Desi Arnaz (Santiago de Cuba, 2 de março de 1917 – Del Mar, Califórnia, 2 de dezembro de 1986), ator de origem cubana que viveu o personagem Ricky Ricardo, marido de Lucille Ball, na série I Love Lucy.
Grande êxito de audiência nos Estados Unidos na década de 50, o programa foi apresentado pelo SBT no Brasil.
Desiderio Alberto Arnaz y de Acha III foi marido de Lucille Ball na vida real.
Arnaz e sua esposa Lucille Ball era proprietário da emissora e produtora Desilu Productions, que produziu a série “Os Intocáveis”, uma das mais importantes séries clássicas americanas entre 1959 e 1963.
O primeiro volume da primeira temporada traz os 18 episódios iniciais da série, incluindo o filme piloto exibido no teleteatro Desilu Playhouse. Esse filme foi disponibilizado com a introdução de Desi Arnaz e Walter Winchell, que fazia a narração. Essa introdução foi exibida uma única vez na TV americana, quando da estreia do filme.
Produzida seguindo o estilo documentário, a série apresenta episódios narrados com um texto enchuto no qual somos apresentados aos personagens e à ação. O tom de voz do narrador segue a linha dos noticiários, apresentando de forma seca e direta, a situação em que os personagens estão envolvidos. Esse docudrama (estilo introduzido na TV por Jack Webb com “Dragnet”) tráz personagens reais vivendo aventuras fictícias. A série também foi inovadora para sua época, ao apresentar o universo dos gângsters e do submundo do crime na televisão como enredo principal.
Comparada aos film noir do cinema, a série utilizou-se de cenários e carros dos anos 30. A série era filmada geralmente à noite em função dos problemas de orçamento (especialmente no último ano). Era necessário poupar a iluminação, o que proporcionou um visual mais introspectivo e sombrio.
“Os Intocáveis” teve como base a autobiografia do agente especial Eliot Ness (1903-1957). Com um total 118 episódios, mais o piloto, a produção marcou a história da TV americana.
No final dos anos 50 a TV nos EUA estava recheada de faroestes e sitcoms. Somente nessa década, foram 148 sitcoms e 30 faroestes. O sucesso dos bangue-bangues televisivos estava justamente na mistura de ação, comédia, drama e aventura que atraíam as crianças e os adultos. No entanto, ela estava repleta do que foi classificado na época, de cenas violentas. Traduzindo: muito tiroteio e mortes e comportamentos violentos. Então, para completar, estreou “Os Intocáveis”, a responsável em provocar a revolta dos telespectadores mais preocupados com o nível de violência na televisão. Foi o sucesso do filme e posteriormente da série, que fez com que o Federal Communications Comission – FCC, estipulasse novas regras e exigisse a diminuição da violência na televisão.
Até a estreia na TV, poucos tinham ouvido falar de Eliot Ness e, provavelmente, ele ficaria esquecido na história americana, ofuscado pela fama de Al Capone. Este sim, todos já tinham ouvido falar. O sucesso dos filmes de gângsters produzidos para o cinema nos anos 40, e retomados no final dos anos 50, fez com que a televisão começasse a pensar na possibilidade, …quem sabe…, talvez fosse uma boa ideia uma série que levasse os gângsters para a TV. Não que isso nunca tivesse sido feito. Mas, com “Os Intocáveis”, série teria personagens fixos representando o submundo do crime, vistos em pé de igualdade aos mocinhos.
Nenhuma emissora ou produtora se interessou pelo projeto. A não ser a Desilu Productions, de propriedade de Desi Arnaz e sua esposa Lucille Ball, que já tinha produzido “I Love Lucy” e a qual ainda viria a produzir séries como “Jornada nas Estrelas” e “Missão: Impossível”. Lançada dentro do teleteatro Desilu Playhouse, o piloto de duas partes, mostra a captura de Al Capone pelo agente Eliot Ness e sua equipe. Também é aqui que vemos a imprensa americana batizar o grupo de “Intocáveis”. O nome é uma referência ao fato de que eles eram incorruptíveis, algo comum entre policiais e representantes do governo na época.
A princípio, Desi Arnaz não gostou da ideia. Ele tinha como regra nunca produzir histórias que abordassem maus-tratos infantis, adultério ou violência (física ou psicológica). Ele estava de férias quando decidiram produzir o filme e, ao voltar, teve que ser convencido. Quem o convenceu não foi nenhum executivo ou agente de publicidade, mas a própria autobiografia publicada por Eliot Ness em 1957. Assim, ele comprou os direitos de produção.
A dificuldade em transpôr para a telinha da época a história sobre a captura de Al Capone, com perseguições e a produção de cenários diversos, fez com que o orçamento de 300 mil dólares fosse ultrapassado e o roteiro reescrito inúmeras vezes. O piloto chegou à 500 mil dólares, isso porque Desi decidiu dar um tratamento cinematográfico para a produção, filmando, inclusive, em widescreen para que pudesse ser exibido nos cinemas Europeus.
Entre os atores que foram cogitados para interpretar Ness estão Van Heflin, Van Johnson, Alan Ladd, James Arness e Fred MacMurray. A maioria recusou com medo de trabalhar na TV. Foi então que encontraram Robert Stack, que levou 13 horas para ser convencido a trabalhar em uma série de televisão. Só conseguiram porque Desi ofereceu a Stack a co-produção do piloto (e da série caso ela chegasse a existir), 7.500 dólares por episódio, 10 mil dólares pelo piloto e mais 25% dos lucros da série. Assim, a produção teve início.
Al Capone (Neville Brand), sai da cadeia para onde foi levado sob a acusação de porte de arma. Novamente no comando de seu império, ele descobre que tem de enfrentar uma nova equipe organizada pelo promotor público Beecher Asbury (Frank Wilcox). Formado por Ness (Stack), o grupo, escolhido a dedo pelo agente, tem total liberdade para agir em nome da lei com o objetivo de prender Capone de uma vez por todas. Este, por sua vez, ordena o sequestro da noiva de Ness, mata um informante do agente e coloca sua cabeça a prêmio. Após muita correria e ação, Ness e seu grupo descobrem uma forma de prender Capone: ele deve ao imposto de renda!
Você pode matar, violentar, subornar, contrabandear, sequestrar e outras coisas mais, mas nunca, jamais, fique devendo ao imposto de renda!!
A produção do piloto ficou a cargo de um jovem desconhecido na época chamado Quinn Martin. Mais tarde, ele viria a produzir séries como “Os Invasores”, “O Fugitivo, “São Francisco Urgente”, “F.B.I.” e muitas outras, quase todas no estilo narrativo de documentário. A primeira parte do piloto teve uma audiência de 31.8%. Entusiasmado, Desi anunciou a produção da série antes mesmo da segunda parte ir ao ar na semana seguinte. O sucesso também provocou uma corrida dos grandes estúdios à porta da pequena Desilu Productions, com a oferta de distribuir a produção no cinemas americanos (além do europeu). Mas foi a própria Desilu que lançou o filme, agora rebatizado de “The Scarface Mob”.
No final de 1959, ano de estréia da série, a irmã de Al Capone, Mafalda Maritote, entrou com um processo contra a Desilu e a rede CBS que exibiu o piloto, além da Westinghouse que era uma das patrocinadoras. No processo, Maritote alegou que o nome e a personalidade do irmão tinham sido usadas sem seu consentimento. A Desilu e as demais citadas ganharam a ação.
Seis meses após a produção do piloto, a série entrou na grade de programação da rede ABC, criando animosidades entre a CBS e a Desilu. Todos os carros foram alugados do ator e diretor Jack Webb. Cada automóvel custava 500 dólares e precisava ser reformado quando avariado. A série inicia com Frank Nitti (Bruce Gordon) assumindo o posto de Capone. Apesar dos personagens, mocinhos e bandidos, serem reais, as histórias eram fictícias. Isso porque, na vida real, o grupo dos Intocáveis somente existiu para capturar Capone. Após sua prisão, ele foi dissolvido.
A série teve vários problemas de produção. Para começar, em manter o elenco fixo intacto. As mudanças ocorreram desde os integrantes do grupo de intocáveis, até chegar ao ator Bruce Gordon que saiu após a primeira temporada porque estava cansado em ser confundido com bandido. Em entrevistas na época, Gordon disse que sempre que entrava em um banco, as pessoas ficavam com medo e o gerente ameaçava chamar a polícia!
A decisão da Desilu em produzir uma série com base em personagens verídicos mas com histórias fictícias gerou uma onda de crítica por parte da imprensa, dos próprios envolvidos, ou seus familiares, e de representantes de grupos sociais, como os defensores da moral pública, de grupos étnicos (mais precisamente os italianos), da Secretaria de Segurança Pública e de historiadores.
Na segunda temporada, a série foi novamente alvo de críticas da Força Policial, quando o episódio de estréia “O Grande Trem”, apresentou os policiais como inaptos e adeptos da corrupção. Na vida real, Capone e mais 52 prisioneiros foram transferidos de trem para Alcatraz. Com uma segurança reforçada, a viagem transcorreu sem problemas. Na série, ocorreu uma tentativa de fuga. Eliot Ness e seus homens conseguem evitá-la. Todos os bandidos que intentaram a fuga morrem e os prisioneiros são levados ao presídio de segurança máxima.
Uma queixa foi feita junto à FCC pela Secretaria de Segurança Pública. Assim, a ABC precisou exibir uma aviso no final da segunda parte do episódio, no qual informavam que: “este episódio não retrata os fatos verídicos e não tem a intenção de ofender a integridade do sistema penitenciário americano”.
Mas a série continuou sendo alvo da revolta de vários órgãos públicos e da sociedade. Acusada de promover a violência, o sadismo sexual, mortes sem provocação, morte de vítimas de seqüestro com requintes de crueldade, morte de crianças e cenas de torturas em que aparecem vítimas agonizando, além da revolta dos ítalos-americanos, “Os Intocáveis” precisou manter, em bases permanentes, o aviso sobre ser uma obra de ficção. Com relação aos bandidos, a maioria dos italianos foi substituída por russos ou alemães (ninguém reclamaria naquela época!)
No entanto, já era tarde demais. Os italianos boicotaram os principais patrocinadores da série, Frank Sinatra e Bing Crosby suspenderam suas produções com a Desilu (eles alugavam os estúdios), e Desi Arnaz tornou-se alvo de várias ameaças de morte. Como resposta, a produção enfatizou a presença do agente Enrico Rossi, no grupo dos Intocáveis, além de enfatizar a contribuição italiana à cultura americana. A TV Guide publicou uma matéria encomendada na qual entrevistava a viúva de Ness e, na qual, ela afirmava adorar a série e a forma como ela mostrava a lei sendo cumprida. Mas não era todo mundo que criticava “Os Intocáveis”. Era a série favorita dos gângsters mais famosos de Chicago, agora na prisão, embora achassem ruim serem mostrados sempre como vilões.
Apesar de tudo isso, a série era um sucesso de audiência e a produção mais rentável da Desilu naquele momento. Por isso, ela chegou à sua quarta, e última temporada, com uma nova abordagem. Era enfatizado o lado mais humano de Ness. Na abertura, a imagem de um livro lembrava ao público de que aquela era uma história de ficção.
Mas, nesse ano, 1963, Desi Arnaz foi afastado da diretoria da Produtora em função de seu alcoolismo. Lucille Ball, já divorciada de Desi, assumiu a direção da empresa e cancelou a série. Em seu discurso de posse, a atriz e agora produtora declarou não ter interesse em exaltar bandidos psicóticos, viciados e assassinos, muito menos vangloriar o submundo do crime.
Outro motivo de seu cancelamento pode ter sido as questões financeiras pelas quais Lucy e Desi passavam em função do divórcio. Visto que o produtor somente teria lucro com a série quando ela fosse vendida a canais regionais, a “Os Intocáveis” precisaria ser cancelada para que a venda às reprises pudesse ser realizada.
E assim, “Os Intocáveis” chegou ao fim, entrando para a história da televisão e das séries, gerando lucro à empresa em suas reprises e perpetuando a história de Ness e Capone para futuras gerações.
Arnaz morreu no dia 2 de dezembro de 1986, aos 69 anos, de câncer, na Califórnia, Estados Unidos.
(Fonte: Veja, 10 de dezembro de 1986 - Edição 853 - Datas - Pág; 115)
(Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/ TEMPORADAS – NOVA TEMPORADA/ Por: André Fuentes – 02/02/2008)
(Esta matéria é uma compilação reduzida do texto originalmente publicado na Revista TV Séries nº29).