Dom Pedro II, o homem que governou o Brasil por mais tempo do que qualquer outra pessoa

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O rei mochileiro

Dom Pedro II (Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 – Paris, 5 de dezembro de 1891), o segundo e último imperador do Brasil, que veio depois de dom Pedro I e antes da princesa Isabel. Pedro de Alcântara, o homem que governou o Brasil por mais tempo do que qualquer outra pessoa, tendo reinado o país durante um período de 58 anos, de 1840 até a proclamação da República, em 1889.

Durante todo esse tempo fez de tudo para se adequar ao padrão de equilíbrio e austeridade do governante perfeito, sempre racional e dedicado aos interesses do país.

Mas, em privado, Pedro de Alcântara passou a detestar cada vez mais as solenidades públicas e viver o exercício do poder como um fardo. É essa figura contraditória, ao mesmo tempo majestática e rebelde, que vai muito além do retrato convencional do imperador imponente, com suas longas barbas brancas e seus penetrantes olhos azuis.

Um homem que oscilava entre a coroa imperial de d. Pedro II e a cartola comum de Pedro de Alcântara. Dando igual atenção a ambas as facetas do monarca, uma personalidade complexa e torturada entre o dever e o desejo, o Estado e as paixões pessoais.

Por um lado, ficamos assim conhecendo a atuação política de um monarca que procurou manter a moderação nas lutas políticas do seu tempo, teve a coragem de preservar a liberdade de imprensa e conduziu o Império à vitória na Guerra do Paraguai. Por outro, vem à tona a figura de um homem tímido, oprimido pelo próprio poder, às vezes inconformado com os sacrifícios pessoais que lhe eram exigidos e, sobretudo, nem sempre capaz de conter suas paixões – como a que por décadas o ligou à preceptora de suas filhas, a condessa de Barral.

O monarca Dom Pedro II é tão opaco como governante, mesmo tendo patrocinado uma guerra violentíssima contra o Paraguai, para depois entregar o país aos generais republicanos.

Esquisitão e nada afeito ao exercício do poder é pouco, como agora começa a ser revelado. Tanto que, em 1876, dom Pedro II deu um jeito de abandonar o reino por dezoito meses.

Partiu para uma viagem por quatro continentes, em que cisitou cerca de 100 cidades. Anotou impressões em diários, que permanecem em grande parte inéditos.

O diário do monarca sobre sua visita ao Líbano, Síria e Palestina. O que aparece no relato é um homem ainda mais despojado do que se supunha. Alguém que, apesar de rei e das facilidades que tal posição costuma oferecer, dormiu em barracas, qual um mochileiro, hospedou-se em hotéis vagabundos, cavalgou por mais de sete horas seguidas, arriscou-se a enfrentar beduínos, frequentou banhos turcos e colecionou suvenires.

A aparente tranquilidade de dom Pedro II durante sua empreitada não refletia a situação do Brasil. O país era uma exceção monarquista em um continente sem reis. Para piorar, o regime escravocata, base econômica do império, começava a se esfacelar.

O movimento abolicionista era ouvido nas ruas e ganhava espaço em jornais. Deixar o poder por tanto tempo nas mãos da inexperiente princesa Isabel, sob a influência do conde d”Eu, talvez fosse arriscado demais. Mesmo assim, dom Pedro II convenceu a Câmara a deixá-lo partir.

Usou como desculpa a conveniência de uma visita oficial aos Estados Unidos, que comemoravam o centenário da independência e sediavam a Exposição Universal – uma grande feira que exibia as novidades tecnológicas produzidas em diversos países.

A exposição era especialmente atraente para dom Pedro II, que se interessava tanto por línguas mortas quanto pelas últimas invenções, um autêntico diletante.

Comitiva gigantesca – Foi justamente o interesse pela história do cristianismo que levou dom Pedro II à Terra Santa. Durante 24 dias, o imperador percorreu cerca de 500 quilômetros a cavalo -numa média de 20 quilômetros por dia. Uma marca impressionante, especialmente quando se leva em conta que o rei se fazia acompanhar de uma comitiva gigantesca, de 200 pessoas.

Providenciar hospedagem, comida, água e segurança para tanta gente no meio do deserto era quase uma operação de guerra. Dom Pedro II também não era mais um jovenzinho aventureiro. Tinha 50 anos e já estava fora de casa havia oito meses.

Mas o espírito aventureiro tinha limites. Mesmo quando teve oportunidade, Dom Pedro II preferiu não encarar histórias das Mil e Uma Noites. Em 16 de novembro de 1876, ele declinou o convite para visitar o harém do emir Abd-el-Kader. Durante as noites, dedicava-se a exercitar seu hebraico traduzindo trechos bíblicos.

(Fonte: Veja, 17 de março de 1999 – ANO 32 – N° 11 – Edição 1589 – HISTÓRIA/ Por Fernando Luna – Pág; 90/91)

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