Baptiste Louis Garnier (Paris, 4 de março de 1823 – Rio de Janeiro, 1° de outubro de 1893), editor francês, o mais importante editor do século 19. Teve um papel de aglutinador, que certos editores acabavam de desempenhar, em determinadas épocas, a ponto de funcionar como importantes motores da cultura nacional. Foi o caso de Garnier, cuja casa abrigava todos os autores relevantes, a começar por José de Alencar e Machado de Assis. A razão era óbvia Garnier pagava bem, era bom cumpridor dos contratos e mandava imprimir os livros em Paris, segundo a técnica e a qualidade francesas que eram de gosto na época. Garnier não fez muitos amigos: a seu enterro, além da viúva e dos funcionários, compareceram apenas outras três pessoas, entre as quais o próprio Machado. Mas a livraria que mantinha, além da editora, era um ponto de encontro no qual Machado de Assis tinha sua cadeira reservada, todo final de tarde, para se entreter em conversas com Joaquim Nabuco, Silvio Romero ou Clóvis Bevilacqua.
TOQUE DE OTIMISMO Esse mesmo papel da casa editora como aglutinadora de talentos, e da livraria como ponto de encontro, só iria se repetir nas mesmas proporções nos anos 30, com a casa de José Olympio Pereira Filho com a diferença de que, neste caso, ele era muito amigo dos escritores. Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado todos eles foram editados por Olympio. Junto com seus perfis, foi se tecendo a história de como a cultura nacional, com avanços e recuos, transplanta-se para as gravações em letra de forma.
(Fonte: Veja, 27 de MARÇO de 1985 Edição n° 864 LIVROS O Livro no Brasil/ Por Laurence Hallewell – Pág; 120/121)
Garnier, um livreiro francês no Brasil
A tradição de livreiros franceses se instalarem no Brasil foi mantida ao longo do século 19. Um dos pioneiros foi Paulo Martin, herdeiro de uma família de livreiros de origem francesa que se instalara em Portugal e que depois foi responsável por uma nova livraria no Rio de Janeiro.
Na segunda metade do século XIX, intensificou-se a presença de tipógrafos e livreiros, principalmente no Rio de Janeiro. A cidade continuou sendo uma espécie de Meca dos trópicos a ser explorada. A denominação de tratantes em livros, mais comum nas primeiras décadas do século, vinha sendo substituída pouco a pouco por livreiros, suas lojas já deixavam de acumular funções e abandonavam a venda de ungüentos, e de secos e molhados, incorporando às montras objetos de papelaria.
A profissionalização de livreiros e impressores no Brasil foi um processo lento. A Europa, sobretudo a França, tinha um papel hegemônico indiscutível, e o barateamento da produção levou muitos dos agentes do mercado editorial brasileiro a imprimir seus livros em Paris. No entanto, o mercado brasileiro se mostrou atrativo, pela novidade que representava e também pelas brechas legais que permitia o consumo de livros em francês, mesmo aqueles que estariam mais vulneráveis à censura na Europa.
A incorporação de novas tecnologias na navegação e a facilidade de trocas comerciais a partir da assinatura da convenção postal entre diversos países, inclusive o Brasil, foram fatores relevantes para baratear os custos de transporte e dar ao livro francês um destaque universal. Baptiste-Louis Garnier, um dos mais importantes livreiros e editores franceses no Brasil, chegou ao Rio de Janeiro em 1844. Era o mais moço dentre quatro irmãos que já tinham se estabelecido com lojas em Paris, desde 1828.
Os irmãos Auguste e Hippolyte mantiveram uma sociedade com Baptiste-Louis, e suas experiências anteriores foram fundamentais para o sucesso dos investimentos no Brasil. Na França, a sociedade dos irmãos produziu obras de cunho erótico que certamente tiveram um papel significativo nos lucros, mas que se constituíam em risco, tendo-se envolvido em situações policiais, conforme demonstram alguns estudos.
No Brasil, produziu o que aparecia em seus catálogos e nos anúncios do Jornal do Commercio como Livros para cavalheiros, com textos de autores como Paulo Mantegazza e George Ohnet. Mas, os investimentos focalizaram autores brasileiros e ampliaram a valorização da impressão de livros brasileiros na França. Novidades, já implantadas na Europa, como o formato francês do livro, foram introduzidas por Garnier, como também os preços de capa fixos, e a exibição de lançamentos nas vitrines.
Baptiste-Louis foi o editor de Machado de Assis, e também de um grande número de autores nacionais, como José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, e também Gonçalves de Magalhães, Araújo Porto Alegre, Aluísio de Azevedo, Olavo Bilac, tornando-se a principal casa editorial brasileira. Publicou um grande número de compêndios para a instrução pública, adquiriu grande número dos direitos de edição de romances de autores iniciantes, divulgou poesia, livros científicos e escolares. Intensificou traduções e foi consolidando o sucesso editorial no Brasil.
Foi agraciado com o título de Oficial da Ordem da Rosa, em 1867, que era uma importante comenda concedida após demanda, desde que comprovados os serviços relevantes prestados à cultura imperial. Também foi reconhecido com o título de livreiro-editor do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, além de ser empresa fornecedora da Casa Imperial.
Por muito tempo manteve sociedade com os irmãos na França, e em 1852, passou a se identificar como Livraria B.-L. Garnier, mas comercializava títulos da livraria parisiense Garnier Frères. À medida que se consolidava, estabeleceu-se em vários endereços no centro do Rio de Janeiro, e em 1878, mudou-se definitivamente para a rua do Ouvidor n. 71. Mais tarde, no alvorecer do século XX (1901) inaugurou uma magnífica sede, neste mesmo endereço, planejada pelos arquitetos Belissime e Pedarieu. Com a morte de B.-L. Garnier, em 1893, a livraria retorna por direito de herança, a seu irmão Hippolyte, da Garnier Frères.
Foi considerado por muitos estudiosos do livro como o mais importante editor do século XIX. Luiz Edmundo, referiu-se a Livraria Garnier, palco diário de encontros entre diversos escritores e literatos, como a sublime porta e a relacionava à admiração que havia quanto ao espírito francês: persistimos franceses, pelo espírito e, mais do que nunca, a diminuir por esnobismo tudo que seja nosso. (…) Bom, só o que vem de fora. E ótimo, só o que vem da França.
(Fonte: http://bndigital.bn.br/francebr/garnier – A França no Brasil)