As primeiras duas mulheres eleitas para a Academia das Ciências de Lisboa

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A primeira mulher nomeada para um cargo na Universidade

Carolina Michaelis de Vasconcelos (Berlim, Alemanha, 15 de março de 1851 – Porto, Portugal, 22 de outubro de 1925), lexicógrafa de origem alemã que viveu em Portugal no final do século 19. Assim como o Dicionário Aurélio foi batizado para homenagear seu organizador, o linguista Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o Michaelis ganhou seu nome das irmãs Henriette e Carolina. Nas primeiras décadas do século 20, Michaelis deixou de designar uma autoria para se transformar numa marca em Portugal.

1912 – Carolina Michaelis de Vasconcelos e Maria Amália Vaz de Carvalho são eleitas por mérito para a Academia de Ciências de Lisboa

ESCRITORA, INVESTIGADORA, PROFESSORA E DEDICADA MÃE DE FAMÍLIA.

Carolina Wilhelme Michaëlis de Vasconcelos,uma mulher superior, cujo legado à cultura portuguesa atinge uma dimensão invulgar entre nós, tem uma facetalvez ainda mais desconhecida do que o seu contributo intelectual: o lado íntimo efamiliar da sua extraordinária vida.

Carolina nasceu em Berlim, a 15 de Março de 1851.O pai, Gustavo Michaëlis (1813-1895), era professorde Matemática e dedicou-se ao estudo da história daescrita, ortografia e estenografia – em 1851, eraprofessor na Universidade de Berlim, tendo sido chefe dos Serviços Taquigráficos do Parlamento. Amãe, Luise Lobeck (1809- 1863), era originária de Stettin, onde casaram, em setembro de 1838.

Carolina, a mais nova de cinco irmãos, perdeu a mãeapenas com 11 anos. Dos sete aos dezesseis anos, estudou na Escola Superior Municipal Feminina deBerlim. Nesse tempo (meados do século XIX), não eram admitidas senhoras nas universidades alemãs. Assim, Carolina Michaëlis teve professores em casa: estudou literatura greco-romana, línguas eslavas, semitas e românicas, onde se integra o português. Também estudou árabe, para poder ler manuscritos no original. Na Universidade de Coimbra, há cadernos de apontamentos seus, escritos nessa língua difícil.

A sua inteligência e as suas qualidades de trabalho eram notoriamente acimado vulgar. Sabendo isso, o seu professor Carlos Goldbeck deu-lhe, aos catorze anos,como trabalho de férias, a tradução do Nuevo Testamento. Carolina, que nãodominava o castelhano, perguntou admirada ao professor se não se teria enganado… ao que ele respondeu: “Estude. Estude!” E Carolina estudou, traduziu, fez uma pequena gramática de espanhol e um caderno de significados em francês e italiano.

Em 1867, com apenas 16 anos, Carolina começou a publicar, em revistas alemãs da especialidade, trabalhos sobre língua e literatura espanhola e italiana. O interesse pelo português chegou depois. Rapidamente Carolina se tornou conhecidano meio dos estudos filológicos da Europa. O eminente professor Gaston Paris escreveu-lhe uma carta em que lhe perguntava:

“Onde aprendeu aos dezenove anos aquilo que muitos de nós, depois de doze ou quinze anos de trabalho, ainda não conseguiram saber? “Em Portugal, Teófilo Braga, Alexandre Herculano e Oliveira Martins, entre outros, repararam na erudição daquela jovem alemã tão interessada pela cultura e literatura portuguesas – e trocaram cartas com ela. A sua facilidade para as línguas dá-lhe o reconhecimento oficial para ser tradutora, ainda muito jovem.

De Fausto ao casamento

Em 1872, foi publicada a tradução do Fausto, de Goëthe, feita por António Feliciano de Castilho, que gozava de grande reputação como educador e escritor. O jovem Joaquim de Vasconcellos insurgiu-se contra os erros e aforma menos cuidada de tratar uma obra universal. Estalou a polémica. Uns posicionaram-se a favor do velho escritor e outros, do lado do jovem Vasconcellos. Certo é que saíram à liça escritores como Camilo Castelo Branco, Pinheiro Chagas, Antero de Quental, Adolfo Coelho e muitos outros.

Foi tal a repercussão do caso, conhecido por “Questão do Fausto”, que Carolina Michaëlis, com pouco mais de vinte anos, tomou conhecimento dele e resolveu escrever uma carta a Joaquim de Vasconcelos. Este respondeu. E sucederam-se outras cartas. Joaquim foi diversas vezes a Berlim, onde gostava de se passear com o seu capote alentejano. Depressa descobriram haver, entre ambos, mais do que afinidades pelas coisas da cultura portuguesa. Em março de 1876, casaram em Berlim. Depois de uma viagem de núpcias pela Europa, foram viver no Porto, na Rua de Cedofeita. Viveram no n° 150 e depois no n° 159, onde a Câmara Municipal mandou colocar uma placa evocativa, recordando que ali viveu a insigne mestra.

Desfazer um equívoco

Quando se fala de Carolina Michaëlis de Vasconcellos, afirma-se que ela foi a primeira catedrática portuguesa. É certo que foi realmente a primeira mulher a lecionar numa universidade, a Universidade de Coimbra. Porém, convém desfazer um equívoco. A sua craveira intelectual e as suas investigações tinham-na tornado uma das mais eruditas pessoas do seu tempo, mas Carolina Michaëlis foi apenas convidada para lecionar.

A primeira catedrática portuguesa foi, e é, a professora Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, especialista em estudos clássicos, que prestou provas de doutoramento em 1956, na Universidade de Coimbra, e se reformou há escassos anos. Como professora, Carolina era de uma enorme dedicação aos alunos e fazia, várias vezes por semana, a viagem do Porto para Coimbra e regresso, que naquele tempo devia ser bastante incômoda. Aproveitava para preparar as aulas, porque o tempo continuava a ser de ouro!

Entre os títulos detinha os das letras, osde doutora honoris causa pelas Universidades deFriburgo (1893), Coimbra (1916) e Hamburgo(1923). E o rei D. Carlos concedera-lhe, em1901, a insígnia de oficial da Ordem de Santiago da Espada. A Academia das Ciências de Lisboa, com a oposição de alguns sócios menos abertos à mudança, admitiu, em 1912, as primeiras duas mulheres como sócias daquela instituição: Carolina Michaëlis de Vasconcelos e Maria Amália Vaz de Carvalho.

(Fonte: http://pt.scribd.com/doc/29440846/Carolina-Michaelis-de-Vasconcelos – 06/03/10)
(Fonte: Veja, 29 de abril de 1998 – Edição n° 1544 – ANO 31 – N° 17 – LIVROS/ Por Carlos Graieb – Pág; 138/139)

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