HORROR
O triste fim de Karloff e outros monstros
Boris Karloff (Dulwich, Londres, 23 de novembro de 1887 – Sussex, 2 de fevereiro de 1969), o mais famoso monstro do cinema, ainda chamado para pequenos papéis em que geralmente as suas próprias maldades eram pretexto para o humor, passou seus últimos anos apresentando programas na TV e contando belas histórias para crianças.
A maior vítima de Frankenstein foi Boris Karloff. Ator versátil no teatro e no cinema, jamais conseguiu se livrar do fantasma que criou. Aos dez anos, ainda na sua Inglaterra natal, fez o papel de diabo numa peça infantil. Trinta anos depois, ele deu vida a Frankenstein e daí para frente um e outro passaram a ser a mesma criatura.
Monstros humanos – Boris Karloff (na verdade William Henry Pratt) era o único sobrevivente do trio máximo de monstros do cinema. A fama desse trio nasceu nos primeiros anos do cinema falado, quando se encerrou uma brilhante série de filmes europeus que deram ao horror a sua dignidade artística.
“O Gabinete do Dr. Caligari” (do alemão Robert Wiene, 1919), o “Vampiro”, do dinamarquês Carl Dreyer (1930), e os dois filmes da série “Dr. Mabuse”, do alemão Fritz Lang (em 1922 e 1932), eram fábulas sutis da decadência e da doença mental que minava a Europa.
Depois de 1930, o horror passou a ser mais um trabalho de ator do que de diretor. Nascia então a era de Lon Chaney (1883-1930), Bela Lugosi (1882-1956) e Boris Karloff. O primeiro, e mestre de todos, foi Lon Chaney, o “homem das mil caras” (das quais pelo menos 990 eram apavorantes), saudado em todo o mundo pela humanidade com que retratou tipos monstruosos.
E se Bela Lugosi era o monstro insinuante, capaz de dizer “Eu sou… Drácula!” com o mesmo charme com que Rodolfo Valentino dizia “Eu te amo”, Karloff foi o criador do mais complexo e perturbador de todos os monstros, “um tipo que era muito melhor que todos os que o perseguiam com pedaços de pau”, segundo o crítico Carlos Clarens.
Seu “Frankenstein” apareceu em 1931, seguindo-se “A Noiva de Frankenstein” (1935) e “O Filho de Frankenstein” (1939). Depois disso, fez cerca de cinquenta filmes incluindo uma patética desmitificação do seu próprio tipo, em “Emboscada” (1947). Havia pouco lugar no mundo para as maldades de Boris Karloff quando ele morreu, tranquilamente, em 2 de fevereiro de 1969, aos 81 anos, num hospital da Inglaterra.
(Fonte: Veja, 12 de fevereiro de 1969 – Edição 23 – CINEMA – Pág: 54)