Chico Albuquerque, uma das lendas da fotografia brasileira

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Fotógrafo pioneiro em publicidade

 

Chico Albuquerque (1917-2000), foi pioneiro na fotografia publicitária no Brasil

 

O cearense Chico Albuquerque, ele teve tempo de ver, aos 83 anos, algumas horas antes de morrer, o primeiro exemplar da segunda edição do seu livro Mucuripe, um de seus ensaios mais célebres, feito em 1952, com 63 registros em preto-e-branco da praia cearense que dá nome a obra.

 

 

Dez anos antes, Albuquerque fez fotos de cenas do filme inacabado, It’s All True (É Tudo Verdade), do cineasta Orson Welles. Em 1948, Albuquerque assinou as fotos para a campanha da Johnson & Johnson, a primeira peça publicitária brasileira que trocou os desenhos pela fotografia. Anos mais tarde, Albuquerque saía pelas ruas paulistanas para convencer as moças de família a posar de modelo em seu estúdio.

 

Para driblar a dificuldade, ele passou a fotografar artistas como Cacilda Becker, Tarcísio Meira e Regina Duarte, que segundo o fotógrafo foi lançada por ele num anúncio da Kibon com apenas 13 anos de idade. Além de ser conhecido como gênio da foto publicitária, Albuquerque foi um grande retratista, com fama de pé-quente. Os políticos fotografados por ele eram sempre eleitos, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek.

 

Uma das lendas da fotografia brasileira é sem sombra de dúvida o mestre Chico Albuquerque. Nascido em 1917, na cidade de Fortaleza, capital do Ceará, teve seu nome projetado nacionalmente graças à sua intensa atuação profissional. Mas, como ele mesmo afirmava, começou sua carreira de maneira invertida. E explicava: iniciou-se timidamente com o cinema, aos 15 anos de idade, atendendo a um pedido do seu pai, o também fotógrafo Adhemar Albuquerque, que necessitava filmar algumas sequências sobre o drama da seca no nordeste brasileiro, mas estava com problemas que o impediriam de participar do trabalho. Esse aprendizado inicial de dez dias transformou a vida do então adolescente Chico Albuquerque, que se tornou um exímio profissional e um profundo conhecedor dos mistérios da luz. A ligação com o cinema se fortaleceu e o levou à fotografia. Criar imagens passou a ser prioridade e, mesmo habituado com o ofício paterno, saiu em busca de seu próprio caminho. Para isso, passou por um longo percurso de aprendizado. Isso o levou até o Rio de Janeiro, em duas diferentes ocasiões, entre 1934 e 1946, para aprofundar os conhecimentos e melhorar sua técnica.

 

Os responsáveis diretos nesse segundo momento da sua formação profissional foram Erwin Von Dessauer e Stephan Rosenbauer, em períodos distintos. Em 1942, aos 25 anos, Chico Albuquerque foi o responsável pelo still do filme documentário É Tudo Verdade (It’s All True), do cineasta norte-americano Orson Welles, que havia se instalado momentaneamente em Fortaleza. Foi exatamente nessa experiência que aprendeu com o próprio Welles os princípios estéticos mais importantes que irão posteriormente direcionar sua fotografia para um inquestionável padrão de qualidade. O documentário foi realizado na Praia do Mucuripe, em Fortaleza, cenário de seu primeiro grande ensaio realizado dez anos mais tarde, quando retornou com o objetivo de produzir uma coleção de imagens em preto e branco que documentasse o cotidiano dos jangadeiros da aldeia.

 

Depois da experiência com Orson Welles, organizou seu portfólio e criou coragem para enfrentar o mercado do Rio de Janeiro. Mas foi o fotógrafo alemão, Stephan Rosenbauer, que o estimulou a se instalar em São Paulo. Em 1947, Francisco Albuquerque chega a São Paulo e começa a apresentar o seu trabalho para diferentes pessoas da cena fotográfica local. Trazia algumas recomendações e uma indicação do Foto Cine Clube Bandeirante, local onde poderia encontrar algum auxílio para iniciar suas atividades profissionais e aperfeiçoar-se. Os amadores do clube ficaram surpresos com as fotografias apresentadas, basicamente retratos e algumas paisagens. Pouco tempo depois já circulava com alguma desenvoltura no circuito paulistano das artes visuais. O Boletim Foto Cine Clube Bandeirante publicou a primeira capa assinada por F. Albuquerque na edição de nº 15, de julho de 1947. Era um retrato muito bom, denominado “Marujo Americano”, e a página 12 da mesma edição registra um comentário não assinado de uma mostra que se realizava na Livraria Jaraguá, ponto de encontro de artistas e intelectuais da cidade de São Paulo. Sob o título Exposição F. Albuquerque transcrevemos abaixo o comentário na íntegra: “Desde 10 de julho p. p. está aberta com o patrocínio do F. C. Bandeirante, na Livraria Jaraguá, à R. Marconi, uma exposição individual de “RETRATOS ARTÍSTICOS” de autoria de F. Albuquerque, a qual vem atraindo grande interesse. O jovem artista patrício que acaba de montar seu estúdio fotográfico nesta Capital não é desconhecido entre nós, pois já vem aureolado pela consagração da crítica no norte do país e no Rio de Janeiro. Com efeito, seus retratos vigorosos e fortes uns, delicados e suaves outros, dizem bem o quanto Albuquerque se identifica com a personalidade do modelo que consegue traduzir fielmente, imprimindo ao mesmo tempo ao trabalho aquelas características próprias que o distinguem desde logo dentre os melhores profissionais aqui radicados.

 

Dominando a técnica com maestria ímpar, as composições e paisagens expostas ao lado dos seus retratos, de elevado teor artístico, estão a demonstrar que Albuquerque não encontrou na fotografia um simples meio de vida, mas a satisfação de suas inquietudes espirituais por onde se reconhece o verdadeiro artista.”1 Para o biênio 1949-1950, Chico Albuquerque foi eleito o Diretor Fotográfico do Foto Cine Clube Bandeirante e em decorrência disso assinou as capas do Boletim das edições de abril, julho e novembro de 1949. Nesse mesmo ano, a edição de julho publicou matéria sobre a exposição de Thomaz Farkas, a primeira realizada no Museu de Arte de São Paulo, e informava que havia uma comissão orientadora da seção de fotografia do museu, composta por Benedito Junqueira Duarte, Eduardo Salvatore, Francisco A. Albuquerque e Thomaz Farkas. Em setembro de 1950, participou do Júri de Seleção do 9º Salão Internacional de Arte Fotográfica de São Paulo. Com essas atividades, registradas nas várias edições do Boletim do Foto Cine Clube Bandeirante, podemos inferir que Chico Albuquerque soube ocupar seu espaço e se inserir através do fotoclube no movimento fotográfico paulistano, cuja atuação, de enorme importância, fez eco em todo o país. Para Helouise Costa, “a formação da Escola Paulista não passou desapercebida ao movimento fotoclubista nacional. A fotografia paulista era veiculada intensamente no Boletim Foto Cine e nos catálogos do Salão Internacional de Arte Fotográfica de São Paulo. Isso fazia com que ela chegasse aos pequenos fotoclubes nos rincões mais distantes do país.

 

Contudo a influência bandeirante não transformou a produção nacional”.2 A ressonância positiva do seu trabalho, aliado ao apurado senso profissional, viabilizou sua inserção no mercado publicitário, inclusive o convite para fotografar a primeira campanha verdadeiramente fotográfica da história da propaganda brasileira. Coube à agência J. W. Thompson criar esse primeiro anúncio para a Johnson & Johnson, veiculado em 1949. Diante de tantas atividades e responsabilidades assumidas, podemos considerar esse ano como o momento de consolidação profissional e reconhecimento definitivo da qualidade técnica do seu trabalho. Thomaz Farkas, amigo de longos anos, declarou que “o Chico causou sensação quando chegou ao clube. Aliás, como fotógrafo, chegou pronto ao clube e soube circular com desenvoltura seu conhecimento e sua técnica. Era incrível seu diferencial e seu domínio do processo fotográfico. Grande amigo, técnico de primeira e profissional maravilhoso. Um grande experimentador.

 

Mas ele não era um homem de clube, apenas serviu-se dele para se inserir na fotografia paulistana”.3 Em um dos capítulos deste livro, denominado Ensaios, podemos apreciar uma belíssima fotografia de um grupo de homens trabalhando num avião em Congonhas. Uma noturna dificílima de ser executada, pois são várias ações simultâneas, todas iluminadas com uma precisão incomum para a fotografia que se praticava naquele momento no país. Essa imagem obteve o primeiro lugar do Concurso Interno, de agosto de 1947, promovido pelo Foto Cine Clube Bandeirante e no mês seguinte ocupou a capa da revista do Boletim nº 17. Em depoimento dado a Eduardo Salvatore em 1980, Chico Albuquerque assumiu a importância do fotoclube para sua entrada no mercado profissional, declarando: “Para um desconhecido fotógrafo, chegado a São Paulo sem nenhum ambiente, nada poderia ser melhor. Como tantos outros fotógrafos, amadores e profissionais, comecei fazendo fotografia isolado. Isso leva o indivíduo a se copiar sempre e, como consequência, a abandonar a fotografia ou, o que seria pior, a uma egolatria fotográfica. O Foto Clube Bandeirante me deu uma espécie de formação acadêmica: seminários, participação em salões, palestras, julgamentos.

 

Enfim, aprendi muito. Tirei meu diploma”.4 Claro que quando chegou à cidade de São Paulo já tinha um diferencial técnico, mas compartilhar tudo isso com um grupo de aficcionados foi fundamental para ampliar e consolidar o seu trabalho. German Lorca5 tornou-se amigo de Albuquerque no fotoclube e mais tarde, durante algum tempo, foi responsável pela contabilidade do seu estúdio situado à avenida Rebouças, um dos mais badalados da cidade. Ele lembra que Chico ensinou muito aos colegas do clube. Sua qualidade profissional, seu trabalho limpo, sua experiência como retratista e suas composições no estúdio também foram gradativamente incorporadas à dinâmica de aprendizado do fotoclube. Essa foi uma cidade. Ele lembra que Chico ensinou muito aos colegas do clube. Sua qualidade profissional, seu trabalho limpo, sua experiência como retratista e suas composições no estúdio também foram gradativamente incorporadas à dinâmica de aprendizado do fotoclube. Essa foi uma troca real, ou seja, o clube deu certa notabilidade profissional ao Chico Albuquerque, que sabia iluminar muito bem, era exímio laboratorista, e ele, como professor, soube repassar esses princípios para seus alunos nas oficinas promovidas dentro da própria agremiação.

 

 

A família e a fotografia

 

 

No livro O Ceará, datado de 1939, constata-se a presença de dois grandes estúdios de fotografia em Fortaleza através dos seus anúncios. Na página 447, o Foto Brasil se declara como “o mais antigo da cidade e produz retratos artísticos e inalteráveis”, localizado na rua Major Facundo, 665; e a Aba Film, fundada em 1934, se propaga como “a mais moderna foto do Ceará”, situado na mesma rua Major Facundo, 660, telefone 1526. O fato de disponibilizar o número do telefone em anúncio público talvez signifique certa modernidade em relação ao “mais antigo da cidade”. O pai transmitiu ao então adolescente Francisco as primeiras noções básicas de cinema para que ele pudesse realizar o seu primeiro trabalho. Depois disso, ele se aprimorou no mundo da fotografia. Além de Chico, três dos nove irmãos também se dedicaram à fotografia: Antonio Afonso, que sucedeu o Chico na empresa, Paulo, que se tornou fotógrafo profissional em Belo Horizonte, especializando-se em cartões postais, e Luís, que optou pelo fotojornalismo, atuando em Brasília. Enfim, uma família de fotógrafos. O pai, Adhemar Albuquerque, também foi o responsável por instruir e preparar o comerciante sírio Benjamin Abrahão, de Juazeiro, responsável pela primeira série de fotografias de Lampião e seu bando, datada de 1936. Mais tarde realizou um pequeno filme documentário que posteriormente foi confiscado pela polícia política de Getúlio Vargas e se perdeu para sempre.

 

 

O Turco, apelido de Benjamin Abrahão, foi encaminhado ao fotógrafo que se encarregou de fazer os contatos para que tudo fosse feito com o máximo de segurança. Em relação ao filme desaparecido, conhecemos o depoimento de 1970 que Chico Albuquerque deu a George Love: “Em 1941 os sócios da Aba tentaram reaver o filme: receberam 20 contos de indenização (não pagava nem um décimo dos gastos). Em 1950, nova tentativa, mas o filme tinha desaparecido dos arquivos do antigo DIP. Acreditase que seu paradeiro seja conhecido por um fotógrafo do Rio de Janeiro, Alexandre Wolff, cinegrafista na época de Getúlio. Uma cópia andou em poder dos irmãos Marvin, ex-proprietários da empresa Brasil Oiticica”. Em seguida, no mesmo depoimento, Albuquerque fez um apelo: “Embora ingênuo, é um documentário de excepcional valor histórico. Peço ao governo todas as providências para recuperá-lo. É digno de figurar entre as relíquias do Museu da Imagem e do Som”.6 Na verdade, trata-se de uma experiência singular na fotografia brasileira. Um fotógrafo instalado profissionalmente, após passar as instruções mínimas de funcionamento da câmera ao comerciante, financiou e viabilizou um trabalho de documentação fotográfica. Tudo foi feito em segredo e o resultado representa um documento inédito do ponto de vista da sua realização, sem precedentes para o país e particularmente significativo para a história da fotografia brasileira. Parte do material fotográfico pertence hoje ao Instituto Cultural Chico Albuquerque.
(Fonte: www.ChicoAlbuquerque.com.br)

(Fonte: https://www.terra.com.br/istoegente/75/tributo / TRIBUTO / Por Luciana Franca – 1° de janeiro de 2001)

 

 

 

Chico Albuquerque (1917-2000), fotógrafo
O mercado publicitário brasileiro conheceu, em 1948, o fotógrafo Chico Albuquerque, o primeiro a fotografar modelos e produtos para uma campanha publicitária
Um pioneiro do seu tempo. Assim podemos definir o fotógrafo Francisco Albuquerque, conhecido como “Seu Chico” em sua terra natal, o Ceará, e como Albuquerque, em São Paulo, cidade onde fez carreira. Foi em São Paulo que o fotógrafo marcou o seu nome na história da fotografia publicitária brasileira. Um dos primeiros fotógrafos a trabalhar no ramo da publicidade, Chico fez escola não só na capital paulista, como também em sua terra natal para onde retornou aos 60 anos de idade. Albuquerque exerceu a profissão para a qual tinha um dom nato até os últimos dias da sua vida. Fotografou sua última campanha, em 2000, para a Del Rio, aos 83 anos. Sua relação com a fotografia começou cedo e se estendeu para mais de 60 anos.
Aos quinze anos, em Fortaleza, Albuquerque realizou seu primeiro documentário de curta-metragem e aos 17 anos já atuava como fotógrafo profissional. Aprendeu sobre composição e a divisão áurea do triângulo na prática e teve como um dos seus mestres o grande cineasta norte-americano Orson Welles. Albuquerque foi convidado em 1942 para fazer a fotografia do filme It’s All True, longa inacabado de Orson Welles. It´s All True estava baseado no Brasil e tinha como história principal a saga dos jangadeiros cearenses Jacaré, Tatá, Mané Preto e Mestre Jerônimo. Em 1941, os quatro realizaram a travessia de Fortaleza ao Rio de Janeiro na jangada São Pedro. O feito tinha como intenção chamar a atenção de Getúlio Vargas, já que os jangadeiros não tinham os benefícios da legislação trabalhista. Durante a filmagem da cena da chegada da jangada no Rio de Janeiro, um acidente acabou tirando a vida de Jacaré. Abalado com o acontecido, Welles abandonou as gravações e voltou com sua equipe para os Estados Unidos. Porém, Chico Albuquerque ficou marcado para sempre pela luz e pelo cenário do litoral cearense. As imagens e a fotografia de It´s All True permaneceram intactas na mente de Albuquerque por 10 anos. Em meados da década de 50, o fotógrafo retornou a Fortaleza, onde realizou um dos seus mais reconhecidos ensaios. Albuquerque voltou suas lentes para a tradicional praia de Mucuripe. Seu olhar registrou, além da bela paisagem, também a vida dos jangadeiros, as relações de amizade e o seu cotidiano, enfatizando a luta pela sobrevivência e a importância do mar na vida daqueles homens.

 

Albuquerque chegou em São Paulo em 1945 para ser o grande precursor e mestre da fotografia de publicidade brasileira. Ele fotografou pela primeira vez modelo e produto para uso em uma campanha da Johnson & Johnson, da agência J.W. Thompson, em 1948. Até então as campanhas publicitárias eram concebidas apenas com o uso de ilustrações e desenhos. Também foi “Seu Chico” o responsável pela inovação técnica na fotografia de publicidade. Sempre à frente do seu tempo, o fotógrafo foi o primeiro a importar flashes eletrônicos para o Brasil, em 1958. Segundo Bob Wolfenson, Albuquerque inaugurou a profissão do fotógrafo publicitário no Brasil. “Também foi pioneiro na feitura das coisas, porque tecnicamente as condições eram muito piores que hoje”.
Depois da publicação da primeira fotografia em anúncio publicitário, Albuquerque não parou mais. A partir de então, conta o fotógrafo e cineasta Zaragoza, ele começou a fotografar todos os layouts para empresas como a Gessy Lever e Tecidos Matarazzo. “Foi aí que começou a revolução de mudar ilustrações por fotografia”, afirma Zaragoza. Todo esse material fotográfico, principalmente as imagens produzidas na década de 50, estão agora sendo apresentadas para o público na exposição Chico Albuquerque Retrospectiva no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Na capital paulista a exposição segue até 27 de novembro, depois a mostra seguirá para outras nove capitais brasileiras. A exposição tem curadoria de Patrícia Veloso e apresenta, além das fotografias publicitárias da década de 50 que você confere nessas páginas, imagens que vão desde as mais belas praias cearenses até retratos de personalidades como Juscelino Kubitschek e Burle Marx. Após a sua morte, em 2003, o Instituto Cultural Chico Albuquerque, com sede em Fortaleza, ficou responsável pela conservação e divulgação do acervo deixado pelo fotógrafo.

(Fonte: www.photomagazine.com.br – Chico Albuquerque – Retrospectiva)

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