Assinaram o primeiro contrato de união estável entre homossexuais no Brasil
Após 4 tentativas nesta segunda, casal gay assina união estável
Toni Reis e David Harrad tiveram pedido negado nos cartórios, mas conseguiram oficializar a relação. É a primeira desde a decisão do STF
O brasileiro Toni Reis e o britânico David Harrad fizeram história na tarde desta segunda-feira. Eles assinaram o primeiro contrato de união estável entre homossexuais no Brasil após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Mais de vinte anos depois do começo do namoro, o casal finalmente conseguiu oficializar a união, no 6º Tabelionato de Curitiba, no centro da capital paranaense.
Com gravatas lilás, broches coloridos e um cravo vermelho na lapela, Reis e Harrad chegaram ao cartório guiados por um guarda-chuva de arco-íris símbolo do movimento gay, chamando a atenção dos pedestres. A decisão do STF na semana passada reconhecendo a união estável entre casais do mesmo sexo não foi o suficiente para facilitar a vida de Reis e Harrad.
Foi somente depois da recusa de quatro cartórios de Curitiba que eles conseguiram encontrar um estabelecimento que aceitasse fazer a união. Em parte foi má vontade e a outra parte pode ter sido preconceito mesmo. Não queremos ser tratados como diferentes ou com poderes a mais, somente com o direito que é nosso, resumiu Reis, antes de entrar para assinar o contrato de casamento. Eles contrataram três advogados para ajudar na assinatura em cartório.
Os funcionários do tabelionato providenciaram uma sala mais ampla para que todos os amigos, curiosos e jornalistas pudessem acompanhar a assinatura do contrato de Reis e Harrad. Cada dia mais precisamos estar preparados para atender a sociedade como um todo. Quem se recusa a fazer o contrato de união estável não tem conhecimento disso, declarou o tabelião substituto que atendeu o casal, Elton Targa.
Na saída do cartório, tudo o que eles tinham direito: a troca de alianças, a pose para fotos e o beijo para simbolizar a união. Agora está escrito. Querendo ou não, somos uma família. Não é aquela família tradicional de comercial de margarina, mas somos família. Esse papel pode não parecer muita coisa, mas é uma prova do avanço do princípio de igualdade, comemorou Reis, que também é presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
Carta aberta ao STF
No último sábado, Reis divulgou uma carta aberta sobre a decisão do STF. O presidente da ABGLT comemora e agradece aos ministros do Supremo, lembrando das últimas manifestações contrárias aos direitos dos gays, vindas de religiosos e políticos Brasil afora.
Obrigado ao STF por nos ter considerado pessoas cidadãos e cidadãs portadores de dignidade que devem ser tratados em pé de igualdade. Nos últimos tempos alguns parlamentares e alguns religiosos homofóbicos tentaram abalar nossa autoestima, humilhando-nos com suas falas obscurantistas, arrogantes e autoritárias a nosso respeito, igual aos que achavam que a terra era quadrada e nos queimaram na fogueira. Não é mera retórica dizer que o STF lavou nossa alma, é o que diz um trecho da carta.
Reis ressalta que a decisão do STF não traz perda para ninguém. E o melhor de tudo é que Brasil inteiro ganha com a decisão do STF. Ninguém perdeu. O Brasil ficou maior, mais belo, mais colorido, mais humano e mais feliz, escreve ele, que também destaca que muitos casais não vão mais precisar viver com medo. A decisão do STF abre caminho para que, aos 60 mil casais homoafetivos recenseados pelo IBGE, se somem milhões de outros casais que ainda vivem sob o medo da chacota, da discriminação e da exclusão social.
Para o próximo dia 18, durante a 2ª Marcha pela Cidadania LGBT, o movimento pretende simbolizar a conquista com um grande abraço em volta do STF e, nas palavras de Reis, soprar para fazer os ventos que façam as luzes do STF atravessar a rua e chegar até o Congresso Nacional.
(Fonte: www.ultimosegundo.ig.com.br – Brasil Por Luciana Cristo, iG Paraná – 09/05/2011)