Conheça 8 mulheres arquitetas que fizeram história!
Todo dia é dia de reconhecer a importância das mulheres na sociedade, enaltecer as suas conquistas e olhar para frente visando uma maior inclusão e representatividade. Mas hoje, no Dia Internacional da Mulher, vale ainda mais olhar para o nosso setor e refletir sobre essas questões.
Segundo a revista de design Dezeen, apenas três das 100 maiores empresas de arquitetura do mundo são chefiadas por mulheres. Somente duas dessas empresas têm equipes de gestão compostas por mais de 50% de mulheres, e os homens ocupam 90% dos cargos de maior classificação nessas corporações. Em contrapartida, a desigualdade entre os cargos de chefia na arquitetura não é indicativo do atual interesse feminino pelo setor, que, pelo contrário, está aumentando. De acordo com o University and Colleges Admissions Service do Reino Unido, em 2016 a divisão entre homens e mulheres que se inscreveram para estudar arquitetura nas universidades inglesas foi de 49:51, um número superior à divisão de 2008, que registrou a marca de 40:60.
Apesar dos números irrefutáveis, é importante saber que é possível interromper e reverter esta desigualdade na arquitetura. Oito mulheres entraram para a história desta forma.
Confira:
1. Lady Elizabeth Wilbraham (1632–1705)
Muitas vezes apelidada de a primeira arquiteta do Reino Unido, Lady Elizabeth Wilbraham foi uma proeminente designer de interiores em uma época em que as mulheres normalmente não tinham permissão para praticar a arte. Embora não haja nenhum registro escrito, o estudioso John Millar acredita que Wilbraham projetou cerca de 400 edifícios. Seu portfólio inclui a Belton House (Lincolnshire), a Uppark House (Sussex) e o Windsor Guildhall (Berkshire). Acredita-se que um edifício que ela tenha construído é a casa de sua família em Staffordshire, a Weston Hall, uma propriedade com detalhes arquitetônicos incomuns que mais tarde foram encontrados na Casa Cliveden (Buckinghamshire) e no Palácio de Buckingham. Wilbraham também ensinou um jovem Sir Christopher Wren, ajudando-o a projetar 18 das 52 igrejas em Londres nas quais ele trabalhou após o Grande Incêndio de Londres de 1666.
O interesse de Wilbraham pela arquitetura cresceu ao longo do tempo na Holanda e na Itália. Ela estudou em ambos os países durante sua longa lua de mel. Como não tinha permissão para ser vista nos canteiros de obras, Wilbraham mandava homens para realizar seus projetos. Esses homens eram frequentemente vistos como os próprios arquitetos, ocultando sua posição na história da arquitetura. Um aspecto positivo de não ter que supervisionar as obras é que a Wilbraham foi incrivelmente produtiva, com uma média de oito projetos por ano.
2. Marion Mahony Griffin (14 de fevereiro de 1871 – 10 de agosto de 1961)
Primeira funcionária de Frank Lloyd Wright, Marion Mahony Griffin foi uma das primeiras arquitetas licenciadas do mundo. Ela estudou arquitetura no MIT e se graduou em 1894. Um ano depois, Mahony Griffin foi contratada por Wright como desenhista e sua influência no desenvolvimento de sua arquitetura de estilo Prairie foi considerável.
Durante seu tempo com o arquiteto, Mahony Griffin projetou vidros com chumbo, móveis, luminárias, murais e mosaicos para muitas de suas casas. Ela era conhecida por sua inteligência, risada alta e recusa em se curvar ao ego de Wright. Seus créditos incluem a David Amberg Residence (Michigan) e a Adolph Mueller House (Illinois). Mahony Griffin também realizava estudos em aquarela sobre os planos de Wright inspirados em xilogravuras japonesas, pelas quais ele nunca lhe atribuiu os créditos.
Quando Wright se mudou para a Europa em 1909, ele se ofereceu para deixar suas encomendas de estúdio para Mahony Griffin. Ela recusou, mas mais tarde foi contratada pelo sucessor do arquiteto e recebeu controle total do design. Depois de se casar em 1911, ela estabeleceu um escritório com o marido, ganhando a comissão para supervisionar a construção de Canberra na Austrália. Mahony Griffin gerenciou o escritório australiano por mais de 20 anos, treinando desenhistas e administrando comissões. Uma dessas atribuições foi o Capitol Theatre em Melbourne. Mais tarde, em 1936, eles se mudaram para Lucknow, Índia, para projetar uma biblioteca universitária. Após a morte repentina de seu marido em 1937, Mahony Griffin voltou à América para escrever uma autobiografia sobre seu trabalho arquitetônico. Ela morreu em 1961, deixando um grande trabalho para trás.
3. Elisabeth Scott (20 de setembro de 1898 – 19 de junho de 1972)
Em 1927, Elisabeth Scott se tornou a primeira arquiteta do Reino Unido a ganhar um concurso internacional de arquitetura com seu projeto para o Shakespeare Memorial Theatre em Stratford-upon-Avon. Ela foi a única mulher entre mais de 70 candidatos e seu projeto se tornou o edifício público mais importante do Reino Unido projetado por uma arquiteta. Manchetes como “Girl Architect Beats Men” e “Unknown Girl’s Leap to Fame” foram veiculadas na imprensa.
Scott começou sua carreira em 1919 como aluna da nova escola da Architectural Association em Londres, formando-se em 1924. Ela tomou a decisão de contratar o maior número possível de mulheres para ajudá-la na conclusão do projeto Stratford-upon-Avon, além de trabalhar com a Fawcett Society para promover uma aceitação mais ampla de mulheres que desempenham papéis estereotipados de homens. Também trabalhou principalmente com clientes do sexo feminino. Por exemplo, em 1929 ela trabalhou no Hospital Marie Curie em Hampstead, posteriormente expandindo o hospital de câncer para tratar 700 mulheres por ano. Outro de seus desenvolvimentos foi a Newnham College, em Cambridge. Scott também foi homenageada com o novo passaporte do Reino Unido, que contém imagens de apenas duas mulheres britânicas proeminentes, sendo a outra Ada Lovelace.
Embora seja conhecida pelo Shakespeare Memorial Theatre, Scott mais tarde voltou para sua cidade natal, Bournemouth, e projetou o icônico Pier Theatre. O edifício art déco foi inaugurado em 1932 com mais de 100.000 visitantes para ver o então Príncipe de Gales, Eduardo VIII, inaugurar o teatro. Scott era membro do departamento de arquitetos do Bournemouth Town Council e trabalhou com arquitetura até os seus 70 anos.
4. Dame Jane Drew (24 de março de 1911 – 27 de julho de 1996)
Quando se trata de arquitetas britânicas, Dame Jane Drew é uma das mais renomadas. Seu interesse pela área começou cedo: quando criança, ela construía objetos usando madeira e tijolos e, mais tarde, estudou arquitetura na Architectural Association. Durante seu tempo como estudante, Drew esteve envolvida na construção do Royal Institute of British Architecture, do qual mais tarde ela se tornou uma sócia ao longo da vida, além de ser a primeira mulher eleita para seu conselho.
Drew foi uma das principais fundadoras do Movimento Moderno na Grã-Bretanha, e tomou uma decisão consciente de usar seu nome de solteira ao longo de sua rica carreira. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela iniciou um escritório de arquitetura totalmente feminino em Londres. Drew empreendeu vários projetos durante esse período, incluindo a conclusão de 11.000 abrigos antiaéreos para crianças em Hackney.
Em 1942, Drew se casou com o famoso arquiteto Maxwell Fry e criou uma parceria que continuaria até sua morte em 1987. Eles construíram extensivamente em todo o mundo após a guerra, incluindo a criação de hospitais, universidades, conjuntos habitacionais e escritórios governamentais em países como Nigéria, Gana e Costa do Marfim. Impressionado com seu trabalho na África, o primeiro-ministro indiano a convidou para projetar a nova capital de Punjab, Chandigarh. Devido à sua contribuição para a arquitetura, Drew recebeu vários diplomas honorários e doutorados de universidades como Harvard e MIT.
5. Lina Bo Bardi (5 de dezembro de 1914 – 20 de março de 1992)
Um dos maiores nomes da arquitetura brasileira, Lina Bo Bardi projetou prédios ousados que mesclaram o modernismo com o populismo. Nascida na Itália, a arquiteta se formou na Faculdade de Arquitetura de Roma em 1939 e se mudou para Milão, onde abriu seu próprio escritório em 1942. Um ano depois, foi convidada a se tornar diretora da revista de arquitetura e design Domus. Bo Bardi se mudou para o Brasil em 1946, onde se naturalizou cinco anos depois.
Em 1947, Bo Bardi é convidada para projetar o Museu de Arte de São Paulo. Este edifício icônico, suspenso sobre uma praça de 70 metros de comprimento, tornou-se um dos museus mais importantes da América Latina. Seus outros projetos incluem a The Glass House, um prédio que ela projetou para ela e seu marido, e o SESC Pompéia, um centro cultural e esportivo.
Bo Bardi fundou a Habitat Magazine em 1950 ao lado de seu marido e foi sua editora até 1953. Na época, a revista era a publicação de arquitetura mais influente do Brasil no pós-guerra. Bo Bardi também instituiu o primeiro curso de desenho industrial do país no Instituto de Arte Contemporânea. Ela morreu em 1992 com muitos projetos inacabados.
6. Norma Merrick Sklarek (15 de abril de 1926 – 6 de fevereiro de 2012)
A vida de Norma Merrick Sklarek como arquiteta foi repleta de pioneirismos. Sklarek foi a primeira mulher negra licenciada como arquiteta em Nova York e na Califórnia, bem como a primeira mulher negra a se tornar membro do Instituto Americano de Arquitetos – e mais tarde eleita membro da organização. Ao longo de sua vida, ela enfrentou uma enorme discriminação, o que torna suas conquistas ainda mais impressionantes.
Sklarek frequentou o Barnard College por um ano, obtendo uma qualificação em artes liberais que lhe permitiria estudar Arquitetura na Columbia University. Ela considerou seu treinamento de arquitetura um desafio, pois muitos de seus colegas de classe já tinham bacharelado ou mestrado. Formou-se em 1950. Em sua busca por trabalho, ela foi rejeitada por 19 empresas. Sobre o tema, ela disse: “eles não estavam contratando mulheres ou afro-americanos e eu não sabia o que estava [trabalhando contra mim]”. Sklarek finalmente conseguiu um emprego de arquitetura na Skidmore Owings & Merrill em 1955.
Com uma personalidade forte e visão intelectual, Sklarek avançou em sua carreira e acabou se tornando diretora da empresa de arquitetura Gruen Associates. Mais tarde, ela se tornou cofundadora da Sklarek Siegel Diamond, a maior empresa de arquitetura exclusiva para mulheres da América. Seus projetos memoráveis incluem o Pacific Design Center, a Prefeitura de San Bernardino na Califórnia, a Embaixada dos Estados Unidos em Tóquio e o LAX Terminal 1. Sklarek, que morreu em 2012, é citada como tendo dito “na arquitetura, eu não tive absolutamente nenhum modelo a seguir. Estou feliz hoje por ser um modelo para os outros que virão”.
MJ Long (31 de julho de 1939 – 3 de setembro de 2018)
Mary Jane “MJ” Long supervisionou os áspectos operacionais do projeto da Biblioteca Britânica ao lado de seu marido, Colin St John Wilson, que muitas vezes recebeu o crédito exclusivo pelo edifício. Nascida em New Jersey, nos Estados Unidos, Long se formou em arquitetura em Yale antes de se mudar para a Inglaterra em 1965, trabalhando com St John Wilson desde o início. Eles se casaram em 1972.
Para além da Biblioteca Britânica, Long também é conhecida por seu escritório, MJ Long Architect, que dirigiu de 1974 a 1996. Durante esse tempo, ela projetou vários estúdios de artistas para pessoas como Peter Blake, Frank Auerbach, Paul Huxley e RB Kitaj. Colaborando com seu amigo Rolfe Kentish em 1994, ela abriu outra empresa chamada Long & Kentish. O primeiro esforço da empresa foi um projeto de biblioteca de £3 milhões para a Brighton University. Long & Kentish passou a projetar edifícios como o National Maritime Museum em Falmouth e o Jewish Museum em Camden. Long morreu em 2018, aos 79 anos. Ela apresentou seu último projeto, a restauração de um estúdio de artistas da Cornualha, três dias antes de sua morte.
8. Dame Zaha Hadid (31 de outubro de 1950 – 31 de março de 2016)
Zaha Hadid (Foto: Invest SEOUL)
Dame Zaha Hadid é, inegavelmente, uma das arquitetas mais bem-sucedidas da história. A arquiteta britânica nascida no Iraque se tornou a primeira mulher a ganhar o Prêmio Pritzker em 2004, concedido a arquitetos vivos que demonstraram comprometimento, talento e visão em seu trabalho. No ano de sua morte prematura, ela foi premiada com a RIBA Gold Medal – o maior prêmio de arquitetura da Grã-Bretanha. Hadid deixou uma fortuna de £67 milhões quando faleceu em 2016.
De centros de lazer a arranha-céus, os edifícios impressionantes da arquiteta ganharam aclamação da crítica em toda a Europa por suas formas orgânicas e fluidas. Ela estudou sua arte na American University of Beirut antes de lançar sua carreira na Architectural Association em Londres. Em 1979, ela havia estabelecido seu próprio escritório.
Entre as estruturas que tornaram o Zaha Hadid Architects um nome conhecido estão o Riverside Museum em Glasgow, o London Aquatics Centre para as Olimpíadas de 2012, a Guangzhou Opera House e a Generali Tower em Milan. Frequentemente referida como um “arquiteta-estrela”, a Time Magazine nomeou Hadid entre as 100 pessoas mais influentes do planeta em 2010. Com o escritório de Hadid continuando seu trabalho, o legado arquitetônico da criadora de tendências permanece vivo cinco anos depois.