Buck (1892-1973), uma das escritoras americanas mais populares do século XX, Nobel de Literatura de 1938. Num comentário do presidente Richard Nixon, para quem ela era “a ponte humana entre as civilizações do Oriente e do Ocidente”. Mais do que isso, Pearl Sydenstricker Buck, foi uma encarnação pessoal dessas duas civilizações. Aprendeu a falar chinês antes do inglês (os pais, missionários, levaram-na para a China aos três meses de idade) e, logo depois de formada numa universidade americana, passou a escrever em inglês sobre assuntos chineses. Voltou à China como professora, ao lado do primeiro marido, mas a guerra civil nos anos 20 acabou tornando insuportável a vida de estrangeiros. Em 1935, deixou para sempre a terra da sua infância, divorciou-se, casou-se com o editor Richard Walsh e desenvolveu a sua obra cheia de reminiscências, otimismo, boa fé. Tornou-se, talvez involuntariamente, um marco: passaram a existir a China de Pearl Buck e, depois, a China Vermelha.
Prestígio – Os consumidores de histórias dessa China antiga, como observaram muitos críticos, eram principalmente mulheres. Ela enfatizou repetidamente o que talvez as mulheres daqueles tempos estivessem ansiosas por ouvir, os sacrifícios impostos pelo casamento, a opressõa masculina, os encargos domésticos. Em 1938, para sua glória e depois desgosto, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Muitos homens acharam um exagero. Anos depois, um outro ganhador, Ernest Hemingway, chamava-a de “Pearl Harbor da literatura”. A piada fez tanto sucesso que jamais alguém se sentiu obrigado a explicá-la.
Na verdade, Pearl Buck era radicalmente diferente não apenas de Hemingway como de qualquer outro escritor incluído entre os grandes. Sua preocupação em alcançar um número cada vez maior de leitores (“Não se pode desprezar uma revista de 3 milhões de exemplares”, dizia ela) trouxe para a intimidade do Ocidente a descrição de um mundo fechado, excêntrico, com instituições e costumes totalmente desconhecidos. “A Boa Terra”, “A Casa Dividida”, “O Patriota”, “A Estirpe do Dragão”, “A Exilada”, entre romances e biografias, tornaram-se um guia obrigatório daquele mundo que, para muitos leitores, era tão estranho que parecia inventado. Reservada, tranquila, lembrando convenientemente uma dama da corte de algum mandarim, Pearl Buck não discutia estilo nem dava entrevistas literárias. Sobre ela mesma tinha uma opinião modesta e serena: Sou uma mulher sem ambições que por puro instinto sonha com a tranquilidade doméstica.
Seus últimos dias foram intensos. Continuava escrevendo em outros tempos, chegou a publicar três romances por ano e dando assisência às crianças mestças, a obra da qual se orgulhava mais intensamente do que de seus quase setenta romances e um número incalculável de contos e artigos. Doente desde 1972, quando foi operada da vesícula e teve complicações pulmonares, Pearl Buck, morreu no dia 6 de março, em sua casa de Damby (Vermont), Estados Unidos, aos oitenta anos.
(Fonte: Veja, 14 de março, 1973 Edição n.° 236 LITERATURA – Pág; 85)