Bernard Arnault, empresário francês, respeitado e temido tanto dentro quanto fora do luxuoso império LVMH que ele construiu ao longo dos últimos 25 anos.
Ainda assim, ele não se parece com alguém que construiu um império. Ele é uma figura enigmática. Por um lado, é um indivíduo educado, de fala mansa, que gosta de tocar música clássica no piano de cauda ao lado de seu escritório; por outro, é considerado um dos mais cruéis e competitivos magnatas. E, de longe, o mais bem sucedido em seu setor.
Arnault é beligerante quando se trata de defender sua imagem, interesses e acionistas – um traço que desenvolveu provavelmente quando jovem, ao trabalhar no mercado imobiliário e de construção dos Estados Unidos.
Como homem mais rico da França, ele pode se dar o direito de ser beligerante. Arnault atacou o Ebay, a maior companhia de comércio eletrônico do mundo, acusado pela LVMH de não combater com eficácia as vendas de produtos falsificados. As imitações são hoje um dos maiores problemas para a infinidade de marcas de luxo da LVMH – como Louis Vuitton, Fendi e Dior, além dos champanhes Moët & Chandon e Krug e do conhaque Hennessy – e para a indústria como um todo.
O valor (38 milhões de euros, US$ 60 milhões) da vitória judiciária de Arnault sobre o Ebay nesta semana não é o mais importante. O caso foi elaborado para avisar as outras marcas de luxo que elas também poderão processar – com sucesso – um veículo grande de distribuição como o Ebay por não tomar providências suficientes para prevenir a comercialização de produtos falsificados.
Ele também mostrou seu estilo americano beligerante de negociar há alguns anos, quando se tornou o primeiro na Europa a levar um grande banco de investimentos e sua famoso analista de bens de luxo – o Morgan Stanley e a analista Claire Kent – ao tribunal acusando-os de apoiar tendenciosamente seu arqui-rival francês, François Pinault, na batalha pela Gucci. No ano passado, os dois lados chegaram a um acordo fora do tribunal. Mas novamente Arnault conseguiu manter sua posição. Hoje em dia, todos têm muito mais cuidado em relação ao que escrevem ou dizem a respeito do grupo de Arnault.
Tudo isso é novidade no mundo dos negócios francês. Mas Arnault nunca se curvou diante da tradição francesa. Quando começou, ele não era membro da comunidade de negócios parisiense. Esse não é mais o caso. Hoje, o magnata de 59 anos de idade é um dos homens mais influentes da França, principalmente devido a sua amizade estreita com o presidente Nicolas Sarkozy.
TRAJETÓRIA
A família de Arnault tinha uma companhia de construção de porte médio no norte da França. Depois de se formar em matemática e engenharia na Escola Politécnica, Arnault não seguiu o caminho tradicional de um emprego no governo. Em vez disso, juntou-se à companhia da família, desenvolveu seu espírito empreendedor e foi para os Estados Unidos. Ao voltar para a França, lançou sua primeira tentativa de tomar controle de uma companhia, aos 35 anos de idade.
O primeiro negócio refinou o que viria a ser a estratégia de sua grande idéia – desenvolver um conglomerado internacional de luxo ao absorver marcas familiares famosas, porém vulneráveis. Ele assumiu o falido grupo de confecções Boussac Agache Willot, que era dono da Christian Dior. Depois de reduzir a Boussac à loja de departamentos Bom Marché e à Dior, Arnault usou a Dior para começar a LVMH.
Um grupo de luxo já havia se formado com a fusão da Loius Vuitton e da Moët-Hennessy. Aproveitando a queda do mercado de ações em 1987, ele comprou 43% das ações e tornou-se o seu maior acionista. Mais tarde, agarrou sua chance de assumir o controle administrativo quando estourou uma amarga disputa pelo poder entre Henry Racamier (o patriarca da família Vuitton) e Alain Chevalier (o suave chefe-executivo da Moët-Hennessy).
Desde então, ele continuou incrementando o portfólio de marcas da LVMH. Aproveitou outra briga familiar para tomar o controle da Châteu d’Yquem, provavelmente o vinho de sobremesa mais famoso do mundo e o favorito do quase sempre abstêmio Arnault. Ele tentou, mas não conseguiu, colocar as mãos sobre a Gucci que, depois de uma das disputas por controle mais brutais dos anos recentes, terminou com seu rival francês, Pinault.
No entanto, Arnault ainda pode dizer que estabeleceu a tendência no setor. Pinault e outros como Richemont, dono da Cartier, seguiram seu modelo de acumular marcas. Ele também pode dizer que continua a liderar no setor de luxo, empregando mais de 70 mil pessoas, com lucro de 16,5 bilhões de euros no ano passado, um lucro líquido de 2 bilhões de euros e uma capitalização de mercado de cerca de 31,7 bilhões.
Seu mantra de negócios é simples: “Esteja no lugar certo na hora certa”. Mas apesar de sua abordagem pragmática, Arnault também parece sofrer dos mesmos problemas de ego que sofrem aqueles em posições elevadas. Ele pode ser tanto irritável quanto charmoso. É um caçador de troféus. Colecionador de arte respeitável, criou a fundação Louis Vuitton para a arte contemporânea. Ele também é um barão dos jornais, tendo comprado o principal jornal de negócios francês, Les Echos, de Pearson, dono do Financial Times. Apesar de ter sido uma atitude controversa, Arnault disse que não tem intenção de interferir na independência editorial do jornal.
Casado pela segunda vez e pai de cinco filhos, Arnault se tornou um acionista militante. O fundo US Colony Capital ofereceu a ele uma parceria para investir em uma parcela estratégica de ações do Carrefour, a loja de departamentos francesa que é a segunda maior do mundo depois do Wal-Mart. Colony e a empresa de investimentos da família de Arnault se tornaram os maiores acionistas do Carrefour e possuem três cadeiras em sua mesa de diretores. Novamente, Arnault parece ter tomado vantagem na separação entre os acionistas familiares que controlavam o negócio, os Halleys do Carrefour, para ir adiante. Até agora, o investimento tem decepcionado. Arnault e Colony compraram as ações por 45 euros cada no ano passado. Desde então, elas caíram para 38 euros; somando um prejuízo de cerca de 800 milhões de euros.
Arnault ainda vê oportunidades de longo prazo com o Carrefour. Um de seus conselheiros mais próximos sugere que o magnata de luxo deveria se restringir ao seu nicho. “Seus empreendimentos fora do setor de luxo nunca foram vitoriosos”, observou. Mas Arnault pode bancar alguns erros.
O que virá em seguida? Arnault com certeza gostaria de acrescentar outra marca de luxo a seu portfólio, e há tempos vem paquerando as grifes Hermès, Chanel e Armani. Nenhuma delas está à venda, mas isso não impede que ele sonhe. Ele também já sugeriu que estaria interessado em comprar o Financial Times, se o jornal estivesse à venda. Não somente porque o jornal é a bíblia financeira de “Deus”; mas provavelmente porque Arnault o considera uma marca de luxo.
(Fonte: http://www.alexpalhano.com.br – Financial Times/ Tradução: Eloise De Vylder)
Por Paul Betts, do Financial Times