Dinko Sakic, capitão do Exército croata aliado à Alemanha nazista, entre 1942 e 1944

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Dinko Sakic (8 de setembro de 1921 – Zagreb, 20 de julho de 2008), criminoso de guerra. Como capitão do Exército croata aliado à Alemanha nazista, entre 1942 e 1944, ele comandou o campo de concentração Jasenovac, onde 600 000 pessoas foram mortas. Desde 1947, ele vivia na Argentina. Acusado de ter matado mais de 2 mil sérvios, ciganos e judeus, comandou o campo de concentração de Jasenovac na Croácia durante a II Guerra Mundial. Nunca se arrependeu.

Dinko Ljubomir Sakic, que morreu na noite de domingo, dia 20 de julho de 2008, num hospital de Zagreb onde estava internado sob prisão, era o último comandante ainda vivo de um campo de concentração da II Guerra Mundial (o de Jasenovac, a que chamavam o “Auschwitz dos Balcãs”) e, ao contrário de confrades seus que, a seguir à guerra, protestaram arrependimento ou invocaram circunstâncias atenuantes, continuara até ao fim a orgulhar-se do que tinha feito. Ocupara o posto muito cedo: tinha vinte e um anos e chegara montado num cavalo branco, de uniforme negro e botas luzidias. Na Argentina, para onde fugira como outros nazis alemães e croatas em 1945 e onde vivera sob o seu próprio nome, declarara que se lhe tivessem tornado a dar missão tão honrosa tê-la-ia de novo cumprido.

Extraditado a pedido de Zagrebe, voltara com gosto, pois escapava à extradição para a Sérvia ou Israel onde estas coisas fiam mais fino. Na Croácia saída da dissolução sangrenta da Jugoslávia, o presidente Tudjman, apesar de ter lutado ao lado de Tito contra o Eixo, tornara-se um nacionalista exacerbado, anti-semita e anti-sérvio, para grande apreensão dos trezentos mil sérvios do seu país (que viriam a ser expulsos em 1995 na maior operação de limpeza étnica na ex-Jugoslávia até à dos albaneses do Kosovo, mas, ao contrário desta, nunca corrigida nem punida) e contentamento de patriotas de velha cepa como Sakic, mas americanos e alguns europeus fizeram pressão sobre o novo regime, que a aceitou, porque a Croácia precisava de aceitação internacional. Quando em 1999 um tribunal de Zagrebe acabou por condená-lo a vinte anos de cadeia (o código croata dessa altura não dava para mais), o réu batera as palmas e dera uma gargalhada.

Entre 1941 e 1945 havia sido proclamado ao norte da Jugoslávia o Estado Independente da Croácia, aliado da Alemanha de Hitler, chefiado por Ante Pavelic, que nada ficou a dever em rigor ideológico, moral especial e brutalidade ao exemplo nazi. Firme nas suas convicções, o regime de Zagrebe só se renderia aos Aliados oito dias depois de Berlim; Pavelic fugiu e viria a morrer na paz da Espanha de Franco, em 1959. O nazismo croata tinha especificidade balcânica – além do extermínio de judeus e ciganos, pregava também o de sérvios, com alguma “nuance”: em Julho de 1941, o ministro da Educação e dos Cultos anunciara que um terço destes seria morto, outro terço deportado e o terceiro convertido à força ao catolicismo. Na catedral de Zagrebe, muitos croatas veneram ainda o corpo embalsamado do Aloísio Stepinac, arcebispo que baptizou sérvios no tempo de Pavelic, foi condenado por colaboracionismo a seguir à guerra, feito cardeal por Pio XII em 1952 e beatificado por João Paulo II em 1998.

Apesar de, durante o julgamento, Sakic ter sustentado que tudo se passava na maior legalidade, que o campo não diferia de muitos estabelecimentos prisionais noutras partes do mundo e que, dentro da disciplina necessária, os presos eram bem tratados em Jasenovac, foram dados como provados numerosos casos de maus tratos gratuitos, tortura por pancadaria e lança-chamas e execuções sumárias, praticados sob as suas ordens directas, às vezes de grupos de presos, enforcados depois de fugas de outros, e casos também em que ele próprio matou prisioneiros com a sua pistola – dois por falta de respeito ao comandante do campo: tinham rido a despropósito enquanto ele falava. O tratamento de prisioneiros sérvios por carcereiros croatas durante esses anos indignou os próprios militares alemães, que advertiram Berlim dos excessos. A memória desses excessos explodiu à flor das almas nos confrontos entre sérvios, croatas e muçulmanos da dissolução da República Federal Jugoslava da última década do século XX.

O croata Dinko Sakic morreu convencido de ter honrado os seus penates e cumprido o seu dever – como morrerá o sérvio Radovan Karadzicc, preso na segunda-feira, quando chegar a sua hora. Só a promessa da Europa mantém na região uma paz precária.

Sakic tinha 86 anos e cumpria pena de 20 anos de reclusão por maus tratos, tortura e assassinatos de detentos em campo de concentração. Em 17 de junho de 1998, foi extraditado para a Croácia, vivia em Buenos Aires, na Argentina.

(Fonte: Veja, 24 de junho, 1998 – ANO 31 – N° 25 – Edição n° 1552 – DATAS – Pág; 38)
(Fonte: www.aeiou.expresso.pt – Memória/ Por José Cutileiro – 13 de junho de 2011)

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