Castro Alves, poeta de inspiração nativista, principalmente baseada no negro (com Jorge de Lima).
Invenções e algemas de Castro Alves
Castro Alves (Curralinho, Bahia, 14 de março de 1847 – Salvador, Bahia, 6 de julho de 1871), poeta baiano de inspiração nativista, principalmente baseada no negro (com Jorge de Lima), teve a maior glória, de discernir, entregando-se a ela, a causa dos escravos e de grandeza universal que expressou uma temática brasileira complexa e profunda.
Castro Alves nasceu na fazenda Cabaceiras, a (42 km) da vila de Nossa Senhora da Conceição de “Curralinho”, hoje Castro Alves, no Estado da Bahia.
Nem sempre o crítico e o leitor falam do mesmo Castro Alves. Existe a imagem “oficial” do poeta romântico que se inflama na descrição épica do “Navio Negreiro”. E uma visão mais rigorosa, que peneira versos esplêndidos na ganga volumosa de seu Amazonas poético.
Os 24 anos de sua vida intensa foram breves demais para disciplinar sua inspiração desenfreada. Não lhe foi concedida a dilação de prazo que pedira na véspera de sua morte: “Ai, o Quilombo dos Palmares! Seria minha obra-prima… Dai-me, meu Deus, mais dois anos de vida!”
Um voo preso – Para a sensibilidade moderna, Castro Alves perdeu em renome retórico o que ganhou em verdadeiro pioneirismo. Nota-se que seus poemas intimistas, de aguda percepção da natureza tropical, ampliam o itinerário esboçado por Casimiro de Abreu. Os sociais mantêm a força de sua sinceridade e, sobretudo, Castro Alves precede o culto parnasiano da imagem poética ousada. Mas não podava com devido rigor sua linguagem.
A própria denúncia de uma situação de exploração humana aviltante – a escravidão – exige dele um estilo heróico, cheio de interjeições e metáforas eruditas que um poeta consagrado pelo povo não consegue domar. Cauteloso ao tratar com o maior desafio para a poesia romântica – o adjetivo -, Castro Alves cai no lugar-comum inexpressivo. A poesia de exortação cívica e moral, próxima demais da oratória, arrebata o ouvido de uma multidão empolgada pelo entusiasmo do momento.
“Auriverde pendão…” – Fruto de uma época que se empolgava com a palavra altissonante, numa Bahia ainda acostumada à pirotécnica verbal de um padre Vieira, a sonoridade esmaga momentos de autêntica identificação entre o poeta e sua legítima indignação moral. Assim, a coragem e a vibração de versos ou a musicalidade rítmica de “Auriverde pendão da minha terra,/ Que a brisa do Brasil beija e balança”, são anuladas pelos versos seguintes, desprovidos de força e de seguimento lógico.
Cultuado nas palavras do poeta senegalês Léopold Senghor como “o poeta de dois continentes” (A América e a África), Castro Alves, examinado depois do estudo da cultura da África negra e das reivindicações da poesia da “negritude”, revelaria, ao contrário, uma visão estereotipada do negro como um caçador indolente, ouro, bom e, tanto quanto os selvagens de José de Alencar, dotado de virtudes dos heróis clássicos da Grécia antiga.
Sua poesia amorosa – inspirada por uma bela judia que morava diante de sua casa em Salvador, por sua paixão pela atriz portuguesa Eugênia Câmara, por Sinhá Lopes dos Anjos a quem
(Fonte: Veja, 14 de julho de 1971 – Edição 149 – LITERATURA – Pág: 81)