Beta Whately, cofundadora de uma das primeiras empresas de marketing digital do Brasil
Dez anos atrás, o Instagram era uma rede social recém-nascida e intimista. Fotos caseiras sem preocupação estética eram comumente compartilhadas por pessoas que exploravam o novo espaço de forma despretensiosa. Na época, alguns internautas – o termo influencer ainda nem existia – já começavam a ficar famosos por suas aparições nas redes vizinhas, como YouTube, Twitter ou mesmo em blogs pessoais. Apesar da novidade, as empreendedoras Roberta Whately – mais conhecida como Beta – e Priscila Pádua não se intimidaram e decidiram desbravar o terreno.
Em 2012, a dupla fundou a Agência Fizz, pioneira em marketing digital e relacionamento com influenciadores. Embora tudo ainda fosse muito recente, elas tinham uma intuição de que o setor explodiria para além de uma moda passageira. Estavam certas. Hoje, o contato entre marcas e criadores de conteúdo é indispensável para qualquer estratégia de negócio. “Começamos a observar uma dificuldade das empresas no acesso aos influenciadores, na época blogueiros e youtubers. Basicamente, elas precisavam aprender a se relacionar”, relembra Beta que, formada em relações públicas, já tinha experiência quando o assunto era comunicação.
“Trabalhei com marcas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, em Nova York. Cheguei até a abrir um negócio próprio de branding, então eu já tinha, nessa época, expertise voltada para relacionamentos”, explica. Já Priscila, formada em propaganda e marketing, tem uma cabeça completamente estratégica. Graças às suas experiências, sempre duradouras, em grandes multinacionais, sabia de cabo a rabo todos os processos para manter uma empresa funcionando. Foi pensando nessa diversidade de talentos que, em uma conversa por telefone, as amigas decidiram unir forças em um novo projeto.
“Eu já tinha o sonho de me tornar empreendedora e, naquele ano, meu primeiro filho nasceu. Eu trabalhava na multinacional de bebidas alcoólicas Bacardi, onde a rotina era muito intensa. Mais do que nunca, eu estava pensando em começar um negócio próprio”, conta Priscila. O desejo estava tão vivo, que ela acabou desabafando com Beta. “No meio da conversa, eu tive um insight sobre aquele mercado ainda tão novo de influenciadores e perguntei se ela topava embarcar comigo na empreitada.”
Gabriela Pugliesi, influenciadora fitness que hoje conta com mais de 4,5 milhões de seguidores no Instagram, foi observada pela Fizz logo no início de sua carreira, quando ainda contava apenas 20 mil seguidores. “Ela não era tão conhecida, mas nosso trabalho é justamente vislumbrar o futuro. Fechamos uma coleção com um cliente de roupas fitness e, pouco tempo depois, ela explodiu nas redes”, relembra a especialista em relacionamentos. Pugliesi não foi a única a ganhar popularidade em pouco tempo. Desde então, o Instagram foi berço de milhares de influenciadores que cresceram e ganharam notoriedade nacional. E, claro, tudo isso aconteceu rapidamente e sem aviso prévio.
“Foi apenas em 2015 que nós nos especializamos por completo em marketing digital”, conta Beta. “Um de nossos grandes clientes disse que nós tínhamos quatro meses para fazer uma revolução nessa área. Foi aí que eu e a Priscila começamos a fazer cursos e aprender a atender empresas totalmente digitais.” O ultimato, mais do que um susto, foi essencial para que a Fizz evoluísse junto ao avanço das mídias sociais. “Nós desenvolvemos um modelo próprio para validar engajamento, vendas e contribuição do influenciador para a marca. Uma coisa que foi evoluindo ao longo do tempo”, completa Priscila. “Hoje, é muito mais do que likes.”
MUITO ALÉM DOS NÚMEROS
Para quem observa o ambiente digital superficialmente, tudo parece depender de números, seja de seguidores, curtidas ou comentários. No entanto, as empreendedoras explicam que o mercado de influência não é mais apenas centrado em celebridades e blogueiras. “Hoje em dia, todo mundo influencia digitalmente”, ressalta Beta. “Micros e nanos influenciadores também têm muita força. Às vezes, eles postam para cerca de 1.000 seguidores, mas possuem um engajamento muito alto, então isso entra para a conta. Temos que ficar muito atentas.”
E é exatamente por esse motivo que o marketing digital é tão amplo. “É mais do que um serviço pontual. Não cuidamos apenas da mensagem final que chega ao consumidor, mas também do trajeto até ele”, continua Beta. Para isso, as empreendedoras possuem um banco de dados próprio, essencial para ajudá-las a entender como mensurar uma entrega. Também definem narrativas e cronogramas dos influenciadores, mediam reuniões entre marcas e criadores, ajudam na criação dos conteúdos, analisam tendências de mercado e, não menos importante, fazem projeções. “Não estamos pensando em 2021, mas em 2025”, destaca Beta.
O cenário atual, no entanto, também é interessante aos olhos das fundadoras. Com cerca de 40 clientes fixos e mais de 400 marcas já atendidas pela empresa, a Fizz chegou a crescer dois dígitos no faturamento anual de 2020 – o valor total não foi divulgado pelas empreendedoras. O resultado positivo é condizente com a expansão dos últimos anos. Desde 2016, a equipe assiste a crescimentos de 50% a 60% no faturamento anual.
Todo esse ecossistema de resultados positivos é comemorado por uma equipe 99% feminina – no último ano, um homem entrou para o time, então agora a Fizz possui 19 funcionárias e apenas um funcionário. Para Priscila, o segredo do sucesso, além da paixão pelo trabalho, é manter o foco no objetivo final. Mesmo com o avanço da concorrência, destacar-se por um bom trabalho é o que vai manter a fidelidade dos clientes no final do dia. “Tivemos o poder de trabalhar com a Amazon quando ela chegou no Brasil. Imagina isso? Também já atendemos 20 marcas da gigante Nestlé. Conseguimos chegar muito longe com o nosso trabalho”, diz, com orgulho, a cofundadora.
Em um mercado vivo que ainda não possui um manual de regras, Beta e Priscila parecem desfilar por terras conhecidas. Evoluíram junto às mídias sociais e, talvez por isso, não se assustam com a velocidade das mudanças. Nem com a expansão dos negócios para países como México e Espanha elas se permitiram sentir medo, apesar das enormes diferenças culturais. E pretendem se espalhar por outros territórios em breve.
De certa forma, a palavra certa para elas parece ser flexibilidade. No entanto, Beta também destaca um outro ponto essencial para o sucesso da Fizz: a força feminina. “O empreendedorismo feminino é um grito de liberdade. Isso mostra que nós temos voz no mercado”, finaliza.
(Fonte: https://forbes.com.br/forbes-mulher/2021/07 – FORBES MULHER / por Beatriz Calais – 23 de julho de 2021)
Copyright Forbes Brasil. Todos os direitos reservados.