Chiquinha Gonzaga, foi pioneira no reconhecimento dos direitos autorais

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Primeira maestrina do Brasil, pioneira na luta pela emancipação feminina e na defesa dos direitos autorais

Chiquinha Gonzaga (1847-1935), foi pioneira no reconhecimento dos direitos autorais e na afirmação das lutas das mulheres. Alegria, simplicidade e beleza são as marcas de seu ritmo e de suas construções harmônicas.

A compositora de ‘Ó Abre Alas’, primeira marcha carnavalesca com letra, nasceu no Rio de Janeiro. Chiquinha Gonzaga foi a primeira mulher musicista de choro e regente de orquestra no Brasil. Ela também fez parte do movimento abolicionista e republicano.

(Fonte: Revista do Brasil – N° 21 – Fevereiro de 2008 – Música /– Por Guilherme Bryan -– Reco do Bandolim e Henrique Cazes – Pág; 42/43/44 e 45)

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS / BRASIL / Mulheres pioneiras que marcaram a história do Brasil / por Zeleb.es – 09/03/2021)

 

 

 

 

 

Linha de frente

Chiquinha: perseguida e vitoriosa

Chiquinha Gonzaga puxou um cordão pioneiro

Chiquinha Gonzaga em foto de 1877 (f5.folha.uol.com.br)

Chiquinha Gonzaga em foto de 1877 (f5.folha.uol.com.br)

A maldição de José Basileu Neves Gonzaga, pai de Francisca Edwiges Neves Gonzaga (Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 – Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1935), compositora e instrumentista, chegou ao fim após 150 anos de nascimento da compositora. É hoje mais conhecida por sua vida do que por sua obra musical, vasta em número e variada em gêneros.

Foi a maior figura feminina da sua música popular, de ousadia pessoal e importância. Uma compositora que viveu uma fase musical ingrata, de transição, que se debateu com todos os gêneros, ajudou a retratar o caminho da nossa música popular urbana, que passou invariavelmente por Chiquinha Gonzaga.

Tudo começou com a polca. A dança camponesa originária da Polônia chegou ao Rio de Janeiro depois de glamourizada por Paris e dominou durante todo o Segundo Reinado. Aclimatou-se de tal forma ao Brasil que aqui ficou, modificada.

Melodia saltitante em compasso binário e andamento allegretto, além de ser dançada por par enlaçado e incluir o puladinho sobre a ponta dos pés, permitia a introdução de elementos da música dos escravos, como o lundu por exemplo. Observou Machado de Assis:

É simples, quatro compassos,

E muito saracoteio,

Cinturas presas nos braços,

 Gravatas cheirando o seio.

Foi uma polca, Atraente, a composição de estreia de Chiquinha Gonzaga. Um provérbio em voga alertava que constituía perigo para o lar a mulher que soubesse mais do que ler corretamente as suas orações e escrever a receita da goiabada. Declarada morta pela família por abandonar o casamento, quando Chiquinha passou a ganhar a vida como profissional de música seu pai, militar, estendeu a maldição ao velho professor que a ensinara a tocar piano.

Muito lhe valeu o apoio do genial flautista Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880), pai do chorinho, essa primeira forma de sentir à brasileira. E foi decisiva a sua influência. No Rio de Janeiro de 1877, a mercadoria Atraente, polca de Francisca Gonzaga apregoada nas ruas por moleques escravos de aluguel, provocou a ira da família Gonzaga, que passou a destruir as partituras postas à venda. A súbita popularidade de Chiquinha foi encarada como provocação. Ela reagiu: decidiu perseguir o sucesso até que não pudessem mais persegui-la.

Ornamento de salão – O fato inédito inaugurado por Chiquinha Gonzaga foi transformar o aprendizado de piano de mero ornamento social de sinhazinhas ociosas em instrumento de trabalho e meio de vida. Para isso não lhe faltaram talento e coragem. No seu piano trabalhou a fixação do ritmo brasileiro, promoveu o encontro da música de salão com os sons das ruas.

A sua sensibilidade feminina captava sem esforço o gosto popular. A criação original da primeira canção carnavalesca, a marchinha Ô Abre Alas (1899), é obra da mesma mulher inconformada com o confinamento no lar. A introdução da música popular nos salões das elites em 1914, quando seu maxixe Corta-Jaca penetrou escandalosamente no Palácio do Catete, valeu-lhe o título de Princesa Isabel de nossa alforria musical.

O Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX favorecia a produção musical, que estava presente no cotidiano do carioca em rebecas ou pianos, assobios ou palmas ritmadas, flautas ou atabaques, espetáculos líricos ou bandas militares, festas de igrejas ou coretos de praças públicas.

Valsa nos salões senhoriais, polca nas salas familiares, lundu nas rodas de dança dos escravos – a música tudo invadia. A intensificação da vida urbana deu nova dimensão à rua. Dela vieram sons carregados de sugestões: pregões de vendedores, irmãos do Santíssimo, cantores do sereno, cegos da sanfona ou da rabeca, matracas dos mascates, realejos, bandas, amoladores de tesoura, sambas de escravos. Além de incontáveis festas religiosas e sinos de igreja a marcar as horas.

A síntese musical era inevitável. Se a música europeia de salão – valsa, polca, tango, mazurca, quadrilha – representava a verdadeira invasão, a música negra de caráter local chegou vigorosa em meados do século XIX. A atividade musical atraiu homens livres, mestiços, familiarizados com a produção popular, para quem já começava a existir mercado de trabalho: cafés-cantantes, confeitarias, coretos de praça, bailes, saraus domésticos, lojas de música.

Apesar de importadora de cultura, sobretudo artística, nossa sociedade subeuropeia de então não pôde impedir o avanço do gosto popular e dessa forma a música das camadas mais numerosas da população se nacionalizou cedo.

A maestrina – O teatro musicado de caráter popular chegou ao Brasil diretamente da França, sem escala em Lisboa. Caiu logo no gosto popular. As melodias lançadas nos palcos saíam dos teatros nos assobios consagradores. Chiquinha Gonzaga foi dos primeiros grandes compositores do país a escrever para o teatro ligeiro e a ter aceitação do público.

Ajudou a firmar o gênero e chegou a ser considerada a “Offenbach de saia”, em alusão ao criador da opereta. A popularidade de que gozou a sua música na virada do século XX pode ser medida pela presença infalível em todo tipo de repertório, dos cartazes dos teatros na Praça Tiradentes às casas de família, clubes, charangas carnavalescas, tocadores de violino e harpas dos cafés, cegos a esfregar rabeca. A ela o teatro deve muito, pois antes do fonógrafo e do rádio foi esse o mais importante meio de divulgação da produção musical popular.

Nasceram em teatro muitas das suas músicas mais conhecidas, como Gaúcho (Corta-Jaca), Forrobodó e Lua Branca. Musicou quase uma centena de peças teatrais, percorrendo todos os gêneros: opereta, burleta, revista, zarzuela. Viveu 87 anos, a maior parte deles compondo, uma façanha tão monumental para uma mulher que causou mais escândalo que exemplo, mesmo no século XX.

(Fonte: Veja, 29 de outubro de 1997 – ANO 30 – Edição 1519 – Nº 43 – Música – Chiquinha Gonzaga, uma História de Vida/ Por Edinha Diniz – Pág: 128/129)

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