ASCENSÃO E QUEDA DO TABACO
Na forma moderna, o cigarro surgiu no fim do século XIX e, até o início do século seguinte, sua difusão foi acidentada. Nos Estados Unidos, país que promoveu o triunfo e a tragédia do cigarro, o tabaco não era bem-visto até a I Guerra Mundial, ainda que seu consumo viesse aumentando ano após ano.
A campanha contra males físicos e morais do cigarro ficou frívola diante das atrocidades do front – e os soldados, afinal, precisavam de algo para distrair e relaxar.
“Se me perguntarem do que precisamos para vencer a guerra, eu direi: munição e tabaco.”
John Pershing (1860-1948), general americano, líder da força expedicionária americana na Europa, em declaração numa das poucas coisas que ajudaram mais a elevar o cigarro a um patamar de respeito. Enviar cigarro aos rapazes no front se tornou gesto de patriotismo. Compartilhar um cigarro na trincheira, símbolo de camaradagem.
Com o fim da I Guerra Mundial, começaram a diminuir as resistências ao cigarro e, apesar das descobertas de seus males, o consumo cresceu dramaticamente até meados da década de 60 nos Estados Unidos. Daí em diante, passaram a surgir as restrições
As feministas erguiam o cigarro como uma declaração de autonomia. Um dos mentores da popularização foi Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud nascido na Áustria e criado nos Estados Unidos. Era uma fera na arte da “motivação de massa”. Associou o cigarro à moda, à alta-costura parisiense, à própria psicanálise – “sublimação do erotismo oral” – e ajudou a inseri-lo nas telas do cinema, onde ficava magistral entre os dedos de Humphrey Bogart ou os lábios de Rita Hayworth.
A ERA DOS MALES
1929
O alemão Fritz Lickint (1898-1960) publicou a primeira evidência de que o tabaco podia causar câncer de pulmão. Em 1925 ele publicou um aumento de úlcera gástrica e câncer de estômago em fumantes.
Lickint foi um dos primeiros médicos que descrevem a dependência do tabaco físico e psicológico como uma doença, que precisa de tratamento, sugerindo uma série de terapias (parte deles ainda em uso). Ele também apontou para o “comportamento anti-social de muitos fumantes, poluindo o ar ambiente de forma imprudente e prejudicando a saúde de outras pessoas”.
1936
Fritz Lickint criou o termo “fumo passivo” (Passivraucgen, em alemão), ao investigar cientificamente problemas de saúde e problemas sociais relacionados ao álcool e tabaco, descreveu em 1920 o câncer de pulmão de fumar e o câncer de via ao lado do trato respiratório e digestivo superior.
1954
O governo da Inglaterra reconhece oficialmente a relação causal entre cigarro e câncer de pulmão
1957
O American Journal of Obstetrics & Gynecology publicou que o parto prematuro era duas vezes maior entre mães fumantes
1964
Num anúncio histórico, o governo americano afirmou pela primeira vez que o cigarro causa câncer de pulmão
1970
A Organização Mundial de Saúde assumiu uma posição oficial e pública contra o cigarro
A ERA DAS RESTRIÇÕES EM LOCAIS PÚBLICOS
1973
O Arizona foi o primeiro estado americano a aprovar lei antifumo em lugares públicos
1975
A Itália, a Índia e a Tailândia aprovaram leis contra o cigarro
1976
A Justiça americana deu a primeira sentença contra uma empresa por não proteger os não fumantes da exposição ao cigarro alheio
1982
O governo americano disse que existem evidências de que o fumante passivo pode ser vítima de câncer de pulmão
1983
São Francisco aprovou a primeira lei banindo o cigarro dos locais de trabalho
A ERA DAS PROIBIÇÕES NOS BARES E RESTAURANTES
1990
San Luis Obispo, na Califórnia, foi a primeira cidade no mundo a banir o cigarro de todos os locais públicos, incluindo bares e restaurantes
1994
Cientistas do Canadá encontraram evidências de que o fumo passivo pode prejudicar até o feto de gestante não fumante
1996
No Brasil, uma lei federal proíbe o cigarro em recintos públicos fechados, mas autoriza a criação de áreas reservadas a fumantes e não fumantes em restaurantes. No Brasil, estima-se que pouco mais de 16% da população seja fumante. É um dos mais baixos índices do mundo, o que faz do país um lugar próprio para popularizar as leis contra o fumo
1998
A Califórnia tornou-se o primeiro estado americano a proibir o cigarro nos bares
2003
Nova York pôs em vigor uma das mais severas leis antifumo do mundo. Baniu o cigarro de todos os lugares públicos, incluindo bares e restaurantes
2004
O cigarro foi banido de bares e restaurantes na Irlanda, Noruega e Nova Zelândia. No ano seguinte, na Suécia. As restrições são ousadas (Irlanda), o cigarro é banido até do símbolo nacional, os pubs.
2005
Suécia, 2005: o cigarro sumiu dos locais públicos. Apesar das diferenças de ritmo e intensidade, o banimento do cigarro parece inexorável no Ocidente.
2006
República Checa, são proibições ainda tímidas: começou o veto ao cigarro nas escolas.
2007
Depois do Uruguai e da Austrália, o veto ao cigarro em bares e restaurantes chegou a países do Oriente Médio, como Israel e Dubai
2008
A França, terra do Gauloises e do Gitanes, baniu o cigarro de bares e restaurantes
2009
A proibição de fumar em bares e restaurantes começou a se espalhar pelo Brasil
(Fonte: Veja, 25 de novembro de 2009 – ANO 42 – Nº 47 – Edição 2140 – Saúde/ Por André Petry, DE NOVA YORK – Pág: 163/170)