Dom Luciano Mendes de Almeida (Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1930 – São Paulo, 27 de agosto de 2006), um grande homem e pastor, arcebispo de Mariana (MG), defensor dos direitos humanos. Ele esteve na linha de frente da Igreja Católica contra os excessos da ditadura militar, foi fundador da Pastoral do Menor, em São Paulo, e presidiu a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de 1987 a 1994, tendo sido também secretário-geral de 1979 a 1987.
Foi vice-presidente do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano)de 1995 a 1998. Dom Luciano escrevia uma coluna publicada aos sábados na Folha de S.Paulo. Natural do Rio de Janeiro, entrou para a ordem religiosa de Santo Inácio (dos jesuítas) e doutorou-se em Filosofia em 1965.
Foi sagrado bispo em maio de 1976, e trabalhou na Arquidiocese de São Paulo, deste ano até 1988. Na arquidiocese de São Paulo, auxiliou Dom Evaristo Arns e organizou abrigos para menores abandonados. Em Minas Gerais, não interrompeu seu trabalho social e dedicou seus últimos anos a percorrer hospitais para socorrer os necessitados. Em 1988, o Vaticano transferiu-o de São Paulo para a diocese mineira, com o intuito de reduzir a influência da esquerda no clero brasileiro. Dom Luciano morreu no dia 27 de agosto de 2006, de falência de múltiplos órgãos, aos 75 anos, de câncer no fígado, em São Paulo.
(Fonte: Veja, 6 de setembro de 2006 ANO 39 N° 35 – Edição n° 1972 Datas Pág; 80)
Dom Luciano Mendes foi, sem dúvidas, um grande personagem na história da Igreja Católica nos últimos quarenta anos. Seu nome, sempre atrelado à opção marcante do Concílio Vaticano II de tornar a Igreja mais próxima da vivência cotidiana dos leigos, está diretamente ligado às transformações da Igreja em toda a América Latina e no Brasil.
Filho de uma família profundamente envolvida com a intelectualidade católica, nasceu em 1930 na cidade do Rio de Janeiro. Ainda jovem entrou para a Companhia de Jesus onde fez seus estudos em filosofia (1951/53) e teologia (1955/58).
Doutorouse, anos mais tarde, em filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1965), mas em uma entrevista recente revelou não ser um bom guia para aqueles que desejam percorrer o Vaticano: de Roma conheci os subúrbios e as cadeias onde estava o povo pobre e sofrido.
Sagrado bispo em 2 de maio de 1976, trabalhou ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns, como bispo auxiliar na região Leste I da Arquidiocese de São Paulo. Mais uma vez a realidade com a qual conviveu foi a de mais absoluta pobreza. Ganhou expressão entre o episcopado brasileiro por um trabalho de destaque junto às populações da periferia que fez nascer a Pastoral do Menor.
Em 1979, o arcebispo tornouse secretário geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e oito anos mais tarde ascendeu à presidência do mesmo organismo.
Conduziu a Igreja em momentos críticos e frágeis, como aqueles no qual a sociedade civil brasileira buscava restabelecer a democracia, construir uma legislação, construir um Estado capaz de pactuar com uma participação cidadã. Foi também membro permanente do Sínodo dos Bispos desde 1987, membro da Pontifícia Comissão de Justiça e Paz desde 1992 e vicepresidente do CELAM (Conselho Episcopal LatinoAmericano) entre os anos de 1995 e 1998.
Teve uma atuação marcante em diversas assembléias e conferências da CNBB e do CELAM, especialmente em Puebla e Santo Domingo.
Na Arquidiocese de Mariana, à qual chegou em 1988, viveu também essa missão de pastorear e conciliar. Podemos dizer que dezoito anos depois da chegada de Dom Luciano, a arquidiocese é outra, tão grande foram as transformações pelas quais passaram cada expressão religiosa do catolicismo marianense. Podemos ainda dizer que o arcebispo colocou a Igreja Católica de Mariana em pauta com os debates e vivências da Igreja em todo o Brasil.
Mas o traço mais marcante é, inequivocamente, o carinho com que se ligou, seja na arquidiocese ou na CNBB, aos movimentos que buscaram transformar a realidade dos mais necessitados.
(Fonte: www.ichs.ufop.br)