Especialista em armas que acusou o Governo do Reino Unido de manipular dados para justificar a Guerra do Iraque
David Christopher Kelly (14 de maio de 1944 – Oxfordshire, 17 de julho de 2003), cientista, ex-inspetor especialista em armas da ONU e consultor do Ministério da Defesa Britânico, era um microbiologista formado em Oxford que foi conselheiro do Ministério da Defesa Britânico por mais de três anos.
Especialista em controle de armas, trabalhou como inspetor no Iraque de 1991 a 1998.
Ele é apontado como fonte das denúncias de que o governo do primeiro-ministro Tony Blair esquentou relatórios dos serviços secretos para justificar a guerra contra o Iraque.
Kelly era a fonte da reportagem de Andrew Gilligan, jornalista da BBC, que afirmava que o governo havia “manipulado” o dossiê sobre os armamentos do Iraque antes da guerra.
Um dos pontos mais controversos gira em torno da parte do dossiê na qual se afirma que o Iraque poderia dispor de armas de destruição em massa apenas 45 minutos depois de tomada a decisão pelo regime de Saddam Hussein.
Kelly, especialista em armas do Ministério da Defesa, morreu em 17 de julho de 2003, depois de seu nome ser divulgado como fonte de uma polêmica notícia da BBC que acusou o Executivo britânico de exagerar nas provas para justificar a invasão do Iraque.
Agora, o inquérito investiga as circunstâncias envolvendo a morte do cientista.
Rádio 4
Numa reportagem de Gilligan, para o programa Today, da Rádio 4 da BBC, ele afirmou que recebeu de uma fonte secreta a informação de que o gabinete do primeiro-ministro Tony Blair havia pedido que certos dados sobre o Iraque fossem ressaltados no dossiê.
O governo negou e passou a exigir que a BBC se desculpasse pelas informações e divulgasse a identidade da fonte, então mantida no anonimato.
Essas exigências foram rejeitadas e o caso se transformou numa investigação no Parlamento Britânico, que interrogou David Kelly para descobrir se ele era a fonte da reportagem.
Três dias depois do depoimento, o corpo do cientista foi encontrado sem vida perto de sua casa, no condado de Oxfordshire, interior do país.
O barão Hutton de Bresagh, que cuida da investigação sobre a morte e é chamado apenas de Lorde Hutton na Grã-Bretanha, é um dos juízes mais experientes da Grã-Bretanha.
Ele passou boa parte de sua carreira na Irlanda do Norte e se tornou lorde da Justiça em 1997.
Lorde Hutton afirmou que o inquérito deve se concentrar no que Kelly sabia e que participação ele teve na elaboração do dossiê.
Ele vai perguntar ao primeiro-ministro Tony Blair e ao secretário de Defesa Geoff Hoon que conhecimento eles tinham sobre as decisões tomadas em relação a Kelly.
Hoon nega que o cientista tenha sido ameaçado com perda dos direitos de aposentaria.
Jornalistas da BBC, incluindo Gilligan, serão questionados sobre seus encontros com doutor Kelly e sobre como souberam de seu nome.
Já Tony Blair tem negado que houve autorização para liberar o nome de David Kelly para a imprensa.
A BBC diz que interpretou de maneira precisa as informações coletadas durante entrevistas com o especialista em armas.
Também afirmou que resistiu até as últimas conseqüências para não revelar o nome de sua fonte, o que só foi feito pela BBC depois que seu nome foi amplamente divulgado por outros órgãos de imprensa e da morte de David Kelly.
Audiências serão feitas na Corte Real de Justiça de Londres e devem ser abertas ao público, ao não ser que sejam alegados motivos de segurança nacional.
Lorde Hutton vai tentar estabelecer uma linha cronológica sobre tudo o que aconteceu.
Deputado sugere que David Kelly foi assassinado
Um deputado que investigou a morte de David Kelly, afirma que o cientista não se suicidou, mas pode ter sido assassinado.
David Kelly foi encontrado morto perto de sua casa em Oxfordshire.
O cadáver de Kelly foi encontrado no dia seguinte em uma floresta próxima a sua casa em Oxfordshire (sul da Inglaterra), depois de sua família alertar a Polícia sobre o desaparecimento.
A investigação oficial, dirigida pelo juiz Brian Hutton, concluiu em janeiro de 2004 que “o doutor Kelly tirou a própria vida”, e eximiu o Governo do primeiro-ministro Tony Blair, qualificando de infundadas as acusações feitas na notícia da BBC.
Segundo o magistrado, “a principal causa da morte foi o sangramento provocado pela feridas incisivas no punho esquerdo que o doutor Kelly infligiu a si mesmo com uma faca achada perto de seu corpo”.
Baker, que examinou por sua conta durante um ano as circunstâncias da morte do cientista, põe em dúvida a versão do juiz Hutton.
“Estou convencido de que não foi um suicídio. E, dito isto, se chega à conclusão de que outros tiraram sua vida”, afirma o parlamentar, que recebeu a aprovação do líder liberal-democrata, Menzies Campbell, para averiguar o caso.
Na opinião do deputado, os exames médicos “não apóiam de maneira nenhuma” a teoria do suicido, e também não se tratou de “um acidente” ou de um falecimento por “causas naturais”.
Baker qualifica as pesquisas de Hutton de “menos rigorosas” do que o habitual, e diz ter obtido cartas do legista Nicholas Gardiner, que abriu diligências após se encontrar o cadáver de Kelly, que demonstram divergências com os métodos da investigação oficial para determinar o motivo da morte do especialista.
O parlamentar, no entanto, não acha que Blair ou o Governo são “responsáveis” pela morte do cientista, mas considera que ambos trataram Kelly de maneira “vergonhosa” e “cruel” por vazar deliberadamente seu nome à imprensa.
(Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/story/2003/08/03 – NOTÍCIAS – 11 de agosto, 2003)