difíceis do século XX – entre os interesses americanos e os soviéticos. “Perdemos um grande amigo”, lamentou o presidente soviético Mikhail Gorbachev.
À exceção de Stálin, Hammer foi amigo íntimo de todos os líderes soviéticos desde Lênin – de quem ganhou, certa vez, um retrato autografado. Nasceu em Manhattan, filho de médico russo Julius Hammer, um dos fundadores do Partido Comunista americano. Especula-se que seu nome, Armand, teria sido escolhido de propósito para deixar implícita a expressão “arm and hammer” – “braço e martelo”, em inglês. Hammer, porém, sempre negou qualquer alinhamento ideológico com o pai. Formou-se médico, mas nunca exerceu a profissão. Ainda estudante, assumiu a farmácia da família e começou a prosperar vendendo bebidas alcoólicas durante a lei seca, sob o pretexto de que deveriam ser consumidas como remédio. Ganhou 1 milhão de dólares assim.
Era o começo de uma fortuna que não parou de crescer. Em 1921, aos 23 anos, Armand Hammer partiu para a recém-fundada União Soviética, combalida por uma profunda crise social. Aprendeu russo e, pouco tempo depois, encontrava-se pela primeira vez com Lênin. “Senhor Hammer, precisamos mais de empresários e investidores do que de médicos”, afirmou certa vez o líder da Revolução de Outubro de 1917. “Alguém deve quebrar o gelo. Por que não o senhor?”
Era a senha. Ao longo da década de 20, Hammer expandiu seus negócios por toda a União Soviética. Comercializava peles, explorava amianto e assumiu até mesmo o controle de uma fábrica de lápis, que, em 1930, empregava 1 000 funcionários. O casamento americano-soviético enfrentou sua primeira crise durante o período stalinista. Forçado a vender seus negócios ao Estado, Hammer fez as malas e voltou para os Estados Unidos. “O senhor Stálin não era um homem com quem se pudesse negociar”, avaliou mais tarde, na autobiografia Hammer, um Capitalista em Moscou. Não demorou a voltar: apreciado por Brejnev, aterrisava seu jato particular em solo soviético sem necessitar de autorizações especiais das autoridades portuárias.
Costumava dizer que foi um dos primeiros articuladores da aproximação entre o presidente americano Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev. O magnata americano esperou 79 anos para celebrar seu bar mitzvah – o ritual de passagem dos judeus do sexo masculino à idade adulta, que normalmente acontece aos 13 anos de idade. Para comemorar, preparava uma grande festa num hotel luxuoso em Beverly Hills. A festa acabou acontecendo, mas sem a presença do personagem principal: Hammer morreu um dia antes, 10 de dezembro de 1990, aos 92 anos, num hospital de Los Angeles, vítima de “uma breve enfermidade”, segundo declarou um porta-voz. Viúvo de seu terceiro casamento, Hammer tinha um único filho, Julian.
(Fonte: Veja, 19 de dezembro de 1990 – Edição 1161 – DATAS – Pág; 75)
ANUNCIADO: o ritual bar mitzvah do industrial e colecionador de arte americano Armand Hammer, 92 anos, conhecido por ter sido durante décadas o maior parceiro comercial da União Soviética e amigo pessoal de Lênin. Hammer, que é judeu, ainda não havia cumprido esse ritual a que todo o homem hebreu deve se submeter, normalmente quando completa 13 anos. A cerimônia foi em 11 de dezembro de 1990. Dia 29 de novembro, em Los Angeles.
(Fonte: Veja, 5 de dezembro de 1990 – Edição 1159 – DATAS – Pág; 105)