Cosimo de Medici (Florença, 27 de setembro de 1389 – Careggi, 1° de agosto de 1464), também era conhecido como o Primeiro, empreendedor financeiro e político que governou Florença durante a maior parte do Renascimento, de 1429 a 1464.
Misto de tiranos e protetores das ciências e das artes, os Medici irradiaram seu poder por toda a Europa entre os séculos XV e XVIII. A família patrocinou gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael. Por causa das conspirações sanguinárias que conturbavam o ambiente político não só em Florença mas em toda a península italiana, a família não descuidava da segurança.
Cosimo foi o responsável pela criação do Corredor Vasariano, é a expressão mais concreta do medo que Cosimo I tinha de um atentado.
Na época, o déspota florentino enfrentava a oposição sistemática de artesãos e comerciantes que haviam sido forçados por ele a colaborar no erguimento do Uffizi, também projetado por Vasari e em fase final de construção. Para dar lugar ao prédio, construído a fim de abrigar as repartições ligadas aos ofícios e ao comércio da cidade, várias casas, lojas e oficinas tiveram de ser derrubadas contra a vontade dos donos. Na nova edificação, todos os negócios de Florença seriam feitos sob a supervisão do governo, que combatia ferozmente a sonegação de impostos.
O arquiteto, pintor e escritor florentino Giorgio Vasari (1511-1574), foi o responsável pelo projeto de um caminho secreto renascentista, o mais secreto caminho da Renascença italiana, serpenteado ao longo de quase 1 quilômetro pelo centro histórico de Florença, o chamado Corredor Vasariano. Projetado em 1565 pelo arquiteto Vasari, a mando de Cosimo de Medici, o corredor é formado por uma série de passagens suspensas, feitas para garantir ao governante florentino um percurso seguro.
Faxina – A construção do corredor teve uma razão suplementar: o casamento de Francesco, filho de Cosimo I, com a princesa Joana, da Áustria. Percebendo que a união com a casa real austríaca lhe proporcionaria uma valiosa aliança na Europa, e que isso poderia despertar a ira de seus desafetos, Cosimo I concedeu um prazo de cinco meses a Vasari para que projetasse e construísse o corredor. Seu desejo era transitar a pé pelo coração de Florença, observando a salvo tudo o que quisesse, sem ser visto ou ameaçado pelo populacho e por seus inimigos.
Para cumprir sua missão a contento, Vasari achou por bem mandar demolir um mercado de carnes, que funcionava na própria Ponte Vecchio, temendo que o cheiro dos animais mortos ofendesse o olfato de seu patrão. Nem tudo, entretanto, ocorreu como Vasari esperava. Depois de cruzar o rio, o corredor teve de fazer uma curva em torno da Torre Manelli, perto da Rua Guicciardini, uma vez que os donos dessa edificação se recusaram terminantemente a ceder seu espaço à obra, apesar de toda a pressão que sofreram. Em seguida, já nas imediações do Palazzo Pitti, o corredor leva à igrejinha de Santa Felicità. Através de uma janela, dali se pode ver uma obra-prima, o retábulo O Sepultamento, de Jacopo Carucci Pontormo (1494-1557), que adorna o altar da capela.
A construção segue desde o palácio da família Medici, o Pitti, na margem direita do Arno, até o Palazzo Vecchio, do outro lado do rio, junto ao gabinete de Cosimo I na Galeria Uffizi, um dos maiores museus do planeta. Vedado aos plebeus nos últimos quatro séculos, o caminho cruza a célebre Ponte Ponte Vecchio.
Além de sua importância arquitetônica e de permitir uma visão ímpar de Florença, a passagem exibe uma formidável pinacoteca. Dona de cerca de 700 quadros, conta com uma coleção de auto-retratos feitos por grandes pintores entre os séculos XVI e XIX, de Tintoretto (1518-1594) e Peter Paul Rubens (1577-1640) a Eugène Delacroix (1798-1863) e James Ensor (1860-1949).
(Fonte: Veja, 13 de janeiro de 1999 – ANO 32 – N° 2 – Edição 1580 – ARTE – Pág: 122/123)