Artur da Távola, o pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, escritor, colunista de TV e ex-senador do Rio de Janeiro

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Pioneiro na crítica de TV em jornal e um dos fundadores do PSDB

 

 

Artur da Távola: o apelido em homenagem ao rei Arthur o protegeu do regime militar

 

 

O ex-senador Artur da Távola (Sérgio Lima – 4.mar.2002/Folha Imagem)

 

 

Jornalista, escritor, deputado e senador, Artur da Távola ajuda a fundar o PSDB

Intelectual, que escreveu mais de 20 livros e foi colunista de TV do GLOBO. Na política, foi cassado pela ditadura e defendeu governo FHC no Congresso

Múltiplo. Paulo Alberto Monteiro de Barros, que adotou o pseudônimo Artur da Távola, foi jornalista, escritor e político de sucesso (Foto: Athayde dos Santos 31/01/1980 / Agência O Globo)

 

Artur da Távola (Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1936 – Rio de Janeiro, 9 de maio de 2008), jornalista, ex-senador e escritor carioca, pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros. Era um dos fundadores e das vozes mais influentes do PSDB. Começou a carreira política em 1960, como deputado constituinte do antigo estado da Guanabara. Dois anos depois, ganhou novo mandato de deputado estadual, mas acabou cassado nos primeiros dias do regime militar instaurado em 1964.

Exilou-se do país por quatro anos. Quando voltou, trocou seu nome de batismo pelo pseudônimo que homenageia o rei Arthur e a Távola Redonda para esquivar-se da perseguição política. Trabalhou em jornais como Última Hora e O Globo. Em 1986, elegeu-se deputado. Liderou o PSDB na Assembleia Constituinte e, em 1995, tornou-se senador e presidente do seu partido. Ao fim do mandato, abandonou a vida pública e passou a se dedicar a programas de música clássica no rádio e na Televisão Senado.

Jornalista, escritor, advogado, ex-parlamentar, ex-secretário municipal das Culturas do Rio e especialista em música clássica, Artur da Távola era um intelectual respeitado que confessava sentir falta de prestígio intelectual. Ele explicava que escrevia crônica, considerada um gênero menor; falava sobre televisão, vista com ressalvas pela elite; e tinha abraçado a política, “atividade que a intelectualidade não compreendia”.

Ainda com o nome de batismo, Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros elegeu-se deputado estadual constituinte no recém-criado Estado da Guanabara, pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), em 1960. Dois anos depois, mudou-se para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e obteve novo mandato de deputado estadual, num período em que fez oposição ao então governador Carlos Lacerda, da UDN. Com os direitos políticos cassados em 1964 pelo regime militar e tendo passado quatro anos no exílio, entre Bolívia e Chile, adotou o pseudônimo Artur da Távola na volta ao Brasil, em 1968. Assinava com seu próprio nome a coluna “Cidade Livre” na “Última Hora”, onde era editor de “Cidade”. O dono do jornal, Samuel Wainer, resolveu criar uma coluna sobre TV e pediu a ele que escrevesse também. E avisou: “Mas assina com outro nome, senão vão dizer que o jornal está na pior.”

 

Em 1972, começou com sua coluna no GLOBO. Dizia-se um cronista que falava sobre televisão, e não um crítico de TV. Távola lançou mais de 20 livros, entre crônicas, contos, poesias, ensaios, biografias e obras sobre comunicação. No GLOBO, ficou até 1987, quando se afastou após ser indicado relator-geral da Comissão de Educação, Família, Cultura, Menor, Idosos, Comunicação, Esporte, Ciência e Tecnologia da Constituinte.

Távola começou a vida política no movimento estudantil da PUC-Rio, onde formou-se em Direito, em 1959. Lá, conheceu Cacá Diegues, lembrou:

— Cheguei com 17 para 18 anos no curso de Direito da PUC, e ele já estava no quarto ano. Ele era diretor do “Metropolitano”, o jornal oficial da União Metropolitana dos Estudantes, e me convidou para ser redator-chefe. Era um líder carismático. Ele que me inventou.

Entre 1956 e 1957, presidiu o Centro Acadêmico Eduardo Lustosa. Em 1965, especializou-se em educação pelo Centro Latino-Americano de Formação de Especialistas em Educação, da Universidade do Chile. Lá também deu aulas, junto com exilados como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – um dos seus grandes aliados políticos. Quando recuperou os direitos políticos, em 1976, filiou-se ao MDB, de oposição ao regime. Em 1979, ingressou no PMDB, legenda pela qual elegeu-se deputado na Assembléia Nacional Constituinte em 1986 como o candidato mais votado do partido no estado do Rio, com 77.738 votos.

Marcou seu mandato pela defesa de mudanças na legislação que regulava as concessões de canais de TV. Para ele, elas deveriam deixar de ser prerrogativa do Poder Executivo e passar a ser concedidas por um conselho de comunicação formado por representantes do setor, dos poderes Executivo e Legislativo e dos trabalhadores da comunicação. Em junho de 1998, durante a Constituinte, integrou a dissidência que deixou o PMDB e foi um dos fundadores do PSDB. No mesmo ano, candidatou-se à prefeitura do Rio, ficando em quarto. Com a promulgação da Constituinte, passa a exercer mandato ordinário de senador. Em 1990, elege-se deputado federal.

Em março de 1994, foi eleito líder da bancada federal na Câmara, para apaziguar uma briga interna no partido entre os candidatos à liderança José Serra (SP) e Sérgio Machado (CE). Nessa época, defendeu a candidatura do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique, à Presidência. Naquela eleição, foi eleito senador pelo Rio, juntamente com Benedita da Silva (PT).

Em 1995, assumiu a presidência do PSDB para conciliar novas brigas internas. O ex-senador deixou a presidência da legenda em 1996. Grande defensor do governo Fernando Henrique, votou no Congresso a favor da quebra do monopólio estatal nas telecomunicações e na distribuição de gás canalizado e do monopólio da Petrobras na extração de petróleo. Mas, em 1996, teve uma grande decepção com o PSDB, por causa do então governador Marcello Alencar. Cogitado para ser o candidato à prefeitura do Rio, com o apoio do PFL do prefeito Cesar Maia, foi preterido pelo então deputado estadual Sérgio Cabral Filho, candidato preferido de Alencar.

Távola acusou o ex-governador de transformar o PSDB numa “brizolândia”, porque Alencar tinha vindo do PDT de Leonel Brizola. Sérgio Cabral acabou perdendo a disputa para Luiz Paulo Conde, candidato de Cesar Maia. Em agosto de 1999, Távola chegou a anunciar o afastamento do PSDB, fazendo críticas ao segundo mandato do governo Fernando Henrique. Mas o ex-senador ainda tentou a reeleição para o Senado, em 2002. Távola ficou em quinto lugar na eleição, na frente de Brizola, que ficou em sexto. Sérgio Cabral, já no PMDB, e Crivella foram eleitos. Antes disso, em 2001, teve uma curta passagem pela secretaria das Culturas do Rio.

 

O jornalista e ex-senador Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, um dos pioneiros da crítica televisiva em jornal e um dos fundadores do PSDB -, teve o mandato e os direitos políticos cassados pós o golpe militar (1964), o que o levou ao exílio na Bolívia e no Chile. Retornou em 1968 e foi convidado pelo jornalista Samuel Wainer a escrever uma coluna sobre televisão no jornal “Última Hora”.

Como seus direitos políticos ainda estava cassados, assinava sob o pseudônimo de Artur da Távola, nome inspirado na lenda inglesa sobre um rei da Idade Média que reunia seus maiores guerreiros em torno de uma mesa no seu castelo.

“Ele foi a primeira pessoa a escrever a sério sobre TV. Era muito estudioso, tratava o tema com rigor e profundidade”, disse o escritor e jornalista Nelson Motta, colunista da Folha.

Por 15 anos, a partir de 1972, escreveu uma crítica diária sobre TV para o jornal “O Globo”. Atualmente escrevia crônicas para o jornal “O Dia”, que resultaram em uma compilação que foi seu último livro, “A Mulher é Amar” (2006).

 

Em janeiro de 2007, ele assumiu a presidência da Rádio Roquette Pinto, e conseguiu revitalizar a emissora, ajudado por locutores como MV Bill, Nelson Sargento, Sérgio Cabral, pai, Pery Ribeiro e Henrique Cazes.

— Ele era um agregador, um homem que juntava os contrários — disse o cineasta Zelito Viana, que produziu três filmes dirigidos por Távola, como o curta-metragem “Fantasia para ator e TV”, com Leila Diniz e Marcelo Cerqueira, e música de Paulo Coelho.

MV Bill afirmou que ele era aberto a novas ideias.

— Ele não conhecia direito o hip hop, mas expliquei, e ele comprou na hora a ideia do programa. E deu o nome: “MV Bill – A voz das periferias”. Eu achava que ele era superconservador, porque tinha sido político. Ficamos com medo de tocar músicas com linguagem mais chula, mais pesadas, com gírias e palavrões. Mas começamos a fazer isso. Ele entrava na sala, eu pensava “Agora nosso programa vai acabar” e ele vinha justamente elogiar — diz o rapper.

 

“Entre seus inúmeros méritos, conseguiu ser político sem ser corrupto e escrever sobre TV com seriedade. Vai ser difícil viver sem ele”, disse o autor de novelas Gilberto Braga.

“Paulo Alberto foi o melhor crítico que a TV brasileira já teve. Escreveu crônicas e poemas que deixavam as mulheres apaixonadas. Foi um deputado com responsabilidade social e autoridade política grande. Quer dizer, um sujeito completo”, disse José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, empresário e ex-vice-presidente de operações da TV Globo.

Távola, que presidia a rádio Roquette Pinto, do governo do Rio de Janeiro, começou a ter problemas de saúde em 2004. Foi internado algumas vezes e se tratava em casa nos últimos meses. Ontem, ao sofrer uma parada cardíaca em casa, familiares tentaram, sem sucesso, reanimá-lo com um desfibrilador.

“Íntegro, generoso, equilibrado, inteligente, bem preparado, comprometido com boas ideias e boas causas. Perdi um amigo íntimo e sábio”, afirmou em nota o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), com quem Távola morou durante exílio no Chile.

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), decretou luto oficial e lamentou a perda “por tudo o que o senador representou em termo éticos, morais e de qualidade intelectual”.

O ex-governador do Rio Marcello Alencar (PSDB) disse que Távola “deixa uma lição de comportamento ético, qualidade que hoje merece exaltação”.
O ex-deputado Vladimir Palmeira (PT) classificou Távola como “uma grande pessoa”.

Artur da Távola morreu no dia 9 de maio de 2008, aos 72 anos, em decorrência de problemas cardíacos, no Rio de Janeiro.

(Fonte: Veja, 14 de maio, 2008 – ANO 41 – N.° 19 – Edição 2060 – DATAS – Pág; 106)

(Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque – EM DESTAQUE / PAÍS – 09/05/18)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil – FOLHA DE S.PAULO – BRASIL – São Paulo, 10 de maio de 2008)

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