Foi aclamado internacionalmente por suas performances de Chopin e Brahms
Arthur Rubinstein (Łódź, Polônia, 28 de janeiro de 1887 – Genebra, Suíça, 20 de dezembro de 1982), pianista polonês. Maior pianista do século XX, Rubinstein manteve-se fiel a Mozart e a Chopin. Antes da I Grande Guerra, quando a cada noite em Paris acontecia uma estreia, um escândalo ou a descoberta de um novo talento, o pianista Arthur Rubinstein já era uma figura conhecida na galeria das figuras que cresceram com o século XX. “Tornei-me amigo de Picasso quando ele ainda não era Picasso e eu também não era Rubinstein”, costumava dizer o pianista, quando lhe perguntavam sobre a sua amizade com o pintor. Ao longo de uma vida inteira, os dois continuaram amigos e, em vários momentos, Pablo Picasso desenhou o perfil do parceiro. Mas o genial espanhol não foi o único grande artista a figurar no brilhante circuito íntimo de Rubinstein.
O escritor Thomas Mann, por exemplo, também o chamava de “o virtuose feliz”. De fato, Rubinstein era tão divertido, fascinante e bom contador de histórias que, se por acaso lhe faltasse o excepcional talento para o piano, teria sido lembrado por suas histórias pessoais. A maioria delas ele mesmo encarregou-se de contar em dois volumes de memórias – My Young Years (Meus Anos Jovens, 1973) e My Many Years (Meus Muitos Anos, 1978) -, rapidamente transformados em sucesso editorial. Eles resumem a trajetória do grande artista nascido em Lódz, na Polônia, caçula de sete filhos de um pequeno proprietário de indústria têxtil, que começou a aprender piano aos 3 anos e aos 4 já se apresentava em público. Aos 8, Rubinstein foi mandado a Berlim para estudar e, ali, conseguiu a proteção de um famoso violinista, Joseph Joachim, amigo de Brahms e de Schumann.
MOZART E CHOPIN – A partir dessa época começaram as turnês e os recitais, mas o jovem pianista driblou a ameaça de tornar-se apenas um exótico adolescente prodígio. Aos 20 anos, em Paris, dedicou-se a tomar aulas e a melhorar seu repertório antes de começar uma nova e triunfal carreira internacional. Essa ascensão começou com uma temporada na Espanha em 1916, uma viagem à América do Sul no ano seguinte e, depois, uma coleção de escalas em lugares elegantes. “Naquela época”, conta em seu segundo livro, “as mulheres ocupavam 90% do meu interesse.” Foi justamente um de seus casos de amor que transformaria sua carreira. Em 1932, casou-se com Aniela Mylnarsky, filha do maestro polonês que havia regido seu primeiro concerto. Aniela conseguiu retirar Rubinstein do circuito mundano e o convenceu a permanecer horas a fio no estúdio.
Sua volta em 1937, com uma apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, causou um deslumbramento geral. O pianista de sucesso que comia as notas da partitura para obter efeitos dramáticos se transmudara num refinado intérprete que emocionava a plateia com sutilezas delicadas. “Rubinstein agora é um gênio que transformou sua alegria de viver em fonte para a sua interpretação”, escreveu um crítico. Realmente, além do carisma, que jamais perderia, talvez tenha sido este o seu segredo. Quanto mais envelhecia, mais sua qualidade de intérprete se tornava melhor. Mas, sempre que o apresentavam como o melhor intérprete vivo de Chopin, confessava que seu compositor favorito era Amadeus Mozart.
Suas histórias ajudam a compor seu mito. Certo dia, acompanhou o cientista Albert Einstein, que tocava violino, numa sonata. O físico perdeu um compasso e entrou quatro tempos mais tarde. Recomeçaram e a cena se repetiu. Exasperado, Rubinstein exclamou: “Professor, será que o senhor não consegue contar até quatro?” Por suas memórias passeiam dezenas de personagens que marcaram a cena cultural do século XX. Entre eles figura o compositor Heitor Villa-Lobos, a quem conheceu tocando violoncelo num cinema carioca. Há sete anos, quase cego, Rubinstein isolou-se do público mas não perdeu a alegria: “Meu amor à vida é incondicional”, repetia. “É sempre possível descobrir a sua beleza.”
Rubinstein faleceu em 20 de dezembro de 1982, aos 95 anos, de uma gripe, em Genebra.
(Fonte: Veja, 29 de dezembro de 1982 Edição 747 MÚSICA – Pág; 32)