Britto Velho, o “guerreiro da democracia”
“Antes de ser letra escrita nas Constituições, tem que ser vida, modo de pensar, de sentir, de querer, de agir e somente na medida em que o homem for educado para a democracia, esta poderá desenvolver-se e subsistir.”
Carlos de Britto Velho – 1912-1998
Carlos de Brito Velho (Porto Alegre, 4 de setembro de 1912 – Torres, 1º de dezembro de 1998), ex-deputado federal pela Arena, Rio Grande do Sul, e do antigo Partido Libertador e, ex-secretário de Educação do Rio Grande do Sul.
Brito Velho resolveu renunciar ao seu mandato de deputado federal em setembro de 1969, nove meses depois da edição do AI-5, em protesto pela decisão do regime militar em manter o Congresso Nacional fechado.
Foi eleito deputado estadual, pelo PL, para a 38ª Legislatura da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, de 1947 a 1951.
Deputado Federal, em 1963 fazia parte da Comissão de Educação da Câmara de Deputados. Após a edição do Ato Institucional nº 5, renunciou ao mandato.
Foi Secretário de Educação do Rio Grande do Sul.
Carlos de Brito Velho nasceu em Porto Alegre no dia 4 de setembro de 1912, filho de Júlio de Sousa Velho e de Carlota de Brito Velho.
Realizou seus estudos primário e ginasial no Ginásio Anchieta, na capital gaúcha, entre 1917 e 1927. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul em 1934, realizando depois cursos de pós-graduação nas universidades de Paris e Genebra. Em 1938 começou a lecionar, como livre- docente na atual Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Em janeiro de 1947, afastando-se da docência e da medicina, elegeu-se à Assembleia Constituinte gaúcha na legenda do Partido Libertador (PL), sendo um dos 39 deputados signatários da Carta estadual promulgada a 8 de julho de 1947. Entre 1960 e 1962 foi secretário de Educação e Assistência do governo do Rio Grande do Sul e, em outubro deste último ano, elegeu-se o deputado federal mais votado por aquele estado na legenda da Ação Democrática Popular, coligação formada pelo PL, a União Democrática Nacional (UDN), o Partido de Representação Popular (PRP) e o Partido Democrata Cristão (PDC). Assumiu o mandato em fevereiro de 1963, em maio do mesmo ano tornou-se vice-líder do PL e, a partir de junho de 1964, foi vice-líder do bloco parlamentar UDN-PL na Câmara dos Deputados.
Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime militar instaurado no país em abril de 1964, e legenda na qual foi reeleito em novembro de 1966. Na Câmara participou da Comissão de Educação e Cultura. Em setembro de 1969, meses depois da edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que suspendeu o funcionamento do Congresso, renunciou a seu mandato em protesto contra o completo esvaziamento do Poder Legislativo. Na ocasião, afirmou: “Hoje, precisamente, faz nove meses da decretação do recesso parlamentar. E nove meses é o maior prazo que se pode aguardar dentro da espécie humana — o resto pertence à zoologia.” Desde essa ocasião, não voltou a ocupar outro cargo político.
Em 1972 aposentou-se e, dois anos mais tarde, enviou carta ao candidato oposicionista ao Senado pelo Rio Grande do Sul, Paulo Brossard, tornando público seu apoio a essa candidatura. Afirmou na ocasião que “votar em Brossard é estar elegendo homem da linguagem espiritual de Gaspar da Silveira, Assis Brasil e Raul Pilla”.
Entre 1974 e 1975, Brito Velho ministrou aulas de filosofia no Seminário de Viamão (RS), sua última atividade como docente.
Em 1984 transferiu-se com a esposa para Torres (RS), onde permaneceu até 1997. Nesse ano, já doente, voltou para Porto Alegre.
Ao longo de sua vida, foi um grande líder católico no Rio Grande do Sul, e, ao deixar oficialmente a política, continuou mantendo fortes contatos e sendo consultado por diversos parlamentares.
Foi ainda professor titular e catedrático da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na cadeira de fundamentos biológicos da educação.
Publicou Etiopatogenia e classificação das hipertensões arteriais permanentes, Nefrozelipóidica,Climatério feminino, Medicina e filosofia moral, Valor nutritivo dos alimentos, Educação para a democracia e Bases e diretrizes para a reforma agrária no Brasil.
Uma vida dedicada à política
Um guerreiro pela democracia, era como se auto-intitulava Carlos de Britto Velho. Formou-se em Medicina em 1934, pela Universidade do Rio Grande do Sul, realizando, a seguir, pós-graduação em Paris e Genebra. Homem de vocações fortes, elegeu-se em 1947 à Assembléia Constituinte gaúcha pelo Partido Libertador e foi um dos 39, deputados, a elaborar a Carta Estadual, promulgada em 8 de julho de 1947. Assumiu a Secretaria da Educação e Assistência do Estado e, em outubro de 1962, foi eleito deputado federal, em coligação entre a Ação Democrática Popular-PL, UDN, PRP e PDC.
Como deputado federal, foi vice-líder do PL e vice-líder do bloco parlamentar UDN-PL na Câmara dos Deputados. A extinção dos partidos políticos com o Ato Institucional número 2, em 1965, fez com que Britto Velho se filiasse à Aliança Renovadora Nacional (Arena), pela qual foi reeleito em 1966. Após o AI-5, com a suspensão das atividades parlamentares no Congresso Nacional, Britto Velho renunciou ao mandato, atitude de protesto ao esvaziamento do Congresso. O parlamentarista não voltaria mais a exercer a função de deputado, porém, a vida pública e a vocação política foram continuadas através de cartas, declarações e pronunciamentos.
Um exemplo da sua retórica inesquecível foi apresentado ao Plenário da sessão solene do dia 28 de junho de 1989. 20 anos após a renúncia. Na homenagem como Deputado Emérito da Assembleia Legislativa, discursou a favor do parlamentarismo, da democracia e posicionou-se contra os militares. No discurso, o general Ernesto Geisel foi definido como arrogante e “muito pimpão”, o que irritou militares presentes. A distinção de Deputado Emérito foi designada pelo deputado Sanchotene Felice (PMDB).
Foi casado por mais de 60 anos com Alice de Azambuja de Britto Velho, que morreu em 1997. Com ela, teve apenas um filho, Gabriel Araújo de Britto Velho, hoje professor de Filosofia da Ufrgs. Embora afastado do trabalho parlamentar, Britto Velho dedicava-se ultimamente a leituras e conversas políticas, além da correspondência incessante com personalidades e amigos.
Faleceu em Porto Alegre no dia 1º de dezembro de 1998.
A sessão Plenária da tarde de ontem na Assembleia Legislativa foi suspensa em memória do ex-deputado Carlos de Britto Velho, falecido na última terça-feira, aos 85 anos de idade, após uma cirurgia para conter um aneurisma. O corpo do Deputado Emérito foi velado ontem, no Salão Júlio de Castilhos da Assembléia Legislativa, e sepultado no cemitério da Santa Casa.
O presidente da Assembleia, deputado José Ivo Sartori, define Britto Velho como um dos principais responsáveis pela formação da imagem de seriedade que os políticos gaúchos conquistaram. Segundo Sartori, Britto Velho foi um grande professor, uma pessoa que pelas suas virtudes polemizava. “Ele foi nosso deputado federal e renunciou ao cargo justamente para mostrar seu descontentamento”, recordou.
(Fonte: http://www.al.rs.gov.br/diario)
(Fonte: Veja, 18 de dezembro de 1968 – Edição 15 – BRASIL – Pág: 16/21)
(Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo – CARLOS DE BRITO VELHO)
FONTES: CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Deputados brasileiros. Repertório (1963-1967 e 1967-1971); CÂM. DEP. Relação nominal dos senhores; Correio do Povo (8/12/65); INF. FAM. GABRIEL AZAMBUJA DE BRITO VELHO; NÉRI, S. 16; SILVA, R. Notas; Veja (24/9/69).