Cândido Portinari (Brodowski, 29 de dezembro de 1903 – Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1962), era um artista consagrado nacional e internacionalmente. Retratou a vida rural brasileira, a tragédia das migrações nordestinas.
Ao morrer, em 6 de fevereiro de 1962, no Rio de Janeiro à sua obra já se tornara coisa de museu para a nova geração de pintores surgida nos anos 50, voltada para a arte não figurativa.
Cândido Portinari, fez 680 retratos, ficou muito mais famoso por seus quadros de inspiração caipira, com cafezais e retirantes, e também por seus murais decorativos encomendados pelo governo federal. O retrato foi uma forma que encontrou para sobreviver, assim como outros pintores de origem social semelhante à sua.
Cândido Portinari era filho e neto de imigrantes italianos, lavradores que se estabeleceram na cidade de Brodósqui, no interior de São Paulo. Para conseguir projeção no Rio de Janeiro, que era a capital federal, o melhor caminho para o pintor foi o do retrato. Com ele, conseguia dinheiro e fazia girar uma moeda paralela, que é a da troca de favorecimentos.
Por sua vez, a crítica que defendia as novas tendências artísticas, a partir sobretudo da I Bienal de São Paulo, promovera uma espécie de revisão de sua obra, visando corrigir o que considerava uma valorização exagerada do artista.
Apontadas as influências de Picasso e dos mexicanos, o amaneiramento e as soluções estereotipadas de que estaria eivada sua pintura, Portinari se reduzira para alguns a uma espécie de equívoco da arte brasileira. Essa reação demolidora da crítica, se era uma contrapartida do
“endeusamento” anterior, refletia, mais que isso, a necessidade dos teóricos da arte não figurativa de afastar o principal obstáculo que se interpunha em seu caminho. Não restou dúvida de que, para os que se engajaram na nova e sofisticada corrente, o figurativismo de Portinari era excessivamente tosco e terra-a-terra. Portinari deixou um legado e reconhecida biografia e uma bibliografia, além de dezenas de depoimentos de personalidades familiarizadas com o artista, nascido em 29 de dezembro de 1903 na cidade paulista de Brodósqui, e sua obra.
Formação acadêmica – Os desenhos do pintor, muitos dos quais inéditos no Brasil, inclui os estudos para várias obras de grande porte: para o painel de Tiradentes (1949), para a igreja da Pampulha (1944), para os painéis da Biblioteca do Congresso de Washington (1942) e para o mural Guerra e Paz da ONU (1952-1956). Parte deste acervo constitui a última exposição do pintor em vida, em 1961, na Casa do Artista Plástico, em São Paulo.
A obra de Portinari trai a sua formação acadêmica que, dado o temperamento do pintor, foi profunda e, como se pode apreciar em vários dos desenhos, não totalmente abandonada por ele, mesmo quando já se tornara um nome significativo da arte moderna brasileira. Pode-se dizer até que, ao contrário dos mestres modernos europeus, como Matisse, Picasso ou Braque, que buscaram libertar-se totalmente do verismo anatômico para reinventar a figura humana, Portinari tenta a superação pela deformação da figura, pela atrofia ou pelo gigantismo dos pés ou das mãos, etc. O resultado disso é que enquanto naqueles a linha, livre da preocupação naturalista, ganha maior autonomia, no artista brasileiro ela raramente se liberta.
Essa autonomia, não apenas da linha como dos demais elementos da linguagem plástica, é uma das características básicas da arte moderna e reflete um nível crítico da linguagem que Portinari não alcançou. Nem nenhum outro artista brasileiro. E pelo fato mesmo de que essa visão crítica era um fenômeno europeu que não encontrava fundamento em nossa experiência nem correspondia a nossas necessidades.
Assim é que, enquanto na Europa o abstracionismo surge como consequência dessa progressiva autonomia dos elementos da linguagem pictórica, aqui se salta do figurativismo de Portinari, Di Cavalcanti, Guignard, para a arte concreta e depois para o tachismo, manifestações extremas daquele processo.
Recuo e avanço – É dentro dessa perspectiva que devemos ver e julgar a obra de Portinari. A adoção, pelos modernistas brasileiros, das formas das vanguardas europeias não implicava a necessária adoção de seus propósitos esssenciais que não se adequavam ao nosso contexto. Aquelas formas e ideias abriam possibilidades para nova e atual aproximação de nossa própria realidade, mas implicavam também um “recuo” com respeito à problemática artística metropolitana.
Esse recuo – que era um avanço em relação ao que se fazia aqui -, inevitável pelas condições históricos-culturais, é uma das marcas que a periferia imprime à arte que lhe chega da metrópole. Em Portinari, porém, mais que em Guignard ou Di Cavalcanti, essa marca está comprometida com a linguagem tradicional da pintura.
Mas Portinari está longe de ser um artista acadêmico disfarçado de moderno. Pelo contrário, o peso dessa formação, a par das inegáveis qualidades de sua pintura, situam-no como um momento específico de nossa arte, e de grande significação: é ele quem trava, palmo a palmo, a batalha pela superação da linguagem acadêmica na busca de uma linguagem nova.
Trava-a exatamente porque tem dentro de si, enraizada, a velha linguagem, e porque a sua visão artística não apontava para a eliminação do tema e sim para o seu aprofundamento. E disso resulta uma das qualidades de sua arte: a intensidade dramática que se alimenta muito dessa elaboração custosa do desenho.
As influências que sofreu são claras e indiscutíveis, mas estão a serviço de uma concepção própria, como se pode verificar nos desenhos “Mulheres Chorando” ou “Carregando Água”. Nos estudos para o painel de Tiradentes, constata-se o esforço e a capacidade do artista para dar novas soluções à figura humana, para reinventar a linguagem narrativa da pintura. Foi antes uma demonstração de independência em face das concepções artísticas europeias que ele não ignorava. Naturalmente, essa não é a única medida com que se deve julgar a arte de Portinari. Mas é uma delas.
(Fonte: Veja, 21 de dezembro de 1977 – Edição 485 – ARTE/ Por Ferreira Gullar – Pág; 108)
(Fonte: Veja, 3 de abril de 1996 – ANO 29 – N° 14 – Edição 1438 – ARTE/ Por Ceso Masson – Pág: 112/113)
No dia 6 de fevereiro de 1962 O pintor brasileiro Cândido Portinari morre no Rio de Janeiro. Em suas obras passou para a tela aspectos da sociedade brasileira, como trabalhadores das lavouras de café e os retirantes, retratados sempre com a imagem deformada e visível sofrimento.
(Fonte: Correio do Povo Ano 114 Nº 128 Geral Cronologia/ RENATO BOHUSCH sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009 Pág; 23)