Arnaldo Jabor, jornalista e cineasta do cinema novo, ficou célebre pelos comentários irônicos e cáusticos, bem como por sua verve polemista

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Arnaldo Jabor, jornalista e cineasta do cinema novo

 

Foto de arquivo de 08/04/2016 do cineasta e jornalista Arnaldo Jabor. — (Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo/Arquivo)

 

Cineasta, cronista e jornalista explorou a paixão por histórias e pela realidade

 

 

Arnaldo Jabor (Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1940 – Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, 14 de fevereiro de 2022), jornalista, cronista e cineasta que fez parte da geração do cinema novo e dirigiu sucessos como “Eu Te Amo”, de 1981, com extensa carreira dedicada ao cinema, à literatura e ao jornalismo.

 

Expoente do movimento Cinema Novo, Jabor dirigiu sete longas, dois curtas e dois documentários. Destaque para “Toda Nudez Será Castigada”, de 1973, e “Eu sei que vou te amar”, de 1986, indicado à Palma de Ouro de melhor filme do Festival de Cannes.

 

Era colunista de telejornais da TV Globo desde 1991, com comentários no “Jornal Nacional”, “Jornal da Globo”, “Bom Dia Brasil”, “Jornal Hoje”, além do Fantástico e da Rádio CBN.

 

Jabor também publicou livros como “Pornopolítica”, em 2006, “Amigos Ouvintes”, em 2007, e “O Malabarista”, em 2014.

 

Jabor se tornou mais conhecido por seus comentários nos telejornais da TV Globo desde os anos 1990. Mas sua primeira vocação foi como cineasta, formado, durante a década de 1960, sob o ambiente do cinema novo –que buscava levar a realidade do Brasil para as telonas.

 

Depois de um período como crítico de teatro e cinema no jornal O Metropolitano, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e na revista Movimento, chegou ao cinema por influência direta de seu amigo Cacá Diegues. Debutou numa segunda fase do movimento, com os curtas documentais “Rio Capital Mundial do Cinema” e “O Circo”, ambos de 1965.

 

Seu primeiro longa-metragem foi “A Opinião Pública”, de 1967, um mosaico da classe média do Rio de Janeiro. Introduzindo o som direto nas telonas brasileiras, é uma obra alinhada ao cinema verdade, como uma investigação antropológica que brota de takes crus e depoimentos espontâneos.

 

Seu filme seguinte, “Pindorama”, de 1970, sua primeira investida na ficção, foi um fracasso que custou caro a Walter Hugo Khouri e pela distribuidora Columbia, que bancaram a produção. Mas o trabalho seguinte seria o início de uma sequência poderosa –“Toda Nudez Será Castigada”, de 1973, adaptando a peça homônima de Nelson Rodrigues.

 

Darlene Glória foi a esfíngica prostituta Geni, pela qual Herculano, o religioso viúvo encarnado por Paulo Porto, se apaixona. Sucesso de bilheteria, essa tragicomédia ficou no limiar entre o cinema novo e o que se consolidaria como a pornochanchada, mas como o humor e a crueza da obra rodrigueana, enfrentando diretamente o universo moral, afetivo e sexual da classe média.

 

Porto retornaria no longa seguinte, “O Casamento”, de 1975, dessa vez, inspirado em um romance de Nelson Rodrigues. Ele protagoniza a história como Sabino, pai de Glorinha, vivida por Adriana Prieto (1950—1974), e cujo amigo, o doutor Camarinha, sugere que o noivo da menina é gay –dando o estopim para a tragédia.

 

Após a grandiloquência desses dois filmes, sua obra cinematográfica se fecharia mais a quatro paredes, primeiro com a alegoria do jogo de classes no Brasil em “Tudo Bem”, de 1978 (que Jabor considerava seu melhor filme), e depois com estudos sobre a relação amorosa.

 

Dessa última safra saíram seus maiores sucesso de bilheteria, “Eu Te Amo” –com Sônia Braga no auge de sua sensualidade– e “Eu Sei que Vou Te Amar”, de 1986 –com Fernanda Torres e direito a indicação à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

 

Mesmo com o grande sucesso de seus filmes, Jabor sempre falava que não enriquecera com o cinema –apesar de a bilheteria de “Eu Sei que Vou Te Amar” tenha lhe rendido uma apartamento. Não à toa, seu próximo longa seria lançado só em 2010, “A Suprema Felicidade”.

 

Nesse intervalo, em uma viagem a São Paulo, encontrou o jornalista Fernando Gabeira, que à época escrevia para a Folha de S.Paulo, para quem pediu uma oportunidade para retomar a veia jornalística. E conseguiu, e seguiu na Folha de S.Paulo por dez anos, colaborando com outras publicações jornalísticas como o gaúcho Zero Hora e o carioca O Globo, em paralelo à direção de filmes publicitários.

 

Naturalmente, o cinema não lhe saiu da cabeça durante esse período, e, segundo reportagem de José Geraldo Couto em 1995 neste jornal, Jabor sonhava em fazer uma refilmagem de “Ladrões de Cinema”, de Fernando Coni Campos (1933—1988), mas no gênero musical.

 

Daí, além do papel, também entrou no telejornalismo da rede Globo, participando como comentarista de programas como o Jornal Nacional, Jornal da Globo e no Bom Dia Brasil, bem como na rádio CBN. Ficou célebre pelos comentários irônicos e cáusticos, bem como por sua verve polemista.

 

Publicou ainda livros de coletânea como “Os Canibais Estão na Sala de Jantar”, de 1993, e “O Malabarista – Os Melhores Textos de Arnaldo Jabor”, de 2014.

Trajetória

Arnaldo Jabor teve extensa carreira dedicada ao cinema, à literatura e ao jornalismo. No cinema, dirigiu sete longas, dois curtas e dois documentários. Também era cronista e jornalista.

Formado no ambiente do Cinema Novo, Jabor participou da segunda fase do movimento, um dos maiores do país, conhecido por retratar questões políticas e sociais do Brasil inspirado no neorrealismo italiano e na nouvelle vague francesa.

Mesmo antes de se tornar um premiado diretor e roteirista, já mostrava paixão pela sétima arte. Foi também técnico sonoro, assistente de direção e crítico de cinema. Ele se formou pelo curso de cinema do Itamaraty-Unesco em 1964.

Em 1967, produziu o documentário “Opinião Pública”, seu primeiro longa metragem e uma espécie de mosaico sobre como o brasileiro olha sua própria realidade.

O primeiro longa de ficção que Jabor produziu, roteirizou e dirigiu foi “Pindorama”, em 1970. Ele tinha um excesso de barroquismo e de radicalismo contra o cinema clássico. No ano seguinte, foi indicado à Palma de Ouro, o maior prêmio do festival de Cannes, na França.

Sucessos de bilheterias e obras premiadas marcaram a carreira do cineasta. Em 1973, fez um dos grandes sucessos de bilheteria do cinema brasileiro: “Toda Nudez Será Castigada”, uma adaptação da peça homônima de Nelson Rodrigues. Por ele, Jabor venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim em 1973.

O filme tem críticas à hipocrisia da moral burguesa e de seus costumes. É a história do envolvimento da prostituta Geni, interpretada pela atriz Darlene Glória, com o viúvo Herculano, personagem de Paulo Porto. O papel deu a Darlene o prêmio Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado. O filme também ganhou um troféu no evento.

Nelson Rodrigues seguiu inspirando Jabor. O filme “O Casamento” (1975) foi adaptado de um romance do escritor e faz uma crítica comportamental da sociedade. Ele premiou a atriz Camila Amado com o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado.

Outro sucesso do roteirista e diretor foi “Tudo Bem” (1978), o início de sua “Trilogia do Apartamento”. O filme investiga, num tom de forte sátira e ironia, as contradições da sociedade brasileira que já vivia o fracasso do milagre econômico.

Os protagonistas são Fernanda Montenegro e Paulo Gracindo. Em atuações consideradas primorosas, eles gravaram em um apartamento de classe média da época. O filme tem um elenco coadjuvante estelar, com Zezé Mota, Stênio Garcia, Fernando Torres, José Dumont, Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães, entre outros.

“Tudo Bem” venceu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Brasília e deu a Paulo César Pereio o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante na competição. O longa também foi selecionado para ser exibido no Festival de Berlim e na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.

Em 1981, Jabor escreveu e dirigiu o premiado “Eu te amo”, que consagrou Paulo César Pereio e Sônia Braga no cinema brasileiro. O Industrial falido pelo milagre dos anos 70 conhece uma mulher e a convida para sua casa, onde vivem um intenso romance em meio às crises existenciais. A produção era de Walter Clark e a fotografia, de Murilo Salles.

Cinco ano depois, voltou com outro sucesso de bilheteria e crítica. “Eu Sei que Vou Te Amar”, de 1986, conta a história de um casal em crise, interpretado pelos jovens Fernanda Torres e Thales Pan Chacon. Foi mais um sucesso do cineasta gravado entre quatro paredes em uma casa projetada por Oscar Niemeyer, e deu o prêmio de melhor atriz para Fernanda Torres no Festival de Cannes.

Jornais e livros

Nos anos 1990, Jabor se afastou do cinema por “força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional”, segundo seu site oficial.

A partir de 1991, ele passou a escrever crônicas para jornais e também a fazer comentários políticos em programas de TV da Globo — “Jornal Nacional”, “Bom Dia Brasil”, “Jornal Hoje”, “Fantástico” — e de rádio na CBN.

No “Jornal da Globo”, dividia os comentários com Paulo Francis e Joelmir Beting. A partir dos anos 2000, assumiu sozinho a coluna.

Nela, abordava temas como cinema, artes, sexualidade, política nacional e internacional, economia, amor, filosofia, preconceito.

O cineasta Arnaldo Jabor é visto acompanhado do ator Thales Pan Chacon, do diretor da Photo Lauro Escorel e da atriz Fernanda Torres para a apresentação de seu filme “Parle-Moi D’Amour”, em maio de 1986 durante o Festival Internacional de Cinema de Cannes — Foto: AFP

Nesse tempo, também se dedicou à literatura, com a publicação de oito livros de crônicas. O primeiro deles, “Os canibais estão na sala de jantar”, foi lançado em 1993. Já os dois últimos, “Amor é prosa”, de 2004, e “Pornopolítica” (2006), se tornaram best-sellers.
Em 2010, voltou a filmar depois de 24 anos afastado de uma de suas maiores paixões. Assinou roteiro e direção de “A Suprema Felicidade”, contando a história de Paulo (Jayme Matarazzo), um adolescente que precisa lidar com as frustrações do pai (Dan Stulbach) e se aproxima do avô (Marco Nanini).

Mais uma vez, o filme é indicado e leva categorias técnicas (direção de arte, figurino) em festivais brasileiros e internacionais.

Nem a pandemia parou Arnaldo Jabor – longe da redação, gravava as colunas em casa. Graças ao avanço da vacinação, conseguiu voltar pra redação da TV Globo, em São Paulo.

O último comentário foi no dia 18 de novembro, quando comentou sobre as suspeitas de interferência no Enem.

Arnaldo Jabor faleceu aos 81 anos em 14 de fevereiro de 2022. O carioca estava internado desde o dia 17 de dezembro no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após sofrer um acidente vascular cerebral. Segundo a família, a causa da morte foram complicações do AVC.

No final de dezembro, um boletim médico apontou que Jabor tivera uma melhora progressiva do quadro neurológico e se encontrava consciente.

Arnaldo Jabor deixa três filhos: João Pedro, Juliana e Carolina Jabor –esta última, cineasta.

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/entretenimento/noticias – ENTRETENIMENTO / NOTÍCIAS / por (FOLHAPRESS) – SÃO PAULO, SP – 15/02/2022)

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/entretenimento/noticias – ENTRETENIMENTO / NOTÍCIAS / por CATRACA LIVRE – 15/02/2022)

(Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/02/15 – SÃO PAULO / NOTÍCIA / Por g1 SP e TV Globo — São Paulo – 15/02/2022)

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